Franquias de brechós infantis surgem como boa oportunidade de negócio
Lojas de roupas, calçados, brinquedos e acessórios usados para crianças explodem com a alta demanda por itens mais baratos e que incentivam a moda circular
O uso de roupas e calçados infantis de segunda mão vem crescendo consideravelmente nos últimos anos no Brasil. Os clientes que procuram essas lojas buscam a oportunidade de economizar, vendendo ou trocando peças, mas também contribuem diretamente para o consumo consciente. Já para os empreendedores, o setor se mostra um negócio promissor, com franquias que garantem ganhos mensais entre R$ 10 mil e R$ 150 mil.
A popularização do comércio de itens usados está nitidamente ligada a uma mudança de cultura. Hoje, as roupas são seminovas e higienizadas. Antigamente, traziam defeitos ou eram muito fora da tendência de moda.
E quando se trata de produtos infantis, os benefícios da moda circular ficam ainda mais evidentes. Isso porque crianças e os bebês perdem muito rápido as peças e usam por pouco tempo alguns tipos de brinquedos e acessórios. É uma maneira inteligente de fazer dinheiro, comprar roupas mais baratas com qualidade e liberar espaço em casa.
Dados do Sebrae mostram que, somente no Brasil, existem mais de 118 mil negócios ativos do tipo, com crescimento de 30,97% nos últimos cinco anos. Outro estudo, realizado pela consultoria Boston Consulting Group, mostra que o segmento de moda circular deve crescer entre 15% e 20% até 2030 no Brasil, o que representa um mercado de R$ 24 bilhões.
Mas o que atrai o consumidor é só o preço? A resposta é não. Os brechós infantis são atrativos também porque reúnem em um mesmo espaço produtos de diferentes segmentos. A variedade de itens vai além das roupas, se estende às cadeirinhas de carro e de alimentação, carrinhos de passeio, brinquedos, livros, entre outros
OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO
Apesar de brechós com roupas infantis existirem há cerca de 20 anos, uma das primeiras franquias a surgir no setor, que tem alcançado grandes resultados, é a Cresci e Perdi, presente em 23 Estados e 351 cidades, com 339 franqueados e 167 multi-franqueados em suas 506 unidades em todo o Brasil.
“Nossa meta para 2023 era chegar a 500 franquias, objetivo que alcançamos bem antes do fim do ano. Agora, a meta é estar em todos os Estados brasileiros”, afirma Saulo Alves, sócio e COO da Cresci e Perdi,
A marca monta, em média, mais de 20 lojas por mês, inaugurando de 4 a 5 unidades a cada semana. “A maioria das unidades possui mais de 300 metros quadrados, chegando a ter unidades com mais de 500 metros de área de loja.”
A Cresci e Perdi oferece quatro modelos de franquia, com valores a partir de R$ 99 mil, incluindo taxas, mobiliário, cabides e outros itens, além de merchandising, estoque inicial e todo o sistema de informática.
A marca surgiu em 2014, quando a empreendedora Elaine Alves decidiu realizar um bazar com as peças de seu primeiro filho em São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo. Três anos depois, a rede deu início à expansão por franchising.
“Quando me tornei mãe, busquei opções nos brechós tradicionais de roupas para crianças, mas não encontrei boas seleções nem variedade. Percebemos uma grande demanda por esse tipo de produto”, afirma Elaine, hoje CEO da Cresci e Perdi Franchising.
As lojas compram e vendem roupas do tamanho recém-nascido (RN) até 16 anos, além de calçados e acessórios com valores entre 40% a 90% menores na comparação com os produtos novos.
Quando o cliente leva um lote de roupas, o valor pode ser convertido em dinheiro ou no “Giracrédito”, um vale-compras para ser utilizado na própria loja. Segundo a rede, muitos escolhem o Giracrédito porque recebem benefícios adicionais, tanto na hora de vender quanto na hora de comprar, sendo sempre mais vantajoso. Mas muita gente também só vai para vender e sair com o dinheiro em mãos.
Saulo conta que a marca ajudou a diminuir o preconceito com os brechós. “Nossas lojas têm peças separadas por cores, tamanhos e são aromatizadas. É um ambiente agradável de se estar e as oportunidades são ótimas para os clientes, tanto para quem deseja se desfazer quanto para quem quer economizar na compra.”
Ele conta que as lojas recebem todos os públicos, inclusive das classes A e B. “Essa fatia, especificamente, é a que mais desapega, mas muita gente também faz troca. Já os das classes C e D costumam vir em busca de bons preços”, explica Saulo.
A marca também oferece roupas e calçados novos, geralmente vindos de pontas de estoques de fabricantes, lojas diversas que fecharam ou fábricas com estoques parados com coleções passadas. “Conseguimos fazer um preço bem mais em conta no produto novo do que uma loja infantil tradicional”, destaca o COO.
ARENA BABY
Outra rede que nasceu na mesma época é a Arena Baby, de 2015, aberta em Santo André pelos irmãos Giovanna Domiciano e Flávio Thenório. Hoje, com 65 lojas, a rede atua em modelo semelhante ao da concorrente, com vale-compras, produtos separados por tipos e tamanhos, variedade de produtos e preços baixos, com foco em itens seminovos e disponibilidade de novos também.
Com faturamento de R$ 9 milhões em 2022, a expectativa é fechar 2023 com 100 unidades. São cinco modelos de lojas com tamanhos e níveis de investimento diferentes, com valores a partir de 130 mil.
Segundo Pedro Cruz, diretor da Arena Baby, a fórmula para esse modelo dar certo é muito mais do que roupas organizadas, preços baixos e ambiente acolhedor. “Tudo é pensado nos mínimos detalhes. E, para que um modelo deste porte dê certo, é necessário a formatação de um negócio em todos os seus níveis, como gestão financeira e operacional”, diz.
Cruz acredita que o ramo de brechós infantis ainda tem muito a crescer não só em São Paulo, mas em todo o país. “Uma gama de pessoas ainda não conhece este modelo e tem como referências apenas pequenos varejos e brechós sem o nível de profissionalização e atuação do nosso. Acreditamos em uma transformação, que envolve uma cultura consciente na utilização dos recursos financeiros e naturais”, ressalta.
FRANQUEADOS
Os empreendedores que optam por este tipo de negócio têm colhido bons frutos. Uma das franqueadas da Cresci e Perdi é Giseli Leone Barros, que possui duas lojas: uma em Itaquera, na Zona Leste da Capital, e outra em São Caetano do Sul, no ABC paulista.
“Decidi procurar por uma franquia pois já tinha experiência como dona do meu próprio negócio. Mas agora eu queria ter um respaldo maior com relação às estratégias de vendas e todo suporte que uma franquia oferece. Eu, como dona do meu próprio negócio, acertei muitas vezes e errei mais um tanto”, conta.
Gisele diz que ficou encantada quando conheceu um brechó infantil. “Gostei de tudo, me identifiquei com a proposta e vi muito potencial. Fiz um treinamento de seis meses e abri primeiro a unidade de São Caetano.”
A empreendedora conta que compra tudo o que envolve o universo infantil, desde que esteja em bom estado de conservação. Quanto ao público, “atendo muitos casais para comprar o enxoval do bebê, mas nosso maior público ainda é formado por mães, e temos também uma grande parcela de avós”, relata Gisele.
Já a franqueada Luciana Di Ciero enxergou na Arena Baby uma oportunidade de crescimento. Ela inaugurou, no início de setembro, a primeira unidade da rede em Campinas, no interior paulista.
“Quando meu neto nasceu, tive a chance de conhecer o mercado de brechós e outlets. Achei a proposta muito interessante, pois permite aproveitar itens quase novos trazendo economia para as famílias e promovendo a sustentabilidade por meio do reaproveitamento das roupas, calçados e acessórios”, conta.
JOANINHA
Foi em 2012 que a ex-professora de biologia Vivian Deus criou o Joaninha Brechó Infantil, em Belo Horizonte (MG). Tudo começou quando ela repassava peças da filha para um brechó em sua cidade e resolveu ver aquilo como um investimento.
Com R$ 5 mil emprestados pelo marido para a compra das primeiras peças e adequação do espaço de apenas 4 m² na garagem da avó, Vivian deu início à Joaninha. No dia da inauguração não apareceu ninguém, mas isso não desanimou a empresária mineira.
Assim que chegou em casa, a primeira coisa que fez foi criar uma página do brechó no Facebook para divulgar as peças. Em apenas uma semana já acumulava 100 curtidas e, em um mês, a loja ficou pequena para dar conta da quantidade de produtos e da demanda de pessoas que passaram a frequentar o local. Ela precisou se mudar para um espaço maior, em uma avenida comercial.
Apenas 24 meses após essa primeira mudança, foi necessário procurar um novo ponto, desta vez com 50 m². Vivian viu o negócio evoluir de forma tão rápida que, em 2014, largou a carreira de professora para se dedicar exclusivamente ao empreendedorismo. “Vi meu negócio pular de um faturamento mensal de R$ 8 mil para R$ 32 mil”, lembra.
A empresária começou a receber pedidos de mães de outras cidades depois que começou a fazer divulgação on-line e fazia lives onde apresentava alguns produtos. A expansão para franquias aconteceu em 2019.
Atualmente, a Joaninha tem dois modelos de franquias: o tradicional e o smart, este segundo pensado para regiões com menos de 100 mil habitantes, com investimento inicial a partir de R$ 125 mil. A meta até o fim de 2023 é chegar a 75 franquias vendidas e encerrar o ano com faturamento de R$ 30 milhões.
Mas nem tudo são flores. “Atuar no varejo é para os fortes. Tem que ter muito planejamento e estratégia”, avalia a empresária, que atualmente não tem mais loja própria e só administra os franqueados.
Além de atuar no mesmo molde das concorrentes, Vivian faz uma captação de roupas novas para manter um centro de distribuição de peças para abastecer seus franqueados. “São peças de fim de coleção ou estoques parados”, conta a empresária.
BRECHÓS ON-LINE
Fora do circuito de franquias, também é possível comprar e vender itens infantis na internet, nas lojas como a Ficou Pequeno (www.ficoupequeno.com), a Re Petit (www.repetit.com.br), a Cresci Voando (www.crescivoando.com.br), a Ciranda (www.useciranda.com) e o guia de brechós Segunda Mãozinha (www.segundamaozinha.com/brechos-infantis).
IMAGEM: Brechó Joaninha/divulgação