TriMais aposta no modelo superatacado e estreia com recorde de público na ZN

À frente do negócio está a terceira geração da família fundadora do Andorinha, cuja estratégia é levar preços de atacado com serviços e conveniência de supermercado para as classes C e D da região com a marca SuperAtacado

Karina Lignelli
12/Fev/2025
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TriMais aposta no modelo superatacado e estreia com recorde de público na ZN

O que leva milhares de pessoas, em plena terça-feira, a ficarem pelo menos uma hora na fila sob um sol escaldante, a pé ou 'fritando' dentro do carro, só para fazer compras - e a PM a desviar o trânsito para desafogar a estreita rua Ushikishi Kamiya, região do Jardim Tremembé (Zona Norte da Capital paulista), que não parava de receber gente com sacolas e carrinhos? 

Preços imperdíveis, bom atendimento, sortimento variadíssimo? Ou o simples fato de ser a novidade em uma região escassa de varejo especializado?

Tudo isso junto, e talvez a fama de "conhecer profundamente o consumidor da Zona Norte", segundo o especialista Jean-Paul Rebetez, sócio-diretor da Gouvêa Consulting, é que levou o TriMais SuperAtacado, inaugurado na manhã da última terça, 10/2, a estrear já com público recorde. De acordo com a contagem dos organizadores, cerca de 10 mil visitantes passaram pela loja em seu primeiro dia. 

Comandado pela terceira geração da Família Gouveia, fundadora há mais de 50 anos do Supermercado Andorinha, campeão nacional de faturamento por loja com sua única loja na Vila Nova Cachoeirinha (R$ 874 milhões), de acordo com o ranking anual elaborado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o feito agora se repete com o TriMais.

Com apenas duas unidades na região, nos bairros Lauzane e Tucuruvi, onde o supermercado é acoplado a um shopping, também do grupo, em 2023 o TriMais ficou no Top 5 no mesmo quesito do Andorinha, ocupando o terceiro lugar do ranking da SBVC (R$ 465 milhões).

Ao entrar pelo caminho do atacarejo, no qual investiu R$ 40 milhões de capital próprio, a ideia é explorar o modelo "supermercado+atacado" - daí o nome SuperAtacado, diz o diretor da rede Murilo Gouveia, 42.

Ou seja, misturar o apelo dos preços acessíveis que fez a fama dos estabelecimentos da família com sua expertise em supermercados, oferecendo serviços "de balcão" como confeitaria, padaria e até peixaria, com espaço para montar sua própria barca de sushi e sashimi. E também um hortifruti robusto, além de produtos para consumo imediato na rotisserie e no restaurante. 

"Primeiro nós somos supermercadistas, então aqui nessa loja você vai encontrar todas essas características. E para que a gente pudesse atender o volume de estoque necessário (do modelo atacado), nós tivemos que verticalizar. Por isso a mistura dos dois conceitos", afirma ele, que comanda o novo empreendimento ao lado do irmão Rafael, 38. 

Com grandes números, que fazem caber 8 mil SKUs, 42 checkouts, 400 vagas de estacionamento e 600 funcionários em 9 mil m² de área, o foco do SuperAtacado são os moradores e pequenos comerciantes do bairro, popularmente chamado de Furnas por conta da subestação que fica nas proximidades, além de consumidores das regiões vizinhas. 

Rafael (esq.) e Murilo Gouveia: nascidos e criados dentro da loja (Foto: Karina Lignelli)


Sem grandes redes por perto para lhe fazer sombra, o SuperAtacado TriMais chega praticamente sozinho para tentar suprir a oferta de "serviços de qualidade e produtos diferenciados", além de "estar mais próximo da comunidade local e dos clientes", segundo Murilo, sendo que mais de 50% deles estão nas classes C e D.

A exceção é o supermercado Ourinhos, tradicional na região, que fica a cerca de dez minutos da nova unidade. E não por acaso, tem laços com a família Gouveia, pois nasceu onde ela se estabeleceu.

"Hoje esse conceito começa a ser explorado por todos os atacados: você vê o Atacadão, o Assaí, o Mufatto tentando fazer isso... mas nós já temos tudo na essência porque somos originalmente supermercadistas", acredita.  

A receita que vem passando de geração a geração da família (e que teve origem com o português Thomaz Gouveia Netto, fundador do Andorinha, em 1974), promete continuar a dar certo: enquanto o faturamento médio por m2 das redes de supermercado em geral é de R$ 48 mil, nos estabelecimentos da família é de R$ 130 mil (inclui os Bergamini, da família da avó de Murilo, Cecília). Um "fenômeno" segundo Rebetez, da empresa do grupo Gouvêa Ecossystem. 

Se por um lado há um movimento de perda de velocidade nas grandes redes nacionais de atacarejo com mais de 500 unidades - que deram uma certa "barrigadinha" em 2024, diz -, a presença regional, em cidades ou bairros, ainda tem espaço para crescer.

"Talvez para um Assaí, um Atacadão, não vale levar toda uma infraestrutura logística para plantar apenas um supermercado nessas localidades. Se não tiver rede de abastecimento local enraizada é dificílimo", afirma. "Já o pioneirismo, o conhecimento do público local e o relacionamento próximo com fornecedores do entorno é a vantagem de grupos como o TriMais."

Sendo o TriMais uma S/A de capital fechado, e com apenas um investidor (Pedro Cerize, da Skopos Investimentos), a expectativa com o novo SuperAtacado é continuar a crescer dois dígitos. Em 2023 foram 22%, e em 2024 os números ainda não foram fechados, mas devem seguir a mesma linha, diz Murilo. "O Super vai representar um terço desse crescimento", prevê.

FIDELIDADE MÚTUA

São "cinco dias com 500 ofertas imperdíveis" (de 11 a 15/02), que vão de limão a R$ 0,99 o quilo, até cestos de roupas por R$ 19,90, onipresentes nos carrinhos dos consumidores que saíam carregados de compras da inauguração do TriMais SuperAtacado na manhã de terça-feira. 

Mas as amigas Adriana Porto, confeiteira, e Luciana Almeida, dona de casa, moradoras do Tucuruvi e clientes do supermercado TriMais do mesmo bairro, foram logo cedo no primeiro dia prestigiar a novidade. "Os preços são muito convidativos, e decidimos unir o útil ao agradável porque viemos comprar coisas que precisamos pela atratividade do preço", disse Luciana. 

Já Adriana, que conta que as duas têm o costume de fazer compra juntas, pegou um panfleto de ofertas e logo chamou a amiga para ir ao SuperAtacado. Quando viu as filas intermináveis, cujo fluxo os funcionários interrompiam de tempos em tempos, só para deixar sair uma leva de clientes antes de liberar outra, quase desistiu. 

"Eu falei pra ela: 'não vou pegar essa fila toda não!' Mas quando eu vi que a qualidade e os preços eram os mesmos, achei que valia a pena", completou.  

Detalhe do setor de hortifruti: preços 'atrativos', como o quilo do limão a R$ 0,99


Além de levar "o novo" para a região para "praticar preços excelentes", conforme diz, Murilo Gouveia acredita que esse sucesso de visitação se deve ao fato de os consumidores poderem desfrutar do ambiente. "Hoje atendi uma senhora que disse que mora na região desde 1957, nasceu aqui num sítio. Abrimos às 8 horas, mas ela falou assim: 'cheguei aqui 7h30 da manhã, e eu vim cedo porque sei que vocês são daqui faz tempo, e por isso iam apresentar alguma coisa diferente para a gente'." 

Todo esse apreço e a fidelidade dos consumidores da Zona Norte pelos supermercados da família só acontece, segundo Murilo, por um diferencial: a escola de aprendizado que começou com o avô Thomaz e foi passando para a família. 

Ou seja, que segue a seguinte filosofia para levar os negócios adiante: tratar os clientes como gostaria de ser tratado. Inclusive os fornecedores: tem que desenvolver relacionamento, e não só uma relação compra-e-vende.

"Todos os irmãos da minha avó que trabalharam com meu avô abriram o próprio mercado (o Bergamini). Comparando com o Andorinha (o pioneiro), a diferença no trato é mínima, às vezes só adaptada", conta. "Eu nasci e fui criado dentro da loja. Por isso, para nós, para o meu pai, é a mesma escola, a visão é a mesma", afirma.  

Após o falecimento do avô, em 1993, o pai e os tios de Murilo deram continuidade ao negócio, que se consolidou. Mas em 2015 seu pai saiu da sociedade, e fundou o Bergamais com os filhos, que mudou de nome para TriMais Lauzane em 2019. 

Perguntado se há perspectivas de abrir novas unidades, Murilo afirma que sim. Mas sempre na Zona Norte, onde tem um público fiel, onde a família se instalou vinda de Martinópolis na década de 1960, e montou o primeiro negócio onde fica o Ourinhos.

"Isso representa muito, fomos todos criados na região. Acompanhamos desde sempre como ela foi crescendo, e agora surgiu a oportunidade de estar aqui com esse público que temos no coração, porque nascemos juntos. Aqui há um grande potencial. Nosso negócio, nossa família, é da Zona Norte, então vamos sempre olhar pra cá."

Fazendo um paralelo com o avanço do atacado para atacarejo, que saiu do modelo de lojas com grandes volumes e prateleiras altíssimas, quase sem produtos frescos e com um olhar voltado para o 'transformador' (dogueiro, pipoqueiro, mercadinhos), Jean-Paul Rebetez lembra que as mudanças e dificuldades econômicas fizeram os atacadistas perceberem que as famílias buscavam outras coisas. E passaram a incrementar o mix com produtos também encontrados em super e hipermercados. 

"Tudo foi mudando, por isso temos aí o Atacadão, o Assaí, outras marcas regionais, como o Spani, e agora o próprio TriMais, que entenderam que as famílias de classe média e renda apertada também poderiam aproveitar essa oportunidade."

Seguir essa linha customer centric (conceito de varejo de 'cliente no centro'), só que aplicada exclusivamente aos consumidores da 'ZN', confirma que a Família Gouveia conhece muito profundamente a região onde atua, assim como os consumidores que nasceram ali. E, por isso, consegue se blindar, reforça.

Essa é a 'pimenta', o diferencial do grupo, afirma Rebetez: a Zona Norte de São Paulo é quase uma ilha, diferente de Pinheiros, Vila Madalena ou a Zona Leste, que são regiões frequentadas por gente de todo lugar. E tem uma característica muito dela, que não é só do Andorinha, mas do Mocotó do Rodrigo Oliveira, do TriMais...

"É o pioneirismo, é a execução primorosa no ponto de venda e um profundo conhecimento local que ajudaram a conquistar esse público e trouxeram essas marcas para o sucesso", finaliza. 

 

IMAGENS: Pissinato Films         *Atualizado às 11h55

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