Ocupados em SP atinge recorde de 24,6 milhões no 2º tri. Comércio é destaque
No estado, o setor totalizou 4,4 milhões de postos, alta de 4% em relação a igual período de 2023
São Paulo atingiu, no segundo trimestre, o maior número de ocupados para o período na série histórica, iniciada em 2012. O estado tem 24,6 milhões de pessoas ocupadas, crescimento anual de 2,7% (649 mil), com expansão de 4,2% no emprego com carteira assinada no setor privado (acréscimo de 454 mil). E o número de desempregados é o segundo menor na série, perdendo apenas para o segundo trimestre de 2014, embora sejam volumes equivalentes (1,674 milhão agora e 1,658 milhão). Além disso, nos últimos dez anos, é a primeira vez em que o número fica abaixo de 2 milhões. Comércio e áreas ligadas aos serviços sustentam esse movimento. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o mercado de trabalho e foram divulgados na quinta-feira (15).
A queda anual no número de desempregados (ou desocupados) em São Paulo é de 17,6%, superior à média nacional (-12,7%). Já a taxa média de desocupação no estado (6,4%) é menor do que a do país (6,9%). Há um ano, a taxa paulista era de 7,8% e a do país, de 8%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. A pesquisa do IBGE mostra o movimento positivo está lasterado no comércio. No estado, a ocupação no segmento (que inclui reparação de veículos) cresceu 4% em relação a igual período de 2023. São 170 mil pessoas a mais em um ano, totalizando 4,4 milhões. A ocupação fica praticamente estável na indústria (-0,3%) e na construção (+0,9%).
Na comparação com 2012, início da série, a ocupação no comércio paulista aumenta 16,7%, também acima da média nacional (14,9%). São 633 mil ocupados a mais. O estado concentra 24% do total de ocupados no país – em termos nacionais, esse contingente atingiu nível também recorde (101,8 milhões) no trimestre encerrado em junho. O lado negativo é que boa parte está na informalidade. Em São Paulo do total de ocupados, 31,2% estão na informalidade, mas ainda abaixo da média nacional (38,6%). Essa taxa é calculada considerando, principalmente, empregados no setor privado e no serviço doméstico sem carteira assinada, além daqueles que trabalham por conta própria e sem CNPJ.
Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, há uma “difusão bastante elevada” do movimento de melhora do mercado. “O crescimento da população ocupada, ou seja, daquela que efetivamente está trabalhando, tem como um dos reflexos a redução importante do contingente de pessoas que procuram trabalho há mais de dois anos”, disse a analista. Segundo ela, o crescimento da demanda por trabalhadores em várias atividades, como comércio e serviços de baixa ou alta complexidade, tem contribuído para a retração desse tempo de procura. No segundo trimestre, a quantidade de pessoas que procuram emprego há dois anos ou mais caiu 17,3%, a maior redução porcentual entre os que estão em busca de trabalho. Esse contingente é de 1,7 milhão, o menor para o período desde 2015.
AQUECIMENTO
O presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon) de São Paulo, Pedro Afonso Gomes, salienta que a perspectiva é de resultados ainda melhores. “Esse movimento faz com que a produção industrial e agrícola comece a aumentar, necessitando de mais trabalhadores”, disse. De acordo com ele, ao mesmo tempo, o comércio e os serviços também são aquecidos. Gomes destaca, ainda, que deverá haver “avanço significativo” até o final deste ano. “Considerando os investimentos que estão vindo de fora do país e a organização econômica que está implementada, o cenário será ainda melhor em 2025.”
Para os especialistas, esses resultados são consequência do aquecimento do mercado de trabalho, reflexo da atividade econômica no país. Economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Ulisses Ruiz de Gamboa reforça que, no caso do estado de São Paulo, isso também está refletido na criação de empregos formais. “De acordo com o Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados], São Paulo foi o estado que mais gerou empregos formais em junho”, disse Gamboa. Produzido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Caged reúne registros sobre carteira assinada. Já a Pnad Contínua, do IBGE, inclui também ou informais. O economista da ACSP observa que, no atual momento, os números do IBGE e do MTE estão coincidindo. “Em termos de geração de empregos no comércio, isso também repercute de alguma forma os dados do Caged”, afirmou Gamboa. “A economia brasileira ainda está aquecida.”
Para o consultor Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), acrescenta que três fatores explicam o recorde de emprego nos serviços e no comércio: PIB, abertura de negócios e renda. Segundo ele, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), elaborado pelo Banco Central (BC) e considerado uma prévia do desempenho do PIB, está no patamar mais alto da série – subiu 1,6% nos últimos 12 meses e 2,1% apenas este ano. O segundo fator é o empreendedorismo: foram abertas mais de 67 mil empresas na capital paulista este ano. “O terceiro foi um aumento na massa salarial que se reflete numa demanda maior de bens e serviços, aumentando a demanda de mão de obra e o emprego”, afirmou Troster.
A renda também é um ponto destacado por Alexandre Loloian, economista da Fundação Seade (vinculada à Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo). “Os rendimentos estavam contidos, e houve um começo de recuperação no ano passado”, disse. “Além disso, a contenção da inflação, a política de valorização do salário mínimo e os programas de transferência de renda turbinaram o comércio, que estava estagnado desde 2022.” Em relação ao consumo, Loloian cita como exemplo o setor de supermercados. De acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), também do IBGE, o volume de vendas em hiper e supermercados cresceu 6,6% no ano (até junho) e 5,7% em 12 meses.
É um período de “enorme dinamismo” do mercado de trabalho, acrescenta José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos. “Não somente o desemprego beira patamares nunca vistos, como também é possível analisar que o crescimento da população ocupada tem superado o da força de trabalho, ambas as séries em suas máximas históricas”, afirmou. Para ele, o que mais chama atenção nesse contexto é a menor participação da informalidade diante do crescimento da população ocupada. Na comparação com 2022, quando a taxa de desocupação também estava próxima dos 7%, essa contribuição para a ocupação se dava pela retomada de profissões informais afetadas pela pandemia.
Para Alfaix, “vemos hoje a criação de vagas com carteira assinada dominarem completamente o cenário, com o setor privado sendo o principal gerador de postos de trabalho”. O economista avalia esse comportamento em um contexto de inflação controlada e juros elevados. “A política fiscal pró-cíclica do governo e a ampla injeção de liquidez observada desde 2023 atuam na direção contrária da política monetária restritiva”, afirmou. “Assim, continuamos a observar o consumo e a produção resilientes, além de maior dinamismo no mercado de trabalho, especialmente nos setores de maior pujança, como o comércio.”
IMAGEM: Paulo Pampolin/DC