Liquidações de janeiro representam 8% das vendas anuais
Redes varejistas como o Magazine Luiza (na foto) ofereceram descontos de até 70% até em eletroeletrônicos. Mas, com a alta do dólar, artigos domésticos e variedades ganham espaço
Mal acabou 2018, ano em que o varejo paulistano cresceu 2,2%, e as grandes redes já aproveitam a melhora na confiança do consumidor e o otimismo econômico para dar início às tradicionais liquidações de janeiro.
Essenciais para desovar o estoque excedente e equilibrar o caixa, esses saldões representam, em média, 8% do total do que o varejo vende ao longo de um ano, segundo estimativa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O Magazine Luiza, que anualmente faz sua tradicional "Liquidação Fantástica", recebeu os consumidores que dormiram na fila na última sexta-feira (04/01) oferecendo até 70% de desconto em quase um milhão de itens, como celulares, aparelhos de TV, refrigeradores e eletroportáteis em suas 937 lojas espalhadas pelo país.
Para quem compra pelos canais digitais, outro atrativo foi o frete grátis em milhares de produtos. De acordo com a varejista, a empresa comercializou, durante a liquidação, o equivalente a 15 dias de vendas.
Já a Casas Bahia e o Ponto Frio, da Via Varejo, também abriram suas lojas mais cedo na sexta-feira para vender os produtos anunciados na TV no dia anterior. Além do apelo de "até 70% de desconto", tanto nas lojas como pelo aplicativo, em itens como eletroeletrônicos e móveis, houve também opções de pagamento em 24 vezes nos cartões da loja, 10 vezes sem juros nos demais cartões e 60 dias para começar a pagar no carnê.
LEIA MAIS: Porque o varejo e o consumidor ainda não falam a mesma língua
Nos hipermercados Extra, onde a promoção durou até este sábado (05/01), descontos de até 50% e o parcelamento em até 30 vezes sem juros no cartão da rede envolveram outros itens além dos eletroeletrônicos e smartphones.
Das piscinas com "20% off" aos brinquedos com 40%, os descontos se estenderam, pela primeira vez, aos produtos alimentares, como panetones, aves sazonais, tender, bacalhau e carnes especiais, entre outros itens.
Para a Liquidação Extra deste ano, a projeção é de alta de 10% comparada à promoção do ano passado.
Mas, apesar do apelo dos descontos, a expectativa é que essa liquidação tenha resultado inferior ao de 2018, quando o varejo paulistano cresceu 10,6% na primeira quinzena de janeiro puxado principalmente pelas vendas de bens duráveis, como eletroeletrônicos, segundo o economista da ACSP Emílio Alfieri.
"O ano passado foi bom porque, na época, o dólar estava perto de 3%", diz Alfieri. "Mas como subiu 17% ao longo de 2018, não há muito espaço para descontos mais elevados nos duráveis este ano."
A VEZ DOS SEMI-DURÁVEIS
Uma rápida visita às lojas dá uma ideia disso: apesar de os anúncios incluírem smartphones, TVs e geladeiras, entre outros, os maiores descontos eram para produtos de menor valor agregado, como eletroportáteis (secadores de cabelo, ferros de passar e liquidificadores) ou utilidades domésticas, como panelas e itens de cama, mesa e banho.
Outro movimento comum nas lojas era o showrooming, ou seja, consumidores de smartphones a postos comparando os preços antes e durante as liquidações, ou os preços na loja física e no e-commerce em tempo real. Alguns não encontraram diferença. Outros, acharam seus objetos de desejo de alta tecnologia mais baratos pela internet.
Ainda que as vendas de janeiro representem uma fatia importante do faturamento anual do varejo, boa parte dos artigos vendidos nos saldões geralmente são itens de mostruário, os não-renegociados com fornecedores ou as sobras de estoque. Inclusive de outras liquidações, como a Black Friday.
Com a pouca diferença nos descontos de itens de maior valor agregado, esse ano o quadro se inverte, e a aposta para puxar as vendas da primeira quinzena são os semi-duráveis, como eletroportáteis, utilidades domésticas e variedades como moda praia - que já eram parte da liquidação do Extra, por exemplo.
LEIA MAIS: O consumidor já é digital. Sua loja está preparada?
Além dos preços mais em conta, a base fraca de comparação -queda de 2% na primeira quinzena de janeiro de 2018 -, também deve ajudar a melhorar o resultado das vendas de semi-duráveis, segundo Alfieri, da ACSP, já que são produtos consumidos principalmente por quem vai viajar e curtir as férias de verão.
"Mas, independentemente das liquidações, o índice de confiança do consumidor e do empresário cresceu, e a inflação caiu mais do que se esperava", afirma. "Somados, todos esses fatores podem ajudar o mês de janeiro, que assim como fevereiro, é um mês fraco em vendas, a fechar com resultado positivo", diz o economista.
FOTOS: Divulgação