Galeria do Copan reúne comerciantes de diferentes gerações

A procura por imóveis comerciais no condomínio continua aquecida criando um ecossistema no qual convivem negócios com quase cinco décadas, como o Café Floresta, e o recém-chegado Tem Umami

Silvia Pimentel
26/Jul/2023
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Galeria do Copan reúne comerciantes de diferentes gerações

Basta apertar o botão de um de seus elevadores em direção ao térreo para que os cerca de cinco mil moradores do edifício Copan, na região da Praça da República, em São Paulo, tenham acesso a uma infinidade de produtos e serviços que atendem boa parte de suas necessidades: roupas, calçados, café, livraria, lavanderia, entretenimento, restaurantes, salões de beleza, padaria, academia, entre outros.  

A galeria sob o famoso prédio projetado por Oscar Niemeyer na década de 1950 e inaugurado em 1966 possui 72 lojas espalhadas por “ruas” sinuosas que dão acesso aos seis blocos do prédio. Os estabelecimentos são comandados por diferentes perfis de comerciantes, obedecendo a lógica da diversidade da região.

Apesar da quantidade de moradores no prédio, as vendas do comércio local decorrem principalmente do público externo, formado por pessoas que trabalham no entorno do Copan, frequentadores habituais do Centro de São Paulo e até de clientes fidelizados que moram fora da capital.

O senhor Adelino Pereira dos Santos, proprietário do Café Floresta, é um dos mais antigos na galeria. O negócio foi inaugurado há 48 anos e se adapta às novas realidades e desafios enfrentados pelo centro da capital paulista, que hoje sofre com o aumento da violência.

“O fluxo de pessoas era muito maior na década de 1980 e durante muito tempo fechávamos as portas à meia-noite. Depois da pandemia, que provocou o fechamento de várias lojas, passamos a atender até às 21 horas”, informou.

A queda do movimento de pessoas circulando pelo centro, agravada pela pandemia, em 2020, e pelo aumento do uso do home office, também é observada por Winston de Campos, proprietário da Bon Bini, que vende há 24 anos roupas de marcas como a Hering, Malwee e Zorba.

O Café Floresta funciona há 48 anos na galeria do Copan se adaptando às mudanças de comportamento dos consumidores (Foto: São Paulo Antiga)

 

Até 2016, ele chegou a ter cinco funcionários e reclama da falta de união dos lojistas na elaboração de uma estratégia de marketing para a galeria. “O movimento é puxado pelo Bar da Dona Onça, que fica do lado de fora. Falta propaganda para que as pessoas entrem e conheçam a galeria”, reclama.

Apesar da queda nas vendas, ele diz que ainda mantém clientes fiéis, conquistados quando o prédio do Bradesco, ao lado do Copan, ainda mantinha os funcionários em trabalho presencial.

FIÉIS CLIENTES

A cabeleireira Ana, na verdade Massami Ohe Ito, vinda do interior de São Paulo, é outra antiga empreendedora na galeria, onde inaugurou há 52 anos um salão de beleza a partir de um secador de cabelo, escovas e pentes. Para chamar atenção de clientes, distribuía panfletos nos blocos do edifício.

“Quase não havia lojas e os espaços eram de concreto. Decidi pelo local porque o valor do aluguel era acessível e não cobravam caução”, lembra.

Bem-humorada, com os cabelos curtos pintados na cor roxa, ela conta que suas primeiras clientes mais fiéis eram as prostitutas que mantinham, no passado, apartamentos no prédio.

Depois de cinco décadas na galeria, a cabeleireira ostenta atualmente uma lista de clientes fidelizados que ultrapassam a 3ª geração, muitos dos quais moradores de cidades como Bauru, Birigui e São José dos Campos. “Atendo atualmente por indicação”, disse.

Paulo Sergio Baptista Pereira, proprietário da locadora Vídeo Connection, inaugurada na galeria há 38 anos, também conseguiu fidelizar clientes, entre os quais cinéfilos, cineastas e artistas de outros bairros ou cidades, como São José dos Campos. Ele diz que seu negócio sobrevive graças à insatisfação de clientes com os serviços de streaming, que abalaram o mercado das locadoras de vídeo.

“Alguém tinha que permanecer com essa fatia de mercado”, resume. Além do aluguel dos filmes em DVD, o comerciante tem um espaço para a venda de títulos, separada por diretor e gênero. Para manter o empreendimento, Paulo também ingressou no mercado de digitalização de filmes caseiros, hoje responsável pela maior parte do seu faturamento.  

AS NOVIDADES

Entre as lojas inauguradas mais recentemente na “borda” da galeria, há cerca de seis meses, está uma da Rider. De acordo com o gerente Rafael Genare, é a primeira loja física com produtos exclusivos da marca, em que os consumidores podem customizar na hora os calçados comprados, por meio de tiras, cordões e botons.

“Estamos no coração de São Paulo, em um edifício de importância histórica. Aqui, os clientes são diversificados e antenados com as referências da moda”, disse Rafael.

Misto de café e padaria, a Tem Umami é conhecida por vender panetones o ano inteiro (Foto: Redes Sociais)

 

Outra novata é a Tem Umami, misto de café e padaria, conhecida por fabricar panetones durante o ano todo, que recentemente abriu a terceira loja para vender sorvetes no estilo soft, sem gordura hidrogenada e com casquinha de fabricação própria feita à base de milho orgânico.  

Um detalhe curioso é que não se vê placas de vende-se ou aluga-se no espaço dedicado às lojas. De acordo com o síndico, Affonso Celso Prazeres de Oliveira, a procura por imóveis no condomínio é grande tanto na parte residencial como comercial, mostrando que, apesar de todas as adversidades, o centro histórico de São Paulo mantém os seus encantos.  

 

IMAGEM: Luiz Prado/DC

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