Quintais para brincar... e para lucrar
Negócios cobram em média R$ 50 por hora para receber crianças em espaços lúdicos que incentivam atividades ao ar livre com café, wi-fi e coworking para pais que se dividem entre os filhos e o trabalho
A experiência de ter vivido meses de isolamento social transformou o jeito de trabalhar, estudar, consumir, morar e também de brincar.
Fechadas em apartamentos, especialmente, em grandes capitais, como São Paulo, as crianças viveram o último ano interagindo de forma digital. Aulas de música, ballet, idiomas, assim como a grade curricular foram vivenciadas na sala de casa, supervisionada por pais, avós e cuidadores.
Esse cenário reforçou uma tendência que já vinha em curso, os quintais brincantes - com uma pegada de casa de vó, eles apresentam ambientes abertos, lúdicos e livres para exploração, pé no chão e, principalmente, contato com a natureza.
Iniciado há cerca de três anos num movimento tímido, o modelo pegou carona na pandemia e não para de crescer. Considerado um dos pioneiros nesse nicho, o mamusca abriu as portas em 2013, para receber crianças a partir de três meses.
Para os pequenos, a intenção é despertar sensações, colocando-os em contato com texturas, cores e cheiros, além de estimulá-los sem brincadeiras dirigidas como costuma ocorrer em espaços de recreação. Também há programação para adultos - curso de cerâmica, massagem, yoga, ginástica pós-parto e por aí vai.
Há oito anos no mercado, o negócio foi evoluindo e hoje, conta com pedagogos, psicólogos, atores, educadores físicos e artistas plásticos - especialistas que atuam na estimulação cognitiva de crianças e adultos, por meio de oficinas, cursos de culinária e histórias contadas.
A sede do Mamusca, em Pinheiros, tem área para oficinas, parede para pintura, pomar, horta, um quintal coberto por areia. Na tabela de preços, além das horas avulsas, é possível fechar pacotes mensais. Uma vez por semana pode custar R$ 340 e duas vezes, R$ 680.
Há também um café e um restaurante. Nos finais de semana, a casa pode ser reservada para festas abrindo espaço para mais uma fonte de receita para o empreendimento fundado pela publicitária Elisa Roorda.
Em cidades como São Paulo, um dos obstáculos para se criar esse tipo de negócio está na dificuldade de se encontrar espaços que tenham estrutura compatível com as idealizações desse formato.
O Mamusca foi construído do zero e teve investimento de R$ 3 milhões, entre compra do terreno, construção do imóvel e aquisição da mobília, além do pagamento de funcionários nos primeiros meses.
Mas há potencial para investimentos de menor valor, sobretudo em tempos de crise. A inauguração do No Quintal do Limoeiro, em Barueri, demandou R$ 25 mil. Aberta no térreo de uma livraria, a unidade reformulou os fundos de uma casa antiga e abriu espaço para gramado, tanque de pedra e areia, além de reaproveitar móveis doados por famílias conhecidas.
Funcionando desde fevereiro deste ano, serão injetados mais R$ 60 mil até o final do ano para melhorias, como a construção de um coworking e uma brinquedoteca com peças de madeira.
A casa recebe em média 25 crianças por dia, sendo 80% delas de planos mensais e 20% de horas avulsas. Os preços partem de R$ 50 por hora com variação para pacotes.
“Como todo negócio, exige investimento diário, mas também captamos clientes durante o ano todo. Todos em busca de contato social e espaços ao ar livre", diz Lara Ramos, idealizadora do projeto.
A experiência do primeiro ano de atividades do No Quintal do Limoeiro, segundo Lara, mostra que o início do período letivo incentiva a procura por atividades extracurriculares, ao passo que nas férias os pais também precisam de uma alternativa para conciliar os cuidados com os filhos e trabalho.
Em períodos de férias, as diárias sobem. Parcerias com músicos e contadores de histórias, por exemplo, elevam em até 30% o valor cobrado por criança e costumam gerar lista de espera no negócio.
Essa tem sido a estratégia usada pela empresária também para lotar a casa aos finais de semana e conseguir receita extra para as reformas que planeja, já que, inicialmente, não estava nos planos funcionar aos sábados e domingos.
Em Campinas, no interior de São Paulo, o Quintal Borboletá também abriu as portas em meio à pandemia. Desde junho desse ano, a idealizadora do Borboletá, Rubia Zamariao, gere uma casa de brincar com quintal, casinha na árvore, tanque de areia, sala para bebês, um espaço com brinquedos não estruturados e um coworking.
Advogada e mãe de dois filhos, queria empreender e decidiu colocar no mercado uma nova marca. Foram dois anos de pesquisa e planejamento para entender a viabilidade do negócio que, basicamente, não tem concorrência na cidade.
Hoje, em período de transição entre o trabalho formal e o papel de empreendedora, Rubia divide o espaço com outras duas empreendedoras responsáveis por um café e uma livraria no espaço.
Para brincar no espaço, os pacotes mensais variam de R$ 170 a R$ 1.080 e para horas avulsas, os preços partem de R$ 35.
Em São Paulo, o modelo de negócio também já começa a atrair escolas que buscam parcerias com essas casas de brincar. A expansão da opção do período integral das escolas e a falta de opção de atividades fora do currículo geram novas oportunidades para um nicho que se fortalece cada vez mais.
FOTOS: Borboletá/Divulgação