Tarcísio: 'A degradação do Centro só interessa ao PCC'
Nova sede da Secretaria de Justiça e Cidadania será o Palácio dos Campos Elíseos, local que ocupará a partir de setembro. Segundo o governador, objetivo é marcar território para coibir ação do crime organizado
A primeira ação do Governo de São Paulo para começar a ocupar a região Central da Capital Paulista será a transferência da sede da Secretaria de Justiça e Cidadania do Páteo do Colégio, no Centro Histórico, para o Palácio dos Campos Elíseos, região da Cracolândia, no Centro expandido, agora no mês de setembro. O objetivo é coibir a ação do crime organizado no local, disse o governador Tarcísio de Freitas no evento de anúncio do projeto vencedor do novo Centro Administrativo do governo, realizado na segunda-feira (26).
"Meu primeiro 'cliente' será a Secretaria de Justiça e Cidadania, que vai para o Palácio (dos Campos Elíseos). Nós vamos começar a mudança já, a partir do mês que vem, e nada melhor do que a Secretaria mais antiga e mais tradicional de todas para ocupar, na vanguarda, essa parte do Centro de São Paulo."
"É uma tomada de posse territorial simbólica, mas que não é pela polícia, e sim pela justiça e cidadania", reforçou o secretário de Projetos Estratégicos Guilherme Afif Domingos, idealizador do projeto que prevê levar o Centro Administrativo do governo para a região central.
O Museu das Favelas, hoje presente no espaço, será deslocado para o Páteo do Colégio, para dar lugar à sede administrativa da pasta.
A desestabilização do ecossistema criminoso, segundo Tarcísio, prevê também uma PPP (parceria público-privada) para construir moradias - 6 mil, no total, sendo 55% de interesse social, ou seja, para pessoas de baixa renda. "Não adianta levar só o Centro Administrativo, vamos levar habitação para reocupar a região", disse.
Após a operação policial realizada no início de agosto, que fechou 44 estabelecimentos comerciais como hotéis, restaurantes e pousadas que movimentavam milhões de reais por ano em esquema de pirâmide, segundo Tarcísio, será realizada outra "tomada de posse" para mudar sua destinação.
Para isso, a atuação da Secretaria da Justiça na região deve ajudar a agilizar judicialmente o processo de perdimento desses imóveis, para transformá-los. O que pode ser retrofit, será, assim como o hotel que era ponto de receptação de drogas e vai virar residência ou habitação popular. E o que não tiver finalidade, dará espaço aos equipamentos públicos.
"Vamos repor tudo, pois não vamos permitir a perpetuação desse esquema de degradação do Centro. Essa degradação só interessa ao PCC", afirmou.
Além de Secretaria da Justiça e Cidadania no Palácio, o governo prevê a construção de 12 prédios na região dos Campos Eliseos para receber o gabinete do governador, e mais 28 secretarias, promovendo a desocupação de 800 mil m² de área, das atuais instalações no Morumbi e espalhadas pelo Centro, para 220 mil m² da nova sede.
A estimativa da gestão também é que 230 imóveis sejam desapropriados para a construção do novo Centro Administrativo. O Terminal Princesa Isabel também será realocado, mas ainda sem definição.
'NOVO CENTRO ADMINISTRATIVO VAI DESMORALIZAR O PCC'
Durante o anúncio, Tarcísio afirmou que a cracolândia é utilizada pelo PCC para desvalorizar os imóveis da região, transformando as propriedades em estruturas do crime organizado, como prostíbulos, pontos de venda de armas, drogas e ferros-velhos, entre outros.
Ao levar o Centro Administrativo para a região dos Campos Elíseos, entorno do Parque Princesa Isabel e para a região hoje conhecida como favela do Moinho, área onde a organização criminosa mantém um bunker de drogas e antenas que monitoram as conversas da polícia, o governo pretende "desmoralizar" o poder do PCC na cracolândia.
“Entendemos essas ações criminosas, entendemos que o problema não é o fluxo de dependentes químicos, mas sim o que alimenta esse fluxo, o ecossistema”, comentou o governador, que enxerga que a "degradação do Centro Histórico é benéfica apenas para o PCC".
Além dessas iniciativas para combater o esquema, Tarcísio deixou claro que é preciso aumentar os canais de atendimento aos dependentes químicos, com tratamento adequado de saúde e moradia, até mesmo transformando as propriedades utilizadas pelos criminosos em habitações de interesse social para a população vulnerável.
De acordo com o governador, com o aumento do policiamento na região central, houve uma diminuição de 60% nos roubos e furtos no local, evidenciando que "o Centro não está abandonado".
PROJETO VENCEDOR
O Governo do Estado de São Paulo anunciou ainda que o escritório de arquitetura Ópera Quatro será o responsável pelo projeto do novo Centro Administrativo. Outras 45 propostas foram analisadas. Antes da concessão, o projeto vencedor passará por audiências públicas no primeiro semestre de 2025. A realização do leilão para fomentar a PPP é prevista para o segundo semestre do ano que vem.
O projeto, de acordo com Pablo Chakur, sócio do Ópera Quatro, tem como premissa a diversidade, compacidade, densidade e qualidade do espaço. Segundo ele, a nova sede administrativa vai gerar mais segurança em toda a região.
Com um investimento de R$ 4 bilhões, o governo paulista enxerga o novo Centro Administrativo como um catalisador de investimentos para a região central, atraindo novamente a população e os comerciantes.
Fazendo coro ao prefeito Ricardo Nunes, Tarcísio agradeceu Roberto Mateus Ordine, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que esteve presente ao evento, pela parceria nas ações em prol da revitalização do Centro Histórico por meio do movimento #VEMPROCENTRO.
"A instalação do Centro Administrativo do Governo do Estado no bairro dos Campos Elíseos trará o impulso necessário para revitalizar a região. Isso resultará em mais comércios, maior circulação de pessoas e em aquecimento da economia local, transformando o Centro em um espaço para todos", afirmou Ordine.
IMAGEM: Mônica Andrade/Governo do Estado de SP