Memórias de 32: o legado vivo de Carlos de Souza Nazareth

Há 84 anos, o então presidente da Associação Comercial de São Paulo (à direita na foto), um jovem de 33 anos, assumia um papel protagonista na Revolução Constitucionalista

Redação DC
09/Jul/2016
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Memórias de 32: o legado vivo de Carlos de Souza Nazareth

“A trincheira de 32, foi a pia batismal da Democracia em nossa terra”. A definição do poeta e jornalista Paulo Bonfim reflete com dramática sensibilidade o que representou para o Brasil a Revolução Constitucionalista de 1932, que comemora 84 anos neste sábado, 9 de Julho.

Inferiorizados no confronto com o exército do governo federal sob a presidência de Getúlio Vargas, com seus 350 mil homens, 24 aviões e 250 canhões, os 55 mil voluntários paulistas, armados com equipamentos obsoletos, espingardas, fuzis descalibrados e garruchas, honraram a bandeira de 13 listras de São Paulo.

Não obtiveram êxito em derrotar as forças de Getúlio, mas plantaram com o movimento a semente que deu frutos dois anos depois, com a promulgação da Constituição de 1934.

Os quase dois anos que separaram a queda da Velha República e a eclosão da Revolução Constitucionalista tiveram o Brasil manietado pelas decisões de um governo provisório que operava sem uma Constituição.

Em outras palavras, havíamos caído no hiato em que os bem-pensantes negociavam e decidiam o que seria conveniente para os Estados e suas populações. Não precisavam se nortear por conjuntos de princípios que só uma Constituição fixaria.

A indignação dos paulistas com os desmandos do governo Vargas, que já era grande, ficou insustentável no dia 23 de maio de 1932.

Grupos formados por populares e estudantes, ansiando por liberdade, realizaram passeatas e comícios e invadiram a sede da Legião Revolucionária, entidade favorável ao governo, localizada nas proximidades da Praça da República.

Os manifestantes foram recebidos à bala por membros da legião. Houve conflito generalizado pelas ruas do centro. No final, uma tragédia que acirraria definitivamente os ânimos. Quatro jovens estudantes foram mortos: Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Camargo de Andrade. Outro estudante, Orlando de Oliveira Alvarenga, ficou gravemente ferido e, meses depois, morreu.

Os assassinatos de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo deram origem à sigla M.M.D.C, que se tornaria símbolo do levante contra o governo.

Centenas de soldados paulistas perderam a vida nas batalhas, que tiveram início dia 9 de Julho. No início, o movimento contou com a adesão de Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso. Seus governantes, descontentes com a gestão autoritária de Vargas, prometeram apoio, que jamais se materializou.

MEMORABILIA DO MOVIMENTO DE 32 EXIBIDA NO INSTITUTO DE ENGENHARIA

O que se consumavam mesmo eram as ameaças do governo. Vargas utilizou o rádio, o veículo de comunicação mais potente da época, para avisar que tinha ao seu lado a Marinha e a guarnição do Rio de Janeiro para enfrentar os que clamavam pela Assembleia Nacional Constituinte.

Foi quando emergiu a força de aglutinação da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). A entidade estabeleceu um plano de ação para dar apoio à revolução, alimentando o ideal revolucionário por meio de discursos e manifestos, além de atuar como protagonista na formação do Exército Constitucionalista, sendo responsável pelo controle da receita e despesa da Revolução e da prestação de contas junto ao Tesouro.

Jovem determinado, Carlos de Souza Nazareth, recém-eleito presidente da ACSP, assumia, aos 33 anos um papel de protagonismo no maior movimento cívico armado do século 20 vivenciado no país.

Sem o treinamento e aparato técnico das forças à disposição do ditador Vargas, os combatentes paulistas pró-Constituinte necessitavam de todo o tipo de ajuda. Foi quando a ACSP liderou coletas de dinheiro para a compra de capacetes de aço para os soldados paulistas que lutavam no campo de batalha.

Empresários paulistas aderiram à campanha de arrecadação de fundos. Distintivos com a frase “Pela Lei e Pela Ordem” passaram a ser vendidos. A verba foi suficiente para comprar centenas de capacetes de aço.

Outra ideia de Carlos de Souza Nazareth para dotar as forças paulistas do mínimo de condições para seguir na luta foi a campanha “Ouro para o Bem de São Paulo”, baseada nas doações de ouro feitas pelos europeus durante a Primeira Guerra Mundial. As iniciativas permitiram que os paulistas resistissem durante três meses às tropas e material bélico da ditadura contra São Paulo.

“Precisamos cultuar nos jovens e no povo em geral os valores éticos e morais em um momento em que a sociedade parece anestesiada. Apenas sob o regime constitucional será possível o restabelecimento da confiança e a restauração financeira e econômica do país, o que vale dizer, para a salvaguarda dos interesses morais e materiais mais imediatos e prementes da sociedade brasileira”, afirmou o então presidente da ACSP, em manifesto enviado ao ditador, que reclamava o fim do período discricionário vigente.

A cidade de Cruzeiro, no Vale do Paraíba, teve papel fundamental na Revolução Constitucionalista de 32. O túnel da  Mantiqueira, localizado no Município, foi o ponto escolhido pelas tropas inimigas.

CIDADÃO DE CRUZEIRO CARACTERIZADO COMO SOLDADO CONSTITUCIONALISTA

Em 2 de outubro de 1932, foi assinado o armistício na Escola Arnolfo Azevedo, quartel general das tropas paulistanas. Cruzeiro foi homenageada com o título de Capital da Revolução Constitucionalista de 1932.

Muito relevante foi o papel do Instituto de Engenharia no processo que resultou na Assembleia Nacional Constituinte de 1934.

Trata-se da primeira entidade brasileira que se manifestou por uma nova Constituição. A decisão de liderar o movimento por uma Assembleia Nacional Constituinte foi tomada na assembleia geral extraordinária realizada na entidade no dia 25 de abril daquele ano.

No final dos combates, com a derrota de São Paulo, Carlos de Souza Nazareth e outros líderes do movimento foram punidos com o exílio pelo ditador, presos e deportados para Portugal.

Nazareth só regressou ao Brasil após o retorno do regime constitucional. Foi eleito deputado estadual, mas deixou a vida pública quando Vargas retomou o poder em 1937, e implantou o Estado Novo, que se estendeu por oito anos. Nazareth morreu em março de 1951, aos 52 anos.

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Para honrar e eternizar o papel de de seu grande líder, a ACSP, por iniciativa de seu Conselho Cívico e Cultural, criou o Colar Carlos de Souza Nazareth, oficializado pelo Governo do Estado de São Paulo, pelo Decreto 48.033, de 19 de agosto de 2003.

COLAR CARLOS DE SOUZA NAZARETH

A exemplo da solenidade que se repete nos últimos 12 anos, na segunda-feira (04/07), o Colar Carlos de Souza Nazareth, que simboliza a luta pela liberdade e pela construção de um futuro justo, foi outorgado a cidadãos e entidades paulistas em evento realizado desta vez na sede do Instituto de Engenharia, também homenageado.

VICE-PRESIDENTE DA ACSP, ROBERTO ORDINE ENTREGA O COLAR A MARIA DA GLORIA RIBAS BAUMGART

Receberam igualmente o Colar a empreendedora Maria da Gloria Ribas Baumgart, diretora de marketing do Shopping Center Norte, a professora Nelly Martins Ferreira Candeias, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de são Paulo, Shigeaki Ueki, ex-Ministro de Minas e Energia (1969-1974), e o município de Cruzeiro, que ostenta o título de "Capital da Revolução de 1932".

“Agradeço o Instituto de Engenharia que teve importante participação importante na Revolução Constitucionalista de 32 e nos recebe em seu salão nobre para esta homenagem", disse Roberto Mateus Ordine, primeiro vice-presidente da ACSP, que entregou o Colar aos homenageados e presidiu a sessão com um discurso emocionado sobre a data. "Peço a todos um ‘Viva, São Paulo’, para homenagear o povo paulista.”

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FOTOS: Paulo Pampolin/Hype



Assista à solenidade na íntegra

 

 

 

 

 

 

 

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