Shein e Shopee garantem que nacionalização das vendas é prioridade
Raul Jacob, diretor de Marketing da Shein, diz que a varejista pretende chegar em 2026 com 85% das vendas em seu marketplace realizadas por vendedores brasileiros, e que para isso está em contato com confecções do Brás
A presença dos marketplaces chineses está cada vez mais forte no mercado brasileiro. Durante o evento Digitail Conference, promovido pela Gouvêa Experience, na semana passada, as empresas Shopee e Shein revelaram que suas operações no Brasil caminham para que mais transações sejam efetuadas internamente. Isso significa uma escalada importante na busca por reduzir o domínio do Mercado Livre no país.
Atualmente, 90% das transações realizadas dentro do aplicativo da Shopee são nacionais, de vendedores brasileiros para clientes brasileiros. Rodrigo Farah, head de Branding e Live Commerce da Shopee, contou que essa era uma meta da companhia, que foi alcançada em março deste ano.
A plataforma tem hoje 3 milhões de empreendedores e lojistas no País cadastrados, sendo que 90% têm CNPJ. Além disso, a empresa emprega diretamente mais de 10 mil colaboradores em território nacional.
“Desde que chegou ao Brasil, em 2020, a empresa asiática sempre teve um foco local como meta. A Shopee passou e continua passando por um processo de nacionalização bem importante. Hoje, 203 milhões de pessoas entram no nosso aplicativo por mês. Isso dá, hipoteticamente, um terço da população brasileira como usuários únicos logados, o que torna a Shopee o aplicativo de compras mais acessado do Brasil”, disse Farah.
O executivo revela que são mais de 600 lojas oficiais de grandes marcas vendendo na plataforma, como Nintendo, Disney, Hering, Havaianas, entre outras, além do micro, do pequeno e do médio empreendedor.
Já na Shein, a meta de nacionalização é chegar em 2026 com 85% das vendas realizadas por vendedores brasileiros. Hoje, essa marca é de 55%, segundo Raul Jacob, diretor de Marketing da Shein, que também palestrou na Digitail Conference.
Em dados já divulgados pela companhia, a marca fez um investimento inicial de R$ 750 milhões e pretende chegar a 2 mil fábricas parceiras até 2026. Desde o anúncio da operação local, em abril de 2023, a marca conta com cerca de 330 fábricas parceiras em 12 estados.
Para atuar no marketplace, Farah explicou que a Shein começou a fazer visitas off-line no Brás, onde há uma grande concentração de CNPJs de confecções ativos. “Mostramos aos atacadistas que era possível manter o atacado e também vender com a Shein. Depois dos primeiros casos de sucesso, conseguimos convencer cada vez mais lojistas.”
A Shein tem um modelo de negócios baseado em produção de pequena escala e não atua com grandes estoques. A marca Shein produz pequenos lotes de roupas, com cerca de 100 a 200 peças, que são anunciados no e-commerce. Caso as peças tenham demanda por parte dos consumidores, novas encomendas são realizadas aos fornecedores.
ESTRATÉGIAS
Para alcançar a meta de 85% de nacionalização, Jacob revelou que a Shein está expandindo a operação para mais cinco estados. “No começo do ano, chegamos ao Rio de Janeiro e agora desembarcamos em Minas Gerais. Até o fim deste ano, estaremos no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Na prática, queremos levar a logística para os locais onde os vendedores estão e oferecer o mesmo nível de entrega e eficiência dos pontos onde já operamos”, afirmou.
Atualmente, a Shein opera com três frentes de negócio: o marketplace, a produção local, isto é, marcas Shein feitas no Brasil, e a importação de produtos. Mas o foco é 100% no marketplace e na produção local, de acordo com o executivo.
“O marketplace já representa o maior faturamento da Shein no Brasil. Isso porque conseguimos rodar uma operação aqui com a mesma qualidade que temos na importação. Isso comprova que temos um poder de nacionalização muito forte. É só mais um passo para ter uma empresa 100% brasileira”, contou Jacob.
Já a Shopee continua com uma estratégia de marketing agressiva, sem nenhuma redução de recursos para este ano. O foco é conseguir cada vez mais usuários mensais para a plataforma e uma das principais estratégias para isso, segundo Farah, é fazer live commerce combinada com marketing de afiliados.
Atualmente, a plataforma tem 2 milhões de cadastrados e uma novidade lançada em 2024 foi a liberação do botão de live para os afiliados, com melhor comissionamento para aqueles que indicarem produtos em suas lives.
O uso deste recurso é embasado em números de sucesso alcançados na China. Lá, Farah disse que US$ 562 bilhões do faturamento da Shopee, em 2023, vieram de live commerce e a projeção é de que atinja US$ 843 bilhões no próximo ano.
“Aqui no Brasil, em 2023, fazíamos por volta de 10 lives por dia e passamos para 250 em 2024. É uma boa estratégia que aproxima quem vende dos compradores. Nossas pesquisas mostraram que os vendedores que fazem lives vendem cinco vezes mais e ampliam o número de seguidores. Agora no dia 6 de junho, iremos transmitir as lives também pelo canal da Bandeirantes”, disse o executivo da Shopee.
Dentro das lives, a Shopee possui games que atraem mais de 8 milhões de usuários por dia, onde os clientes ganham descontos e moedas para trocar por cupons. “São atrativos que levam os consumidores a ficarem mais tempo navegando pelo aplicativo.”
TAXAÇÕES
Em meio às discussões sobre isenções tributárias de compras feitas no exterior com valores até US$ 50 (cerca de R$ 256), as plataformas do setor de importados - que seriam as mais afetadas pela mudança - apresentaram um crescimento em abril, segundo o Relatório Setores do E-commerce, da Conversion.
Os importados hoje representam 7% do total de acessos de todas as plataformas on-line. Em abril, foram 170,6 milhões de visitas únicas, o que representa um aumento de 0,9% em comparação a março.
Shein e Aliexpress, juntas, somam 139 milhões de acessos — ou seja, representam 82% dos acessos no setor de importados.
Para a Shopee, Farah revelou que a taxação sobre produtos importados não irá impactar o negócio. “A Shopee é a favor de qualquer medida que ajude e auxilie o vendedorismo brasileiro. Se a gente for ver na prática, a taxação vai impactar 10% ou menos de 10% das nossas vendas”, comentou sobre o assunto durante o Digitail Conference.
IMAGENS: Gouvêa Ecosystem/divulgação