Roupa importada chega a quase 20% do consumo nacional

Participação em volume de peças, que era de 13,4% em 2017, subiu para 18,5% em 2022. Se considerar o que chega ao país por meio de plataformas, como a Shein, percentual atinge 23%, de acordo com o IEMI – Inteligência de Mercado

Fátima Fernandes
03/Mai/2023
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Roupa importada chega a quase 20% do consumo nacional

Não é de hoje que o setor de vestuário reclama de competição desigual com peças importadas de países asiáticos, especialmente da China.

Alguns produtos chineses, de acordo com representantes de confecções, chegam ao país com preços até menores do que os custos de produção no mercado brasileiro.

A vinda da plataforma chinesa Shein ao Brasil, que faturou por aqui cerca de R$ 8 bilhões somente em 2022, é considerada mais uma objeção para quem fabrica e vende no país.

Faz sentido tanta reclamação quando se discute a competição com roupas da China? Se sim ou se não, o fato é que a participação de roupas importadas no consumo interno está crescendo.

Em 2017, as peças importadas representavam 13,4% do consumo nacional. Em 2019, este percentual pulou para 14,5% e, no ano passado, para 18,5%.

Os dados fazem parte de um estudo sobre a indústria e o varejo de vestuário que acaba de ser concluído pelo IEMI – Inteligência de Mercado, que estuda há décadas o setor.

No ano passado, foram importadas 1,16 bilhão de peças, 43,5% mais do que em 2021 (810,7 milhões), de acordo com o levantamento. Na comparação com 2017, o salto é de 28,2%.

Vale lembrar que as importações feitas por meio da plataforma chinesa, de acordo com Marcelo Prado, diretor do IEMI, não estão consideradas nos percentuais do estudo.

“O que constam nos números do levantamento são as importações regulares, feitas por canais tradicionais, com recolhimento de Imposto de Importação e outros tributos”, diz.

Os 18,5% que correspondem à participação dos importados no consumo nacional de vestuário, diz, sobem para 22% a 23%, considerando o que entra no país com valores abaixo de US$ 50.

“A ameaça dos importados sempre foi perigosa para o Brasil, principalmente da China. Agora o setor enfrenta ainda o movimento B2C da Shein, com conexão direta pelo canal verde”, diz.

Este canal indica o desembaraço automático do bem importado. Quando o produto passa por ele é sinal de que está dispensado de verificação de documentos e impostos.

 

PRODUÇÃO

A produção nacional de vestuário, como consequência, está em queda. Em 2022, a produção de 5,14 bilhões de peças caiu 5,8% na comparação com a de 2021 (5,46 bilhões de peças).

Em relação a 2019, a queda foi ainda maior, de 13,4%, de acordo com o IEMI. Como consequência, o pessoal ocupado caiu quase 15%, na comparação com 2017. 

Nem todos os dados do estudo, porém, são negativos para o setor. Uma das boas notícias é que subiu 7,9% o número de fabricantes de roupas no país, para 19.535, em 2022.

Este número vinha caindo pelo menos desde 2017, quando o Brasil registrava 22.692 unidades produtivas, recuando a 18.088 unidades em 2021.

Para Prado, a reação no número de fabricantes, em 2022, está focada em micro e pequenas empresas que surgiram, principalmente, diante de um mercado de trabalho mais restrito.

No ano passado, de acordo com o IEMI, o país registrou 1.450 novas empresas no setor, em sua maioria com até 20 empregados e faturamento entre R$ 100 mil e R$ 150 mil por mês.

O estado de São Paulo detém 23,3% da produção nacional de roupas, seguido de Santa Catarina, com 22%, e Minas Gerais, com 9,9%.

O Estado de Santa Catarina, de acordo com o diretor do IEMI, deve superar a fabricação de vestuário de São Paulo em dois ou três anos.

Empresas como Hering, Malwee, Marisol, Fakini Malhas, Rovitex, Brandili, Kyly, diz, são algumas das confecções que se destacam no Estado catarinense.

VAREJO

O varejo brasileiro de vestuário movimentou cerca de R$ 266 bilhões no ano passado, de acordo com o estudo, dos quais R$ 21,1 bilhões correspondem ao e-commerce.

Foram 6,27 bilhões de peças vendidas, 2,7% mais do que em 2021, mas 2,8% menos do que em 2019 (6,45 bilhões de unidades).

Assim como no caso das unidades produtivas, o número de pontos de venda do setor também subiu no ano passado em relação a 2021, de 130,2 mil para 133,2 mil.

Na comparação com 2017, porém, há uma queda de 10,6%, ano em que o varejo brasileiro de roupas registrou 149,1 mil pontos de venda.

O movimento de aumento de lojas em 2022 já era esperado, de acordo com Prado, com a diminuição de casos mais graves da covid-19 e a volta das pessoas às ruas e ao trabalho.

“Este é um movimento que deve se manter em 2023, apesar de ser um ano difícil para repasses de custos, além dos problemas que atingem as empresas maiores”, diz.

Desde o início do ano, pelo menos quatro empresas do varejo - Americanas, Marisa, Tok & Stok e Centauro - já anunciaram que enfrentam problemas financeiros.

Para Prado, novas surpresas virão por aí, num cenário de inflação e juros em alta, crédito mais restrito e mais caro para as empresas e de dificuldade para realizar aumento de preços.

“Deve ser um ano complexo. Ainda há muitas armadilhas no meio do caminho”, afirma.

No primeiro bimestre deste ano, diz, alguns dados são até positivos. A produção da indústria do vestuário subiu entre 2% e 3%, na comparação com igual período do ano passado.

Isso significa, de acordo com ele, que o varejo apostou “um pouco mais” nas vendas, especialmente para a coleção outono-inverno que chega para os consumidores.

“Agora, é uma expectativa que pode virar, depende de clima e de desempenho de datas comemorativas. Pode até ser um ano melhor que 2022, mas nada de muito maravilhoso.”

Nelson Tranquez, diretor da Loony, uma das confecções mais tradicionais do Bom Retiro, especializada em jeans, diz que aos poucos a produção começa a crescer.

“Depois da pandemia do novo coronavírus as empresas têm de buscar novo ponto de equilíbrio, pois o mercado mudou muito. Existe recuperação, mas nada de estrondoso”, diz.

De acordo com Tranquez, que também é diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro (CDL), as confecções precisam ter “diferenciais e preços interessantes” para competir.

No caso da Loony, afirma, não há preocupação com importados da China, pelo menos por enquanto. “Na verdade, essa competição já existe há anos.”

 

IMAGEM: Freepik

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