Terceira via: Simone Tebet e Doria podem seguir candidaturas independentes
Em debate na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a senadora disse que se o ex-governador melar decisão dos partidos de centro-direita, seguirá em voo solo
A senadora Simone Tebet tenta se consolidar como a candidata da terceira via em meio a uma disputa extremamente polarizada entre Lula e Bolsonaro pela presidência da República. A pré-candidata pelo MDB, a única mulher na corrida pelo Planalto, precisa antes trazer para o seu lado o PSDB de João Doria, que disputa com ela essa candidatura alternativa.
Na terça-feira (17/05), os partidos de centro-direita que tentam unificar a chamada terceira via (PSDB, MDB e Cidadania) recebem o resultado de uma pesquisa que irá mostrar o potencial de Simone e Doria nessa disputa interna. A expectativa é que as siglas se unam em torno do nome vencedor, mas nada é tido como certo nesse bloco.
Nesta segunda-feira, 16/05, na abertura dos debates com presidenciáveis organizado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a senadora sugeriu que pode haver racha.
“Eu vou jogar dentro das regras, mas se eu vencer a disputa e ele [Doria] não aceitar ou judicializar o resultado, eu sigo com a minha candidatura com ou sem a frente democrática [partidos de centro-direita]”, disse a senadora.
O ex-governador de São Paulo já rejeitou publicamente ser vice de Simone. A senadora, por sua vez, garante que se perder a disputa interna estará no palanque de Doria para fortalecer a terceira via. “Não venho para dividir, mas somar. A única coisa que em uma democracia não se pode permitir é a falta de alternativas. Não pode haver somente duas opções, e vou jogar em qualquer posição para tirar o país da anomia institucional”, disse a pré-candidata.
AS PROPOSTAS DA PRÉ-CANDIDATA
Caso sua candidatura emplaque, Simone deve escorar suas propostas em uma agenda desenvolvimentista. Seu plano de governo é previsto para ser lançado no próximo mês, mas no debate com empresários na ACSP ela indicou que pretende tratar como prioridade a recriação do ministério do Planejamento e Orçamento.
“O governo não sabe onde quer chegar nem como quer chegar. O orçamento é mal distribuído. E quando a boa política não aparece, a má política preenche o espaço”, disse a pré-candidata. “A partir da organização do orçamento, podemos falar das reformas administrativa e tributária”, complementou.
No caso da reforma tributária, Simone diz que sua proposta fica em um meio de caminho entre a PEC 45 e a 110, que tramitam no Congresso. Ambas buscam a simplificação do sistema com a unificação de impostos, mas, segundo tributaristas, tendem a elevar a tributação sobre o setor de Serviços. A emedebista garante que está atenta a essa questão.
Simone disse que o trabalho pela aprovação da reforma tributária precisa começar ainda este ano. “Sou favorável à aprovação da reforma na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] e no plenário do Senado este ano, porque na Câmara vai depender de 30 sessões. A aprovação não termina este ano, mas o próximo governo ganha no mínimo um ano”, afirmou.
A reforma tributária, segundo a pré-candidata, precisa ser precedida por um novo pacto federativo, que aumente o orçamento dos municípios.
Outro pilar de sua proposta de governo é o combate à pobreza. “Temos duas linhas de frente. A imediata é a transferência de renda permanente. Se tem dinheiro para orçamento secreto, tem para os programas [sociais]. Em paralelo, quero garantir que todas as crianças estejam no ensino infantil e, no ensino médio, que tenham acesso ao estudo profissionalizante.”
O meio ambiente também deve ter lugar de destaque em seu plano de governo. Simone tem defendido uma agenda de desenvolvimento envolvendo tecnologia e produtividade.
Segundo a senadora, nesse ponto o país estaria no caminho certo, mas tem dificuldade para transmitir uma imagem positiva no exterior. “Nosso agronegócio é sustentável, desmatamos pouco para produzir. O problema real está na Amazônia legal, onde o governo quer regulamentar grileiros, garimpo, e isso prejudica a imagem do agronegócio como um todo”, disse.
A solução para separar os problemas existentes na Amazônia Legal do restante do agronegócio passaria, segundo os planos da presidenciável, pelo fortalecimento do ministério das Relações Exteriores.
OS JABUTIS E A INSEGURANÇA JURÍDICA
Enquanto as atenções estão concentradas nas eleições que vão definir o governo para os próximos quatro anos, problemas emergenciais passam despercebidos. Simone apontou pautas-bomba tramitando no Congresso, com potencial para implodir o orçamento.
Entre elas a senadora citou a Medida Provisória (MP) que trata da capitalização da Eletrobras. Segundo a parlamentar, um jabuti (como são chamadas propostas inseridas em matérias legislativas que não têm ligação com o texto original) colocado nesta MP prevê a construção de termelétricas no Nordeste a um custo de R$ 100 bilhões.
“É algo para atender os interesses de meia dúzia de usineiros em uma região em que não há gasoduto. Ou seja, teremos que fazer esse gasoduto com dinheiro público”, disse Simone.
Outra pauta-bomba citada pela parlamentar foi a aprovação da chamada PEC do Calote (PEC dos Precatórios), que autoriza o adiamento por dez anos dos pagamentos de parte das dívidas da União já reconhecidas pela Justiça.
“A PEC foi aprovada para abrir espaço fiscal simplesmente para fazer populismo, para abrir espaço para orçamento secreto, dinheiro que não sei para onde vai”, disse a senadora.
Segundo ela, iniciativas controversas como essas, envolvendo articulação do governo e parlamentares, causam insegurança jurídica no país, que já convive com a insegurança institucional provocada pela guerra de forças entre poderes.
“A insegurança leva aos 'puxadinhos' para resolver os problemas do país e, o mais grave, leva à insegurança social”, disse.
IMAGEM: Gabriel Daniele/ACSP