Confira o recém-lançado Tendências do Varejo, da FGV, dossiê obrigatório para o setor
Previsões para 2025 apontam alta de 1,3% no varejo restrito, de 0,2% no expandido, de 0,5% para o PIB e queda na renda
Uma estreia robusta e necessária para o segmento varejista. Assim deve ser definido o Relatório Tendências do Varejo, análise econométrica que acaba de ser lançada e será veiculada trimestralmente. O documento foi preparado pelo professor Ricardo Meirelles de Faria, do Centro de Excelência em Varejo (CEV) da Fundação Getulio Vargas (FGV), e está sendo apresentado agora com exclusividade pela DC NEWS, a agência de notícias da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
“Partimos de uma fotografia das diversas variáveis econômicas que impactam o setor para, então, apresentarmos nossa visão e projeções para os próximos 18 a 24 meses”, afirmou Meirelles. A partir da próxima edição do relatório (dezembro), ele será divulgado nos meses de março, junho, setembro e dezembro. “O varejo é um dos setores mais competitivos, se não for o mais, entre todos do mercado.” Por isso a necessidade de acompanhar no detalhe o cenário à frente.
Em termos macroeconômicos, as projeções não são muito distantes deste fim de 2024, mas com sutilezas setoriais. Ou seja, não será um ambiente linear para todos os players. “O formato de atuação da política fiscal expansionista com aperto na política monetária não parece mudar muito nos próximos 12 meses”, disse Meirelles. “Entretanto, não enxergamos como linear a evolução das variáveis econômicas.”
A seguir, a entrevista com o economista, que é mestre e doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e professor de Macroeconomia, Economia Brasileira, Política Monetária e Banking na FGV-SP, além de fundador e economista-chefe da Linus Galena Consultoria Econômica.
DC NEWS – A política econômica do governo Lula III, essencialmente expansionista sob o ponto de vista fiscal, é um erro?
Ricardo Meirelles de Faria – Numa economia, há vários formatos de política econômica. Por um lado, você pode focar mais do lado da oferta, com incentivos à produção, com nível baixo de taxa de juros, que incentiva os investimentos. Por outro lado, há uma estrutura econômica que foca do lado da demanda. Essa é a visão pelo lado do Lula, de ter o Estado como motor da economia.
DCN – Mas ela não tem se mostrado eficaz, não?
Meirelles – A grande questão é que existe um custo de oportunidade desses recursos que estão sendo, vamos dizer, dispendidos pelo Estado. Na primeira década do século, houve um grande pulmão econômico vindo da China, com recursos entrando de forma maciça pelo lado do setor externo. Então, o custo de oportunidade, os recursos, eram muito mais baratos do que agora. O momento agora é muito mais difícil.
DCN – Uma fragilidade fiscal que contamina toda a economia, do câmbio aos juros, que o Copom divulgará nesta quarta-feira (6).
Meirelles – Sim. Porque os gastos já eram excessivos e continuam. Na pandemia, logicamente houve essa necessidade de socorrer os setores mais carentes, então teve todo esse auxílio emergencial, que continuou. Em parte, era necessário. Mas bato sempre na tecla: ‘Quanto têm custado esses recursos?’ Além disso, existe a demanda, que tem crescido também pelo lado do crédito.
DCN – Que cresceu muito, não?
Meirelles – O ritmo de crescimento do crédito à pessoa física, em termos reais, deflacionado pelo IPCA, tem sido bastante expressivo ao longo dos últimos cinco anos. Houve acréscimo de mais de R$ 1 trilhão em valores de agosto de 2024. Alta de 5 pontos porcentuais do PIB, chegando a 33%. Não é pouca coisa! Para 2024, projetamos crescimento de 7,15%. E para 2025, mesmo num ritmo menor, mais 5,76%
DCN – Independentemente do crédito, de um modo geral crescemos ‘artificialmente’?
Meirelles – O motor do crescimento tem sido essa transferência de recursos do Estado. E o cenário não é benigno como era na primeira década do século. Temos um déficit no setor externo de 2% do PIB em transações correntes. Parte desse crescimento econômico tem sido financiado pelo setor externo também. Isso tudo resumido, o custo desses recursos, que é o custo de oportunidade, se dá pelo custo da dívida. Quanto está custando tomar dívida do setor público? Está em dois dígitos, e crescendo. Do ponto de vista de teoria econômica, é o chamado crowding out.
DCN – Do que se trata o crownding out?
Meirelles – O crowding out é quando o governo, ao tomar a prevalência do motor econômico, acaba tendo por reflexo ‘cuspir’ o setor privado, já que o custo do capital fica muito alto. A pressão inflacionária obriga o Banco Central a tentar conter essa pressão subindo os juros. O que vemos é toda a curva de juros e a curva de juros de longo prazo subindo, o que é completamente impeditivo para os investimentos do capital. Nesse sentido, é pouco provável que a participação do capital em relação ao PIB de 2025 vá ser interessante, vá ser relevante.
DCN – Qual a projeção?
Meirelles – Em 2024, a gente prevê crescimento de 5% nesse setor de formação bruta de capital fixo, mas no próximo ano decréscimo de pelo menos 1%.
DCN – Então no crownding out o crescimento motivado pelo governo é quase anulado porque aperta o setor privado?
Meirelles – É aquele chamado voo de galinha.
DCN – E isso baterá no setor varejista. Qual a projeção para fechar este ano?
Meirelles – Estamos projetando 4,2% para o varejo restrito e crescimento de 3,6% para o varejo ampliado [material de construção e setor automotivo].
DCN – Já para 2025 a previsão não é das melhores, né?
Meirelles – Todas as nossas projeções são uma distribuição de probabilidade. Então, essa árvore que você está vendo nas projeções do relatório, logicamente, mostra galhos mais positivos e galhos mais gastos. Isso colocado, prevemos alta de 1,3% no varejo restrito e variação de 0,2% no ampliado.
DCN – Pouco, não?
Meirelles – A questão aqui é que a China está desacelerando. E o preço das commodities, que é um grande indutor de disponibilidade de renda, não será tão positivo. A produção agrícola este ano não foi grande coisa e de novo não será tão positiva assim.
DCN – Ou seja, internamente é pouco provável que o juro caia muito. Pelo lado externo, não deverá ser um ano muito fácil. Há alguma saída?
Meirelles – De onde poderia vir um cenário externo positivo para 2025? Talvez de uma queda no preço do petróleo, caso tenha fim o conflito no Oriente Médio, ou pelo menos uma trégua, e maior oferta da Arábia Saudita que traga o petróleo a US$ 65 o barril, alguma coisa assim. Isso poderia aliviar um pouco a pressão inflacionária e já no segundo trimestre de 2025 fazer a Selic começar a se distender, reduzir um pouco. As más notícias talvez não sejam tão más assim.
DCN – No Relatório Tendências do Varejo, chamou a atenção a projeção de alta do PIB. Em 2024, é de 2,5%. No ano que vem, 0,5%. São números relativamente distantes do Focus divulgado pelo BC na segunda-feira (4), que prevê crescimentos mais elevados: 3,1% (2024) e 1,93% (2025). Por quê?
Meirelles – Sobre 2024, os dados do quarto trimestre, já em função dessas expectativas de taxas de juros mais altas, podem trazer desaceleração um pouco maior do que as expectativas do mercado feitas pelos economistas ouvidos pelo Focus. Sobre 2025, vale reforçar que o Relatório Tendências do Varejo é um exercício econométrico, e todo exercício econométrico você olha e analisa o passado e vê uma trajetória para uma análise mais para frente. Isso dito, é assim que enxergamos 2025.
DCN – O que explicaria esse crescimento tão pequeno no ano que vem?
Meirelles – De alguma maneira haverá necessariamente um corte de gastos [públicos]. Num segundo ponto, também a oferta de crédito provavelmente vai se reduzir. Além disso, o elevado custo do capital levará a um menor nível de investimento. Junte-se outro dado que salta aos olhos [no relatório], que é o nível de crescimento da renda: [prevemos] uma queda de 10,8%. Sairemos de um crescimento de 6,6% este ano para essa queda. Por fim, desemprego um pouco acima do que neste ano [de 6,2% para 7,8%]. Tudo somado daria uma taxa bastante mais baixa.
DCN – Haverá ritmo de crescimento baixo na economia, queda na renda e aumento da desocupação. Isso não faria a projeção de inadimplência subir? Nas projeções de vocês ela se mantém.
Meirelles – A percepção é de que a oferta de crédito dos bancos é muito bem gerenciada. Está mais nesse controle na origem do crédito. E salvo momentos pontuais a trajetória da inadimplência não dá grandes picos.
DCN – De toda forma, predomina um cenário conservador para 2025, não?
Meirelles – E quando as notícias não são boas, existe na economia o chamado Princípio das Notícias Ruins. Quando há um estoque de notícias ruins no horizonte, a decisão do empresariado é esperar.
DCN – E governo federal e parlamento não colaboram para mudar esse conjunto de notícias…
Meirelles – É um ponto interessante. Se o governo conseguisse reduzir o estoque de notícias ruins, por exemplo, conseguindo mostrar um nível de corte de gastos que reduzisse ao mínimo o déficit primário, acho que isso seria um bom indutor para 2025.
DCN – Caso um varejista pergunte a você, a partir desse relatório de estreia, o que fazer, qual seria a recomendação?
Meirelles – O varejo é um dos setores mais competitivos de todo o mercado, isso se não for o mais competitivo. Diferentemente de outros setores, ele sofre uma competição muito grande entre si, e somam-se a isso outros dois fatores importantes. Um é a questão da acelerada evolução tecnológica, o outro são os novos marketplaces internacionais, que também têm gerado pressão sobre o varejo. A recomendação aos varejistas, então, seria fazer um esforço grande em buscar eficiência para reduzir o nível de endividamento.
DCN – Muita análise e muita resiliência…
Meirelles – O conselho é tentar surfar um pouco o cenário positivo nestes dois meses finais de 2024 para conseguir minimamente gerar um caixa que possa ajudar a atravessar o período um pouquinho mais difícil de 2025. Existe também outra questão para o varejo hoje: como ter ganhos de escala? Pensar em algumas sinergias, alguns acordos entre varejistas, para aumentar a musculatura do ponto de vista de ganhos de escala.
DCN – Em suma, projetar 2025 como base de 2026?
Meirelles – Sim. Como dizem, se o Brasil não é para amadores, o varejo é ainda menos.
RELATÓRIO TENDÊNCIAS DO VAREJO
Acompanhe abaixo uma síntese da primeira edição do Relatório Tendências do Varejo, produzido pelo Centro de Excelência em Varejo (CEV) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV) e assinado por seu editor, Ricardo Meirelles de Faria, e Maurício Morgado, coordenador do FGVcev.
Acaba de ser divulgada a primeira edição do Relatório Tendências do Varejo, uma robusta fotografia e análise do segmento varejista e do cenário macroeconômico. Com ele nasce também o Índice de Tendência de Consumo (ITC). Desenvolvido pelo Centro de Excelência em Varejo (CEV) da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, esse conjunto de dados e análises está sendo veiculado com exclusividade em parceria com a DC NEWS – agência de notícias da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Haverá nova edição no fim deste ano e a partir de 2025 o Relatório Tendências do Varejo será divulgado nos meses de março, junho, setembro e dezembro. O trabalho é coordenado por Ricardo Meirelles de Faria, que é mestre e doutor em Economia pela FGV-SP e professor de Macroeconomia, Economia Brasileira, Política Monetária e Banking na FGV-SP, além de fundador e economista-chefe da Linus Galena Consultoria Econômica. A seguir, os principais trechos do primeiro relatório, que é dividido em quatro grandes blocos: Varejo Restrito, Varejo Ampliado, Contas Nacionais e Índice de Tendência de Consumo (ITC).
1.VAREJO RESTRITO
“O varejo brasileiro tem crescimento de 4,0% em agosto, no acumulado em 12 meses. Tal dinâmica é consequência da expansão fiscal. Há que se fazer a ressalva de que tal expansão fiscal não é em nenhum modo sustentável e tem gerado como consequência taxa de juro extremamente alta que afeta a saúde financeira das empresas e seu ritmo de expansão dos investimentos. De forma simplificada, as empresas varejistas têm apresentado melhor faturamento em 2024, porém não com tanta melhora no resultado líquido (bottom line), em razão da elevação das despesas financeiras. Não antevemos mudança estrutural no contexto econômico nos próximos dois anos, 2025 e 2026. Haverá um cenário de crescimento não tão forte para 2025, em virtude de um ritmo menor de expansão dos gastos públicos – nada que se possa comemorar como solução da dinâmica fiscal – e também em razão da elevação das taxas de juros. Nossos modelos preditivos mostram crescimento do varejo restrito em 2024 (+4,18%) e menor em 2025 (+1,25%).”
VAREJO RESTRITO – Combustíveis e Lubrificantes
“Diga-me o nível da intervenção governamental sobre os combustíveis que te direi o consumo. A história é longa e bem conhecida. O preço de energia, em particular aquela dos combustíveis automotivos é um importante indutor de boas avaliações ao líder político em exercício. Estimamos uma queda anual de 3,39% no consumo de combustíveis e lubrificantes em 2024 e para 2025, uma ligeira queda de 1,55%.”
VAREJO RESTRITO – Hiper & Supermercados, Alimentos, Bebidas e Fumo
“O setor mostra períodos bastante distintos ao longo deste século. De 2002 até 2014, houve crescimento acelerado em razão do boom econômico do período. Ele se converte em retração no auge da crise, 2015 e 2016, para uma pequena retomada a partir de 2017. O que constatamos aqui é que a partir de 2014 o crescimento do setor de hipermercados e afins caminha muito próximo ao ritmo de crescimento populacional. Projetamos crescimento de 4,15% em 2024. Para 2025, quase estabilidade: 0,7%.”
VAREJO RESTRITO – Tecidos, Vestuário e Calçados
“O setor jamais se recuperou, em termos de volume de vendas, do fim do boom econômico dos primeiros 15 anos deste século. O atual patamar de vendas se equipara ao de agosto de 2006. Depois de um 2023 bastante desafiador, com queda no volume de vendas de 4,6%, projetamos crescimento de 2,7% (2024) e, para 2025, de 6,4%, em certa medida um efeito retardado do crescimento mais forte da renda e do emprego neste ano.”
VAREJO RESTRITO – Móveis e Eletrodomésticos
“É emblemática a evolução do setor de móveis e eletrodomésticos nos últimos 22 anos. Cresce fortemente a partir de 2003 até 2014, enfrenta forte queda com a crise de 2015 e 2016, e se recupera a partir de meados de 2018. Desde então, apresenta estabilidade somente abalada pela pandemia, efeito que se mostrou passageiro para o setor. Para 2024, projetamos crescimento de 3,65% e para2025, de 1,10%.”
VAREJO RESTRITO – Artigos Farmacêuticos e Afins
“Itens essenciais impactados, positivamente, com a forte alteração na pirâmide etária brasileira. O setor cresce quase ininterruptamente ao longo deste século – teve ligeira estagnação com a crise recessiva de 2015 e 2016 e uma inevitável queda bimestral com a pandemia. Prevemos que encerre o ano com 14,5% de crescimento. Para 2025, alta de 7,8%.”
VAREJO RESTRITO – Livros, Jornais, Revistas e Papelaria
“Foram necessários 12 anos, de 2008 a 2020, para o setor encolher pela metade. Essa é só a ponta do iceberg das transformações tecnológicas que remodelarão completamente nossa sociedade. A reconfiguração de livros, jornais e revistas para a versão digital reduziu fortemente o custo de produção. Essa transformação afetou fortemente os winners e loosers do setor. O setor de papelaria ainda resiste, aguardando talvez o tsunami final da transformação completa da ‘escrita’ digital. Para 2024, projetamos queda de 6,55%. Entretanto, para o ano que vê certa recuperação, com crescimento de 4,1%.”
VAREJO RESTRITO – Materiais de Escritório, Informática e Comunicação
“Oscilando em patamar próximo ao de 2010, o setor não conseguiu retomar o volume de vendas do pré-pandemia e caminha num ritmo quase 20% menor. Para 2024, projetamos crescimento de 1,21% e para 2025, de 1,63%.”
VAREJO RESTRITO – Outros Artigos de Uso Pessoal e Doméstico
“O segmento apresentou queda de quase 20% ao longo de 2022 e 2023 e tem volume de vendas próximo ao do final de 2014. Pegando carona no bom ano do varejo, no entanto, projetamos crescimento de quase 6% para este ano e quase estabilidade em 2025, -0,43%.”
2.VAREJO AMPLIADO
“Os dois setores que se incorporam ao indicador do varejo restrito – material de construção e automóveis, motos, partes e peças – têm ritmo de crescimento bem distintos até o momento, respectivamente de 2,3% e 12,1% no acumulado em 12 meses até agosto. Material de construção terá o primeiro ano positivo desde 2021, depois do rebote de 2022 e 2023. Em 2024, o setor deverá entregar crescimento na casa de 3,4%, maior do que a média dos últimos quatro anos, de 1,2%. Já o setor de automóveis, motos, partes e peças acumula +20% nos últimos 24 meses, mas com grandes desafios para os próximos trimestres. Os desafios são de natureza doméstica e também internacional. Pelo lado doméstico, a elevação das taxas de juros. Pelo lado internacional, as fortes transformações tecnológicas na propulsão dos veículos automotores – leves e pesados – tem implicações estratégicas grandes, em termos de concorrência internacional e mix de produtos. Estimamos crescimento de 3,5% de para o varejo ampliado em 2024 e quase estabilidade (+0,24%) para 2025.”
VAREJO AMPLIADO – Material de Construção
“Dividir os 24 anos deste século ao meio gera bons insights quanto ao setor de material de construção. Teve forte crescimento nos primeiros 12 anos, que chamamos de década da bonança, um crescimento médio anual de 6,5%. A partir de 2013, inicia-se a grande recessão que atinge o pico em 2016. Depois vem uma pequena recuperação até a pandemia que, paradoxalmente, faz com que material de construção seja talvez o único setor econômico que tenha se beneficiado daquele momento. Mas em resumo não houve crescimento acumulado nos últimos 12 anos. Para 2024, projetamos +3,56%. Para 2025, de 0,67%.”
VAREJO AMPLIADO – Autos, Motos, Partes e Peças
“O segmento de bens duráveis apresenta sempre crescimento típico, pró-cíclico, impactado fortemente pelo comportamento da renda, e ainda mais pelo custo do crédito, uma vez que boa parte das vendas é a prazo. Nesse sentido, a decisão do Banco Central de iniciar o processo de elevação da taxa de juro gera grande apreensão. O setor também enfrenta grandes desafios estruturais em razão da evolução nas tecnologias de propulsão com a entrada no mercado dos veículos híbridos, híbridos plug-in e elétricos. Para 2024, projetamos crescimento de 11,32%. Para 2025, queda de 1,29%.”
3.CONTAS NACIONAIS – PIB
“Já vimos este filme antes: a busca por crescimento econômico, turbinando o lado da demanda. Transferências de renda e gastos governamentais em patamares não condizentes com a sustentabilidade intertemporal da dívida pública. Bem, a agência Moody’s diz que não é bem assim – as reformas recentes estão dando resultado e o Brasil merece mais um upgrade em sua nota de crédito soberano, a última antes do tão sonhado retorno ao grau de investimento. E iniciam-se as disputas para qual lado estaria certo. A verdade, na maioria das vezes, está no meio. O governo brasileiro ainda gasta muito e gasta mal e as implicações desta gastança tem um efeito colateral inusitado e muito ruim: amplifica a já desastrosa desigualdade social, pois implica uma taxa de juro real elevadíssima que amplia o retorno do pequeno grupo de credores da dívida pública e eleva a dívida do grupo devedor. Em nossas projeções, a economia brasileira deve crescer 2,5% em 2024, estimativa um pouco mais baixa que o atual consenso de mercado. Já para 2025, em função do juro real alto, arrefecimento dos gastos fiscais, nossos modelos econométricos vislumbram redução forte no crescimento, para 0,5%.”
CONTAS NACIONAIS – Consumo das Famílias
“Nos últimos cinco trimestres, desde o segundo trimestre de 2023, o consumo das famílias cresce a um ritmo superior a 3% no acumulado em quatro trimestres. Não é pouca coisa. Projetamos para o final de ano, fechar em +3,6%. Por sua vez, no próximo ano, projetamos crescimento de 1,4%.”
CONTAS NACIONAIS – Consumo do Governo
“O ritmo do consumo do governo se acelerou bastante nos dois primeiros trimestres de 2024, levando seu ritmo nos últimos quatro trimestres a bater 2,4%. Projetamos uma ligeira queda nos dois trimestres finais de 2024, encerrando o ano em 1,9%. Para 2025, nosso primeiro cenário é uma contenção de gastos levando a quase estabilidade (-0,1%) dos gastos em comparação com 2024. Tudo, obviamente, irá depender da força de persuasão dos ministros da Fazenda e do Planejamento junto ao presidente da República.”
CONTAS NACIONAIS – Serviço & Comércio
“Em termos do indicador de Comércio das Contas Nacionais, projetamos crescimento de 3,17% para 2024 e estabilidade para 2025. Para o setor de Serviços projetamos crescimento de 2,7% (2024) e 0,7% (2025).”
4. ÍNDICE DE TENDÊNCIA DE CONSUMO
“Eventos econômicos, em sua grande parte, são eventos retroalimentados. O setor de varejo não foge à regra. Estamos sempre buscando capturar as principais variáveis econômicas que impactam este importante setor da economia brasileira e que representa aproximadamente 10% do nosso PIB. Massa de rendimentos, emprego, crédito, confiança, endividamento e comprometimento da renda e taxa de juros estão entre as variáveis mais impactantes para o setor. Com base neles, construímos o Índice de Tendência de Consumo (ITC). Este primeiro protótipo já mostra forte correlação com o indicador do varejo restrito da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. Nossas estimativas projetam crescimento de 3,10% para 2024. Para 2025, há uma expectativa de queda de mesma magnitude.”
ITC – Mercado de Trabalho
“O mercado de trabalho tem apresentado surpreendente performance ao longo dos três últimos anos. A taxa de desemprego caiu de mais de 14% em 2020 para 6,6%, na última divulgação do IBGE, no mês de agosto de 2024. O número de desocupados está estimado atualmente em 7,2 milhões de pessoas ante 102,5 milhões de pessoas ocupadas, totalizando uma força de trabalho de 109,8 milhões de pessoas. A dinâmica é clara: um impulso forte nos gastos e transferências do governo aumentando a renda agregada das famílias, induzindo ao consumo agregado. De acordo com nossos modelos econométricos, a trajetória esperada para o final de 2024 deverá levar a taxa de desocupação a 6,21%, um recorde de nossa história recente. Já para 2025, a taxa subiria para 7,84%, patamar mais próximo de uma taxa de desemprego natural para a economia brasileira.”
ITC – Renda
“Nos últimos 42 meses, janeiro/21 até agosto/24, o ritmo de crescimento anual da renda ficou próximo de 6%, bastante superior ao crescimento do PIB e, muito próximo de nossa estimativa para o seu crescimento em 2024 (+6,64%). Para o próximo ano, olhando para uma perspectiva histórica de mais de uma década, projetamos como cenário queda de mais de 10% em relação à 2024, o que anularia o ganho deste ano e de parte de 2023. De onde viriam as hipóteses econômicas para esse arrefecimento? Do calcanhar de Aquiles da economia brasileira: baixa produtividade do trabalho.”
ITC – Crédito
“O ritmo de crescimento do crédito à pessoa física, em termos reais – deflacionado pelo IPCA – tem sido bastante expressivo nos últimos cinco anos, representando um acréscimo de mais de R$ 1 trilhão em valores de agosto de 2024, acréscimo de 5 pontos porcentuais do PIB, chegando a 33% em agosto último. Para 2024, projetamos um crescimento de 7,15% e para 2025, de 5,76%. No recorte de crédito consignado, o avanço ainda maior. Para 2024, projetamos crescimento nominal de 10,74% e para 2025, de 11,90%.”
ITC – Confiança do Consumidor
“O índice de confiança do consumidor, medido pelo FGV/Ibre, se encontra atualmente em um bom patamar, em termos históricos. O desemprego está em recorde de baixa, a massa salarial em recorde de alta. Mas projetamos um 2025 com exigência de redução no ritmo de crescimento dos benefícios fiscais buscando atender à meta de resultado primário das contas públicas, elevação nas taxas de juros e, consequentemente, no custo do crédito e eventual pequeno aumento nas taxas de desemprego. Esse conjunto de fatores nos leva a crer que a confiança do consumidor possa se reduzir ligeiramente. Para 2024, estimamos queda no patamar do indicador de 2,73% em comparação com o final de 2023 e para 2025, queda anual de 4,94%.”
ITC – Endividamento
“O boom econômico da primeira década do milênio até a grande crise de 2015 e 2016 veio acompanhado de uma forte oferta de crédito às famílias. Esse crescimento no endividamento das famílias como proporção de sua renda nacional disponível bruta (RNDBF) se estabilizou a partir de 2015 nem tanto pelo desejo da demanda, mas pela contenção da oferta, e permaneceu assim até a crise da pandemia, quando volta um forte crescimento neste endividamento de 40% para 50% da RNDBF. A partir de 2022, inicia-se uma ligeira queda. Agora, o grande assunto é a crise de endividamento das famílias em decorrência da liberação dos aplicativos de apostas, uma tragédia anunciada, grave e com repercussões sobre o setor financeiro. Projetamos que o endividamento das famílias encerre 2024 e 2025 nos seguintes patamares em relação ao PIB: respectivamente: 47,40% e 47,13%.”
ITC – Custo do Crédito
“A média ponderada por segmentos muito díspares como crédito imobiliário, para automóveis, crédito pessoal e rotativo caiu, a partir de 2023, dos quase 40% a.a. para próximo de 32% a.a. Embora já se tenha dado início à elevação das taxas básicas de juros, projetamos um patamar próximo dos 32,0% a.a. para o final de 2024 e em 31,56% a.a. para o final de 2025.”
ITC – Inadimplência
“Nos últimos dez anos, a inadimplência flutua ao redor de um patamar de 3,7%. O patamar atual é o mesmo daquele de 2014, depois de sofrer uma elevação com a crise de 2015 e 2016, até a chegada da pandemia, que elevou a inadimplência instantaneamente nos primeiros dois meses. A partir daí, o gigantesco auxílio fiscal fez com que as taxas caíssem consideravelmente. De toda forma, prevemos uma estabilidade na taxa de inadimplência para final de 2024 e 2025.”
IMAGEM: Fábio D'Castro/DC