Hirota adota programa usado em escolas para fortalecer famílias

Métodos que reforçam os valores fé, família, escola e trabalho levam a rede a ter um turnover médio anual de 44%, abaixo do mercado, que é superior a 60%. No grupo de participantes de ações para a família, percentual é de 8%

Fátima Fernandes
06/Mar/2025
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Hirota adota programa usado em escolas para fortalecer famílias

Pesquisas e profissionais de áreas como psicologia e sociologia já constataram que, se a vida pessoal vai bem, maior a chance de a vida profissional também ir bem.

É por isso que algumas empresas já se preocupam com a vida de seus funcionários após o expediente já que o que acontece no ambiente familiar pode, sim, respingar nos negócios.

Ao definir como valores básicos a fé, família, escola e trabalho, a rede Hirota deu mais um passo em seu propósito de valorização das famílias de seus 2,3 mil funcionários.

Com 19 supermercados, 23 lojas Express e 152 unidades em condomínios, a empresa colocou em prática uma metodologia para o fortalecimento familiar, criada nos EUA nos anos 1990.

Adaptada e traduzida para o Brasil em 2013, a partir de uma versão inglesa de 2002, o programa nasceu para prevenir crianças e adolescentes do uso de álcool e drogas.

O público-alvo são famílias com crianças de dez a 14 anos. O foco geral é o bem-estar de todos por meio do fortalecimento de vínculos e habilidades parentais e sociais.

Francisco Hirota, CEO da rede, teve contato com a metodologia, em 2024, em evento na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, para comemorar o Dia Internacional da Família.

O relato do programa Famílias Fortes foi feito por Marcelo Couto Dias, secretário da Família, Cidadania e Segurança Alimentar de Osasco, que ajudou a colocá-lo em prática no Hirota.

De agosto de 2023 a dezembro de 2024, a cidade de Osasco implantou o programa em 44 escolas, com o envolvimento de cerca de 600 famílias e pouco mais de 1.200 pessoas.

“O programa Famílias Fortes veio ao encontro daquilo que o Hirota sempre procurou desenvolver, que é a construção de um ambiente melhor nas famílias”, afirma Hirota.

 

Um dos grandes desafios dos pais hoje, diz Dias, é conseguir dialogar com os filhos. “Os resultados do programa estão justamente em linha com as preocupações da família”, diz.

Durante sete semanas, 13 funcionários do Hirota e seus familiares participaram do Famílias Fortes. Por duas horas, uma vez por semana, eles ouviram sobre a importância da base familiar.

MÉTODO

O programa é realizado da seguinte forma. Na primeira hora do encontro, pais permanecem em um grupo e filhos, em outro.

Do lado dos pais, fala-se de amor e limites, regras, incentivo às boas atitudes, consequências, construção de pontes, proteção contra o uso de substâncias e ajuda.

Os pais são ensinados a esclarecer as expectativas com base nas normas de desenvolvimento de crianças e adolescentes, a usar práticas disciplinares e gerenciar emoções fortes.

Do lado dos filhos, a discussão envolve metas e sonhos, admiração de pais e responsáveis, lidar com o estresse, pressão de amigos, seguir regras e atingir metas que deem sentido à vida.

Os filhos apreendem habilidades para interação pessoal e social, como reconhecer as dificuldades e qualidades dos pais, identificar modelos positivos e ajudar os outros.

Na segunda hora de cada encontro, conduzido por três facilitadores capacitados para seguir os manuais do programa, todos se reúnem.

Pais e filhos trabalham na comunicação e resolução de conflitos e se envolvem em atividades para aumentar a coesão familiar e o envolvimento positivo dos filhos na família.

Vídeos, cartazes e cartões foram utilizados entre os participantes da rede Hirota para realização de atividades interativas, debates coletivos, reflexões, dinâmicas de grupo.

O custo para colocar o programa em prática nas escolas, de acordo com Dias, é, em média, de cerca de R$ 1 mil por família, podendo custar mais, ou menos, dependendo do que é oferecido aos participantes, como lanches, vale-compras, sorteios de produtos.

É a primeira vez que uma empresa privada decide adotar o programa. A rede Hirota já abriu inscrições para a próxima turma. A ideia é fazer três a quatro ações dessas por ano.

“Estamos reforçando os nossos valores. Família é um de nossos pilares. Quando está tudo bem em casa, a pessoa evolui melhor, trabalha melhor”, afirma Eugênia Fonseca, gerente de marketing do grupo Hirota.

Há 20 anos na empresa, Eloída Souza Oliveira, supervisora do SAC do Hirota, participou da primeira turma do Famílias Fortes com o marido e o filho de 11 anos.

“Não tenho problemas, como muitos pais têm, de relacionamento com meu filho. Ainda assim, eu participaria do programa outra vez”, afirma.

No momento em que a criança entra na fase de adolescência, diz ela, fica mais difícil o relacionamento, e o programa ajuda a superar as dificuldades com técnicas de aproximação.

“Pais e filhos precisam estar num mesmo ambiente de corpo e alma, não apenas fisicamente.”

FIDELIZAÇÃO DO FUNCIONÁRIO

Para Dias, é certo que programas deste tipo em empresas acabam resultando na fidelização dos colaboradores, pois revelam que a empresa está preocupada com os seus profissionais.

Aliás, se tem um setor que está com dificuldade de reter trabalhadores neste momento, é exatamente o varejo.

Hoje, na cidade de São Paulo, o comércio tem cerca de 50 mil vagas abertas, a maioria em supermercados, de acordo com levantamento do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.

“Os jovens, principalmente, não querem mais trabalhar no comércio. Primeiro, porque os salários são baixos. Segundo, porque a função exige trabalhar nos finais de semana”, afirma Ricardo Patah, presidente do sindicato. O piso salarial da categoria é de R$ 1.976 em São Paulo.

As empresas do setor, diz ele, estão preferindo investir em tecnologia, em autoatendimento. “Elas preferem dar dinheiro para as máquinas do que para os trabalhadores”, afirma.

As ações do Hirota envolvendo famílias, diz, são valorosas, são modelos a serem seguidos por outras empresas e podem, como consequência, contribuir, sim, para a retenção de funcionários.

Empresários do setor que oferecem também assistência médica, vale-refeição, vale-alimentação, em sua avaliação, tendem a ter menos problemas com turnover.

“Se continuar do jeito que está esse mercado, vai chegar uma hora que o dono de uma loja vai ter de chamar toda a família para trabalhar porque não vai conseguir contratar funcionários”, diz Patah.

Hirota afirma que pessoas de uma família dividida não têm a mesma concentração das que possuem uma família estável, unidade, com impacto no relacionamento com chefes, parceiros.

“Essa instabilidade leva a um turnover maior nas empresas não somente em razão de oportunidades, mas também pelo ambiente familiar ruim”, diz Hirota.

Com experiência de décadas em supermercados, Marcos Escudeiro, consultor, afirma que não é de hoje que o varejo enfrenta um apagão de mão de obra e turnover elevado.

A ação do Hirota, diz, tem tudo para minimizar essa situação. “A empresa vai ter toda a família do funcionário como aliada, defendendo a empresa”, diz.

Hirota diz que os funcionários percebem quando a empresa está preocupada com o seu desenvolvimento a partir de cursos, discussões sobre ética, moral, finanças familiares e religião.

“Uma vez que você consegue maior profundidade de relacionamento, ganha-se o coração das pessoas, a estabilidade e a fidelidade aumentam”, afirma Hirota.

 

IMAGEM: Hirota/divulgação

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