Megafauna quer criar circuito literário no Centro de São Paulo

Irene de Hollanda, sócia e diretora da livraria, prepara a primeira edição do Festival Poesia no Centro, que incluirá equipamentos culturais e parcerias com outros negócios da região

Mariana Missiaggia
24/Jan/2025
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Megafauna quer criar circuito literário no Centro de São Paulo

Entre os caminhos possíveis para requalificar o Centro de São Paulo destaca-se a abertura de novos negócios e o potencial de cada um deles para atrair mais gente à região. Embora não fosse essa exatamente a intenção dos sócios responsáveis pela livraria Megafauna, fundada no final de 2019 no Edifício Copan, foi impossível não abraçar a causa e se sentir parte dela.

É dessa forma que Irene de Hollanda, diretora da livraria, começa a contar a história da Megafauna, que acabou de ganhar uma segunda unidade no Teatro Cultura Artística e que, pouco a pouco, vem liderando um movimento de resistência e ocupação do Centro com uma programação que se conecta a outros negócios da vizinhança.

Exemplo disso é a primeira edição do Festival Poesia no Centro, que incluirá organizações culturais da região, como a Biblioteca Mario de Andrade e o Museu Judaico, e outras cinco livrarias do entorno. Uma fórmula que, segundo a diretora, funciona bem e amplia a circulação de quem chega à Megafauna.  

"A ideia é elaborar, junto a cada espaço parceiro, ações que evidenciem suas linhas curatoriais e que ajudem a valorizar a perambulação literária pelo bairro".

Prevista para acontecer entre os dias 16 e 18 de maio, a programação principal do festival será realizada no auditório do térreo do Cultura Artística, que tem capacidade para 150 pessoas e terá aproximadamente quinze encontros.

Serão entrevistas com autores brasileiros e internacionais, leituras, apresentações artísticas e mesas dedicadas a discussões sobre poesia. O objetivo é expandir a abrangência do evento e criar parcerias com negócios dedicados à literatura no Centro de São Paulo, assim como realizar atividades como oficinas e rodas de conversa em outros espaços da região.

"O Centro ganha cada vez mais relevância em roteiros gastronômicos e de entretenimento. Os livros têm papel importante nisso e queremos que tenham cada vez mais. Vamos criar um circuito literário no Centro de São Paulo", diz.

Megafauna, no Copan, vendeu 45 mil exemplares em 2024

 

A HISTÓRIA DA MEGAFAUNA

Há quatro anos vendendo livros em um trecho da cidade que ainda sofre com o estigma de degradação, Irene se diz orgulhosa de ter a Megafauna como um dos negócios que olharam para o Centro com o desejo de ocupá-lo e fazer dele um espaço mais convidativo e bonito para quem o frequenta.

Os 45 mil exemplares vendidos pela Megafauna em 2024 dimensionam a importância da livraria e apontam a razão do convite para fazer parte do Teatro Cultura Artística, reaberto em agosto passado. Embora tenha ganhado uma segunda unidade, Irene diz que a ideia não é abrir novas livrarias.

Quando idealizaram a Megafauna, os seis sócios responsáveis pelo projeto (as editoras Irene de Hollanda, Fernanda Diamant e Maria Emília Bender, a arquiteta Anna Ferrari, o empresário Arthur Mello e o bibliófilo e veterinário Thiago Salles Gomes) tinham em comum um desejo que ia além do volume de venda dos livros. A ideia era criar um ponto de encontro por meio de uma livraria independente, a exemplo do que se vê em outros países, onde as pessoas frequentem e possam conhecer as novidades do mercado editorial, conta Irene.

Seu nome de batismo, Megafauna, Irene diz ser uma alusão irônica aos animais pré-históricos de grandes proporções que desapareceram, tal qual os livros na atual era da tecnologia. 

Na contramão da quebra de grandes nomes do setor, como a Saraiva e a Livraria Cultura, que gradualmente foram fechando lojas, a Megafauna "quer se estabelecer no Centro, ter boa curadoria e se manter, sem a pretensão de um modelo idealizado de grandes redes".

 

Segunda unidade da livraria foi aberta em agosto de 2024 no Teatro Cultura Artística

 

Embora esteja limitada a um espaço físico de 200 metros quadrados no Copan, a arquiteta Anna Ferrari, também sócia da Megafauna, resgatou o projeto arquitetônico original ao reativar a passagem da livraria para a galeria do prédio, além de abrir outras duas passagens para a rua São Luiz, ampliando a relação do local com a cidade, com amplas portas e possibilidade de circulação entre a rua e a galeria.

Entre ficção e não ficção, são cerca de 12 mil títulos distribuídos em estantes de madeira com as vitrines voltadas para a rua - uma seleção de livros apresentada de uma forma que prioriza não o apelo comercial, mas a bibliodiversidade e a relevância das edições. Esse mesmo conceito é replicado na segunda unidade, que dispõe de um espaço especial para o público infantil, que aos sábados têm um programa de leitura direcionado para crianças, além de um catálogo ampliado para elas. 

Na loja do Copan, o bônus é o café-restaurante com cardápio de ingredientes brasileiros assinado pela chef Bel Coelho, além de um espaço para pequenos eventos. Por lá, circulam muitos turistas, editores, livreiros, mas também um público generalista.

Em tempos de TikTok e Instagram, não é raro ver a Megafauna sendo indicada como um passeio interessante para quem quer desbravar o Centro. Embora seja considerado um dos cartões postais mais importantes de São Paulo, o Copan é uma obra de Oscar Niemeyer e também sofreu sua fase de decadência com a migração do centro financeiro de São Paulo para a avenida Paulista e, posteriormente, para a região da Faria Lima.

A desvalorização da região passou a ser associada à presença de pessoas em situação de rua, casos de violência e suscitou muitas tentativas de revitalização que seguem até hoje. O Copan acompanhou esse movimento com protagonismo.

De uns tempos para cá, a galeria do Edifício passou a ser frequentada por novas gerações, virou símbolo de diversidade e, de certa forma, recuperou o seu brilho, especialmente à noite e aos finais de semana. Pontos como o Bar da Dona Onça, Queijuz, TemUmami e a própria Megafauna ganharam prestígio em meio ao cenário complicado do bairro.

 

IMAGENS: divulgação

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