De cada 100 produtos, 11 estão em falta nos supermercados

Índice de ruptura de abril, de 10,8%, é maior do que o da média histórica (8%). Para a Neogrid, que fez o estudo, indústria e varejo precisam ser mais parceiros e evitar guerra nas negociações

Fátima Fernandes
24/Mai/2022
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Em abril, de cada cem produtos que o consumidor buscou nos supermercados, 11 não foram encontrados.

Este número já foi maior em janeiro deste ano (12). Mas, ainda assim, o dado de abril é superior ao da média histórica do setor (8).

O levantamento é da Neogrid, empresa de tecnologia que presta serviços para o varejo, em consulta a cerca de 20 mil supermercados espalhados pelo país.

A escalada da inflação é o principal motivo apontado pela Neogrid ao divulgar o índice de ruptura dos supermercados no mês passado, de 10,8%.

“A inflação mexe com a cadeia de abastecimento. As negociações entre a indústria e o varejo demoram mais, resultando em falta de produtos”, diz Robson Munhoz, diretor da empresa.

A guerra na Ucrânia, que causou a interrupção da produção de vários produtos, como o trigo, diz ele, também provocou a redução na oferta de vários produtos, com impacto nas gôndolas.

O aumento do volume de produtos em promoção e a cautela nas compras por parte dos lojistas são outros dois motivos que explicam a ruptura acima da média histórica.

Desde janeiro do ano passado, o maior índice de ruptura registrado pelo Neogrid foi em maio de 2020, de 12,5%.

Antes disso, o maior índice tinha sido identificado em maio de 2018, durante a greve dos caminhoneiros, quando cerca de 15 produtos, de cada cem, estavam em falta.

Qualquer que seja o número, diz Munhoz, vale dizer que o ideal para um supermercado é ter índice zero de ruptura, isto é, não ter falta de qualquer produto nas gôndolas.

“É péssimo para o varejista quando um cliente entra e não encontra o produto que precisa. Ele corre o risco de o consumidor trocar de vez a loja por outra mais próxima.”

HARMONIA E CONFIANÇA

A solução para situações como essa de inflação alta e falta de produto, na avaliação de Munhoz, é a melhora nas parcerias entre a indústria e o varejo.

“Não adianta partir para a guerra nas negociações. A lição que fica é a colaboração, a confiança, para que todos da cadeia ganhem.”

Não interessa nem para a indústria nem para o varejo, diz ele, a falta de produtos nas lojas.

Para Munhoz, o que pode mudar esta situação é o comércio passar para a indústria as informações sobre estoques.

Desta forma, a indústria ajuda o lojista na cadeia de abastecimento, de acordo com ele, avisando quando um produto está com estoque quase zerado na loja.

Este é um assunto sempre discutido entre indústria e varejo. Num momento como este de escalada da inflação fica ainda mais difícil falar em abrir as informações sobre estoques.

O argumento dos lojistas é que, se a indústria tem informações de que o estoque de um determinado produto está chegando ao fim, ela ganha mais poder na negociação.

“Este estereótipo de guerra precisa acabar de vez entre a indústria e o varejo”, afirma.

ESTOQUES   

Ainda de acordo com a Neogrid, em abril, o volume médio de estoques nos supermercados atingiu o menor patamar desde janeiro de 2020.

No mês passado, o volume médio de estoque nas lojas era aproximadamente 9% menor do que o de abril do ano passado e quase 16% menor do que o de abril de 2020.  

Para Munhoz, este dado reflete o duro cenário que mescla a dificuldade de importação de insumos da China, onde parte está em lockdown, e a disparada da inflação.

Cenário que provocou aumento nos preços de insumos, como o diesel, que é fundamental no transporte de mercadorias da indústria para o varejo, de acordo com ele.

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