Gelaterias crescem em SP e apontam tendências para o setor
Misturas inusitadas se destacam como atrativo na cidade que mais consome sorvete no Brasil. Pesquisa mostra que no país são consumidos 9 litros por pessoa ao ano, em um mercado que fatura mais de R$ 14 bilhões anualmente

Cerca de 85% da população brasileira é consumidora de sorvetes. Sim, ainda existem 15% que não consomem esse produto, por incrível que pareça. É uma das sobremesas mais bem aceitas aqui por esses trópicos, principalmente devido ao calor. Mas o fato é que brasileiro também consome sorvete no inverno, seja puro ou compondo outros pratos.
Por essas e outras que o mercado de sorvetes só cresce nos últimos anos. Em média, são 9,1 litros de sorvete consumidos anualmente por pessoa. São Paulo é a região do país com o maior consumo (20%), seguida de Minas Gerais (9,87%) e do Rio de Janeiro (9,73%).
Os dados são de nova pesquisa da Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (Abrasorvete), em parceria com a Empresa Júnior da Fundação Getúlio Vargas (EJFGV), que traz detalhes sobre os hábitos de consumo de sorvete no Brasil.
Esses números mostram a força desse mercado no país e seu potencial para o empreendedorismo, já que o setor tem desbravado com sucesso a área de franquias de grandes marcas. Os empresários estão colocando em prática estratégias para driblar a sazonalidade, como a diversificação de produtos, por exemplo.
A faixa etária mais representativa de consumo fica entre 25 e 34 anos, abrangendo 25,20% dos consumidores. A pesquisa mostra também que o sorvete de massa é o formato mais popular, com 73,47% da preferência, seguido por picolé, com 13,20%, e o soft (casquinhas de fast food), com 10,93%.
O sorvete é consumido principalmente como sobremesa (64,40%), durante passeios (60,27%) e como lanche (21,20%). O clima influencia a decisão de compra para 66,53% dos consumidores, enquanto 33,47% não consideram a temperatura ao escolher sorvete.
Eduardo Dalcin, diretor financeiro da Abrasorvete, ressalta que o mercado brasileiro é muito ligado à sazonalidade ainda, havendo picos de demanda em ondas de calor, não necessariamente em estações do ano, que não são muito bem definidas no Brasil.
“Historicamente, no Centro-Sul do país há um aquecimento a partir de setembro, mesmo antes da primavera, com a temporada permanecendo alta até março do ano seguinte. Temos demanda por sorvetes o ano todo, mas há picos como setembro (início da temporada), dezembro (calor intenso, férias escolares e final de ano – temporada de festas) e janeiro (calor e férias escolares)”, explica.
INDÚSTRIA
Para acompanhar o consumo de sorvetes no país, a indústria também tem registrado recordes. A expectativa para o setor em 2024 é crescer 5% e os investimentos das fábricas podem passar de R$ 1 bilhão.
“Para se manter competitivo no mercado durante a alta temporada é preciso estar atento às preferências do consumidor. Apostamos em um crescimento de demanda por porções menores e pela busca por praticidade, com produtos que possam oferecer uma sobremesa completa”, avalia Dalcin.
A produção já ultrapassa a marca de 1 bilhão de litros ao ano, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias do Setor de Sorvetes (ABIS).
São mais de 11 mil empresas ligadas ao setor e com faturamento acima de R$ 14 bilhões por ano. Deste total, 92% são micro e pequenas empresas.
TENDÊNCIAS
Com uma concorrência acirrada, as empresas têm procurado se destacar ao aproveitar as tendências de consumo e de mercado que estão em alta.
Durante a Fispal Sorvetes 2023, realizada em junho do ano passado, uma grande parte das novidades apresentadas pela indústria estava no campo dos sabores inovadores, com misturas inusitadas ou sabores não tão comuns.
Também ganhou destaque o sorvete tailandês, já presente em vários shoppings da capital, um estilo onde a massa é espalhada em uma chapa fria e servida em rolinhos com acompanhamentos.
Ainda é possível encontrar um maior número de sorveterias vendendo sorvete vegano, feito sem leite e derivados, para pessoas intolerantes à lactose, também opções lights e diets, para diabéticos ou quem não quer consumir açúcar. Além de variedades infantis, com cores e sabores específicos, e até para pets. As associações apostam que as tendências globais possam trazer boas oportunidades para os fabricantes e consumidores.
Várias sorveterias também têm investido nos serviços de entrega, permitindo ao cliente consumir o produto como sobremesa dentro de sua casa, ou para os dias frios, para compor uma sobremesa, como petit gateau.
GELATERIAS
Apesar de o crescimento abranger todos os segmentos de sorvetes, um especificamente tem chamado a atenção em São Paulo: o das gelaterias. Certamente, há uma perto de você, leitor.
Gelateria não é a mesma coisa que sorveteria. Gelato é um produto da família dos sorvetes, mas sem aromatizante, conservante e corante artificial. A gordura utilizada provém de leite fresco ou frutas e há menos açúcar. Com ar injetado na massa, o produto é conservado em temperaturas mais altas do que a praticada no sorvete, a fim de criar uma textura mais cremosa e suave.
Várias gelaterias estão surfando neste cenário de alta e elevando suas participações no mercado brasileiro, como a Gelato Borelli e a Bacio di Latte - as duas maiores redes do Brasil em número de lojas. Ambas têm inovado em conceito e oferecido uma experiência diferenciada aos seus consumidores.
GELATO BORELLI
A Gelato Borelli é a maior rede de franquias de gelato do país e conta com 224 unidades em 25 Estados, sendo 156 lojas em operação e 68 em fase de implantação.
A marca planeja chegar a 350 unidades até o fim de 2025 e a expectativa de faturamento para este ano é de R$ 360 milhões, o que representa um salto de 50% em relação a 2023.
Fundada em 2013, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, a rede conta com 80 sabores homologados, com 16 a 24 disponíveis nas vitrines das lojas, além de sabores sazonais que entram no cardápio como edições limitadas. Os gelatos são produzidos de forma artesanal com maquinário italiano e ingredientes frescos, sem conservantes.

Segundo Tony Miranda, CEO da Borelli, o objetivo é alcançar 420 lojas até 2026, principalmente por meio do modelo de franquias. “Para isso, seguimos um ritmo acelerado com nosso plano de expansão. A empresa está investindo em tecnologias de ponta e reforçando sua estrutura para aumentar a capacidade produtiva. Nossa meta de crescimento é sustentada pela visão estratégica de produção verticalizada, modelo que permite um supervisionamento de cada etapa, desde a escolha dos ingredientes até a produção do gelato final”, diz.
Segundo Miranda, essa integração assegura controle absoluto de qualidade, garantindo que os rigorosos padrões sejam mantidos em todos os estágios da produção. A verticalização possibilita ainda estabilidade no fornecimento ao longo do ano, além de criar condições comerciais vantajosas para todos os parceiros.
Para garantir o aumento da produção de gelatos nos próximos anos, a companhia fundada por Eduardo Borelli acaba de inaugurar uma fábrica em Cravinhos, no interior de São Paulo. A chamada "Casa do Sabor, Vogliadi Borelli" tem 7 mil metros quadrados – sendo 3 mil de área construída. A capacidade de produção da companhia será triplicada.
O CEO também quer garantir espaços acolhedores que convidam o cliente ao relaxamento e ao prazer. “O desejo e objetivo da Borelli é proporcionar momentos de felicidade e descontração aos nossos clientes.”
Uma franquia da Borelli custa a partir de R$ 790 mil, com faturamento anual médio de R$ 2 milhões, prazo de retorno médio do investimento de 24 a 36 meses, taxa de franquia de R$ 60 mil, com 5% de royalties e 1,5% de taxa de marketing.
BACIO DI LATTE
Outra grande marca de gelatos do país é a Bacio di Latte, gelateria de origem italiana que nasceu em São Paulo em 2011. Criada pelo italiano Edoardo Tonolli e pelo escocês Nick Johnston, a Bacio di Latte estreou na famosa rua Oscar Freire, nos Jardins.
Atualmente, são 175 lojas próprias e 6 mil pontos de vendas no país. O ticket médio da marca é R$ 30 em lojas próprias e R$ 90 no delivery. A Bacio di Latte não opera no modelo de franchising.
De acordo com Fábio Medeiros, diretor de marketing da Bacio di Latte, a empresa tem um plano de expansão de lojas no Brasil e também nos Estados Unidos. “Dentro deste plano, são mais de 30 novas unidades em 2024. A Bacio di Latte começou com um investimento de R$ 1,2 milhão e deve faturar mais de R$ 800 milhões em 2024”, conta.

Questionado sobre como vê o mercado de gelatos no Brasil, Medeiros ressalta que é um setor com muito potencial. “O segredo para ter sucesso no Brasil é a inovação e a constância na qualidade dos produtos. Os brasileiros gostam de novidades e produtos preparados com excelência, com atenção na escolha dos melhores ingredientes e preparo artesanal, como fazemos com nossos gelatos.”
Além dos gelatos, a Bacio di Latte também aposta em picolés com receitas exclusivas e bombons de gelato com os sabores best-sellers da marca.
INUSITADOS

Já que a moda é inovar e até ousar, é possível encontrar em São Paulo gelaterias com sabores pra lá de diferentes, mas não menos saborosos. É uma emoção na descoberta de cada sabor. O Diário do Comércio visitou alguns endereços da cidade, com sorvetes que vão muito além do chocolate, creme, morango e flocos. Ideal para se divertir e se deliciar. Se prepare para filas na porta. Confira:
- Babaê Gelato: a gelateria está viralizando nas redes sociais por conta de seu cardápio inusitado. Até o fim de outubro, novos sabores foram produzidos para o Halloween, como o Bafo de Zumbi (sorvete de alho com pão de queijo e bolacha), o gelato no taco e sabores diferentes como o de chocolate meio amargo com Halls, o de pipoca de cinema, Banoffee, Matcha, chocolate com laranja e Cointreau e até uma casquinha de Nutella com batata frita.
@babaegelato - rua Ferreira de Araújo, 281 - Pinheiros.
- Sorveteria do Centro: dos mesmos criadores da Casa do Porco, este endereço tem até sorvete de torta de limão, de caipirinha, o de café expresso com rum e o porcocopa, um gelato de leite, chocolate, caramelo, finalizado com um toque salgado de farofa de bacon.
@sorveteriadocentrosp - rua Epitácio Pessoa, 94, Centro.
- Tem Umami!: no edifício Copan, este endereço tem gelatos artesanais com sabores que mudam constantemente. Destaques para o sabor de canela com torta de maçã e o sorvete e folhado de pistache com calda de flor de laranjeira e manteiga clarificada e chocolate e rosa comestível; e a cocada quente e caramelizada com sorvete de baunilha, coco fresco e casquinha de fubá.
@temumami - Edifício Copan, avenida Ipiranga, 200, Centro.
- DiBlu: sem adição de açúcar, lactose e trigo, essa gelateria é inspirada na “blue zones” (locais no mundo onde se alega que as pessoas são mais longevas que a média). Há uma grande variedade de sabores saudáveis e tops diferenciados, como o de farofa de pipoca com caramelo salgado.
@diblu.gelato - rua Balthazar da Veiga, 250, Vila Nova Conceição.
- Mooi Mooi: conhecida por seus sorvetes super incrementados com pipoca, essa gelateria traz opções de pistache, macadâmia, creme catalana e o de goiabada cascão com farofino de paçoca.
@mooimooi.br - rua Manuel Guedes, 249, Itaim Bibi e outra unidade na rua dos Pinheiros, 223, Pinheiros.
- Blaus: desde 1991, esta sorveteria traz sabores da Amazônia para seus produtos, como tucumã, uxi-amarelo, tapioca, taperebá, açaí, entre outros.
@blaussantoamaro - Mercado Municipal de Santo Amaro, rua Min. Roberto Cardoso Alves, 359 - Santo Amaro.
- Corpfit: também segue a linha saudável, sem lactose e sem açúcar, além de casquinhas veganas. Destaque para o sabor de Flor di Latte com pedacinhos de biscoito Oreo feito no local
@corpfitmorumbi - rua Dr. Alceu de Campos Rodrigues, 483, Vila Nova Conceição; alameda Lorena, 1504, Jardim Paulista; Shopping Morumbi, piso térreo; e nova unidade a ser inaugurada do Tatuapé.
- Damp: fundada em 1970, a loja tem sorvetes de chicletes, menta com flocos, castanha do Pará, gelato de violeta e o famoso pistache, além de outras sobremesas.
@dampsorvetes - rua Lino Coutinho, 983, Ipiranga.
- Al Kaseem Gelato: já conhecem o sorvete árabe? A sorveteria oferece o buza (sorvete) com sabores típicos do Oriente Médio, como a água de flor de laranjeira e o miski, enrolado como um rocambole no pistache.
@alkaseemgelato - alameda dos Nhambiquaras, 1657, Moema; e rua Dr. Melo Alves, 456, Cerqueira César.
- Freddo: a sorveteria existe desde 1969 na Argentina e ficou conhecida pelo sabor inconfundível do doce de leite argentino utilizado nas receitas.
@freddobrasil - Vários endereços. Em São Paulo, fica no Shopping Eldorado.
- Frida & Mina: a sorveteria ficou conhecida por utilizar apenas ingredientes sazonais e orgânicos. O local oferece opções veganas.
@fridaemina - rua Artur de Azevedo, 1147, Pinheiros.
- Davvero: essa gelateria resgata as tradições da Itália e, apesar de adaptar seu cardápio de acordo com as frutas disponíveis no Brasil, leva sempre a sua marca registrada nos sabores, o biscoito.
@davverogelato - diversos endereços (Shopping Iguatemi, Itaim Bibi, Morumbi, Vila Nova Conceição, Brooklin, Oscar Freire, Vila Olímpia, entre outras).
- Baobá: prepara sorvetes sem adição de conservantes ou aromatizantes. Destaque para o de doce de leite mesclado e os sorbets refrescantes, feitos à base de água de lichia, maçã verde e mexerica.
@baoba.sorvetesartesanais - rua Peixoto Gomide, 1078, Jardim Paulista; e na alameda Jauaperi, 722, Moema.
- Cangote: os sabores do Nordeste dão o tom dos sorvetes artesanais com opções veganas. Tem os preparados à base de água com frutas como cajá, seriguela e caju, e os que levam leite, como tapioca, nata com goiaba, bolo de rolo e até queijo coalho. Por cima, vão coberturas de melaço de cana ou farofa de rapadura.
@cangotesorvetes - rua Aureliano Coutinho, 278, Vila Buarque.
IMAGEM PRINCIPAL: Borelli/divulgação