O que querem as Indie Brands?
Com uma pegada independente e inovadora, marcas como a brasileira Simple Organic (na foto) atendem a pequenos nichos e atraem consumidores que se opõem ao consumo de massa
Modismo ou tendência surge mais um fenômeno no cenário de consumo: as Indie Brands ou marcas independentes. O termo passou a representar uma nova geração de empreendedores –mais progressistas, criativos e sem medo de arriscar.
São empreendedores que estão aproveitando o avanço da tecnologia e as mudanças de comportamento para romper barreiras que empresas tradicionais enfrentam para crescer.
Ou seja, elas estão construindo o seu próprio caminho e não recorrem a processos e métodos de gestão convencionais. São marcas que nascem com propósito e características muito bem definidas, de alta produtividade e com grande influência digital.
É justamente, esse tipo de abordagem que agrada consumidores que buscam uma alternativa para marcas de mercado de massa.
No fim de 2018, a BOX 1824, agência especializada em pesquisa de tendências, desenvolveu um estudo sobre o novo comportamento da Geração Y (nascidos entre 1980 e 1995). Nele, foram apontadas dez tendências comportamentais de consumo – entre eles, está o comportamento indie.
A CARA DAS INDIES
Em geral, boa parte dessas empresas se concentra no mercado de cosméticos. Em 2015, a esteticista americana Jillian Wright criou a Indie Beauty Expo, em Nova York, com o objetivo de reunir o que havia de melhor nesse mercado e impulsionar pequenas marcas.
Em apenas três anos, o evento ganhou edições em Los Angeles, Dallas, Londres e Berlim. Na edição de 2017, a Simple Organic, sediada em Florianópolis (SC) foi a primeira marca brasileira a participar da Indie Beauty Expo.
Na ocasião, a empresa concorreu com outras 200 empresas canadenses, americanas e australianas, e recebeu o prêmio de melhor hidratante facial com o produto Blending Facial.
Fundadora da marca, Patrícia Lima é publicitária e durante anos trabalhou para o ramo de moda, além de editar a revista independente Catarina. Há cinco anos, quando engravidou da primeira filha e começou a amamentar, deixou de usar maquiagem química.
“Minha filha passava a mão no meu rosto e a levava direto para a boca. Foi aí que comecei a pesquisar marcas de cosméticos naturais”, diz.
Mas a publicitária não se identificou com o que encontrou. Enquanto pesquisava, Patrícia mergulhou num universo sustentável, com produtos orgânicos e veganos.
Em pouco tempo, percebeu que além de ser consumidora, Patrícia queria empreender na área. ”Ajudei a construir um mundo de consumo no qual eu não queria mais viver”.
Durante um ano pesquisou sobre o tema e, numa viagem a Califórnia, nos Estados Unidos, se encantou com as Indie Brands locais – as quais ela mesma define, como simples, modernas e eficazes.
De volta ao Brasil, iniciou os primeiros contatos com uma fábrica em Milão, na Itália, que produz a maioria dos cosméticos orgânicos e que possui uma filial no Brasil.
Depois de dois anos, veio a primeira leva da Simple Organic -15 mil itens que de acordo com o plano de negócios, seriam vendidos em seis meses. E então, veio a surpresa: o estoque se esgotou em apenas 45 dias, vendido pelo e-commerce da marca.
Hoje, são mais de 80 produtos, sete lojas físicas – outras três serão inauguradas nas próximas semanas e mais dez até o fim de 2019. A unidade de São Paulo abrirá as portas em abril, e segundo Patrícia, será mais que um ponto de vendas e sim, um ponto de encontro de ativismo.
“Essa é outra característica desse conceito. Temos propósito e posicionamento, inclusive político, e vamos falar sobre isso”.
AS INDIES PELO MUNDO
Para tirar do papel o sonho de criar uma linha de produtos de cuidados com a pele, a chinesa Victoria Tsai se dividiu entre quatro empregos, vendeu o carro e o próprio anel de noivado.
Foi viajando a trabalho pela Ásia que Victoria foi parar no Japão, onde foi apresentada às gueixas que na opinião da empresária, apresentavam uma pele bonita e natural. Curiosa sobre os cuidados estéticos das asiáticas, a empreendedora aprendeu uma série de rituais de beleza japoneses do século 19.
Victoria teve a ajuda de cientistas japoneses para desenvolver e testar formulações com ingredientes como proteínas de seda, chá verde e farelo de arroz.
Hoje, a Tatcha, marca fundada por Victoria, abastece grandes varejistas dos Estados Unidos, como Sephora e Barneys. Mesmo disputando mercado com grandes nomes, como a L´Oreal, a Tatcha, está entre as empresas privadas que mais crescem nos Estados Unidos.
Ainda assim, a empreendedora consegue manter uma operação enxuta. São cinco pessoas no Japão e outras três em San Francisco que trabalham em formulações, testes e desenvolvimento de produtos.
Há três anos, Maryna Kracht lançou a Mahalo Skin Care, no Havaí. Com uma proposta bem artesanal, a prioridade de Maryna era lançar mão de ingredientes de qualidade, como o óleo de tamanu com propriedades anti-inflamatórias que promovem o crescimento celular.
Com a ajuda de apenas quatro funcionários, ela desenvolve suas próprias fórmulas e trabalha com ingredientes orgânicos, fornecedores locais do Havaí, e produz seus próprios destilados, como a água de rosas.
Desde o lançamento, a Mahalo passou de um pequeno laboratório caseiro para uma instalação de 1,2 mil metros quadrados.
Todas essas caracteristicas fazem da Simple Organic, Mahalo e Tatcha verdadeiras Indie Brands. A percepção de que tudo é feito com muito mais cuidado nessas pequenas marcas de startups faz com que as pessoas se sintam bem em gastar seu dinheiro com elas.
Nas palavras de Patrícia, o consumo passa por um momento de transição em que as pessoas estão mais preocupadas com o que comem e em como preenchem seu tempo, e invariavelmente, isso as levará a um segundo questionamento sobre o que elas estão usando no corpo.
“O consumidor está cansado de ser manipulado pela mídia e pelas marcas. A diferença entre as Indies e as grandes marcas está no poder que temos em nos movimentar rapidamente em benefício do consumidor”, diz Patrícia.
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