PT reúne público bem inferior aos atos de domingo
Lula adota em seu discurso em São Paulo tom conciliatório em manifestação pró-Dilma. Datafolha calculou 95 mil pessoas na Avenida Paulista ante 500 mil no protesto contra o governo
A manifestação da avenida Paulista foi a maior entre as convocadas nesta sexta-feira para todo o país. Ainda assim reuniu somente 95 mil pessoas, de acordo com o instituto Datafolha.
No domingo passado (13/03), o mesmo local estava com 500 mil manifestantes, segundo o Datafolha, ou 1,4 milhão, de acordo com a PM, que nesta sexta-feira calculou apenas 80 mil presentes.
O ex-presidente Lula, o mais aguardado dos oradores, adotou um tom conciliatório, mencionando o slogan "Lula, Paz e Amor", com que se elegeu pela primeira vez ao Planalto, em 2002, e que procurou substituir a agressividade militante pela imagem de conciliação e diálogo.
Criticou os que pedem a saída de Dilma e afirmou que gostaria no futuro de "dialogar aqui na Paulista" com todos os que hoje saem às ruas em manifestações pelo impeachment.
Lula disse que aceitou assumir a Casa Civil do Planalto atendendo a um pedido da presidente, e que fará de tudo para ajudá-la a superar a atual crise.
Poucas horas após deixar o palanque, no entanto, o ministro Gilmar Mendes, do STF, suspendia a nomeação do ex-presidente como ministro chefe da Casa Civil.
"Há tempo suficiente para a gente virar a história desse país", disse ele. "Esse país precisa voltar a crescer, tem que ter uma sociedade harmônica, que democracia é a convivência da diversidade".
Em seu discurso, ele não atacou o juiz Sérgio Moro nem se referiu de maneira crítica ou pejorativa à Operação Lava Jato.
A atitude conciliadora representou um contraponto ao conteúdo das gravações divulgadas esta semana, em que transparecia um Lula prepotente e enfezado porque acreditava ser perseguido, e mesmo grosseiro no linguajar empregado contra adversários políticos e com o Judiciário.
No palanque da avenida Paulista o ex-presidente se esforçou para negar esse conjunto de atributos arrogantes e negativos.
Em todo o país, atos públicos em favor do PT, de Dilma e de Lula reuniram 275 mil pessoas, segundo cálculos das PMs dos Estados. Os organizadores afirmavam, por sua vez, que compareceram 1,3 milhão de pessoas.
Por volta das 16h circulou insistentemente nas redes sociais uma foto que retratava a avenida Paulista quase inteiramente lotada. O detalhe, no entanto, é que se tratava do registro de uma das manifestações de 2015.
Era possível notar o engano -muitas vezes proposital - pelo estágio em que se encontrava a pintura do teto do Masp, o museu localizado na avenida Paulista, marcado como ponto de encontro da manifestação desta sexta.
Para o cientista político Márcio Coimbra, coordenador do MBA Relações Institucionais do Ibmec no Distrito Federal, “a mobilização foi menor do que o que o governo precisava”.
Coimbra destaca que circularam na internet fotos de manifestantes chegando em ônibus e de organizadores distribuindo lanches. “Isso enfraquece o valor popular do evento”, avalia. “Parece que as pessoas foram para rua por causa de incentivos.”
Segundo ele, as manifestações de foram diferentes, por exemplo, dos protestos espontâneos contra o governo que ocorreram na quarta-feira (16/03), após a indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil.
O ato contou com a participação de movimentos sociais e sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Sindicato dos Bancários de São Paulo, e partidos de esquerda, como o próprio PT, o PCdoB e o PCO.
O público se concentrou no trecho da avenida que vai da Rua da Consolação até a Avenida Brigadeiro Luis Antônio. A Polícia Militar ainda não divulgou estimativa de público.
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As pessoas que participaram do ato vestiam, predominantemente, camisas vermelhas e exibiam cartazes com frase de apoio a Dilma e Lula. Muitas seguram balões vermelhos e balançam bandeiras de movimentos sociais e sindicatos.
O ato foi comandado por líderes dos movimentos que estão em cima de um caminhão posicionado em frente ao Parque Trianon. Eles discursam com palavras em favor da democracia e afirmam que não haverá golpe.
Os discursos foram intercalados com músicas de artistas brasileiros, como "Metamorfose ambulante", de Raul Seixas. Uma enorme faixa branca estava estendida na Avenida Paulista com a frase "Em defesa da democracia".
OUTROS ESTADOS
A manifestação pró-governo, marcada em Brasília por movimentos sociais, começou por volta das 17h e ocupou toda a calçada entre o Museu Nacional da República e a Biblioteca Nacional, um dos primeiros prédios da Esplanada dos Ministérios. Gilberto Carvalho, ex-ministro da secretaria-geral da República, e a deputada federal Érika Kokay (PT-DF) fizeram discursos inflamados contra o processo de impeachment.
Além do carro de som onde ocorrem discursos, havia um trio elétrico com apresentações musicais. Os organizadores já falaram na presença de 15 mil pessoas. Segundo a Polícia Militar, até às 19h, haviam entre 2,5 mil e 3 mil pessoas. Diferentemente de ontem, não foi registrado qualquer incidente, apenas apreensões de materiais que pudessem oferecer risco.
Na Praça XV, no Rio de Janeiro, a manifestação contra o impeachment, organizada pela Frente Brasil Popular e movimentos sociais e entidades, como a CUT e a UNE, reuniu 2 mil pessoas por volta das 17h, segundo a Polícia. Havia faixas e bandeiras pedindo a saída do deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara.
Já em Salvador, a Polícia Militar calculou em mais de 50 mil pessoas os participantes do ato favorável ao governo. "Não vai ter golpe" é uma das frases mais repetidas nas vozes e cartazes.
*Com informações de Estadão Conteúdo e Agência Brasil
FOTO: Juca Varella/Agência Brasil