Confiança do consumidor de baixa renda está no pior patamar desde o início da pandemia

O Índice de Confiança do Consumidor Brasileiro, da ACSP, atingiu 91 pontos em maio. Entre os mais pobres, o indicador registrou 59 pontos

Renato Carbonari Ibelli
20/Mai/2022
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A confiança do consumidor brasileiro continua abalada pelos problemas que se acumulam na economia. A expectativa de economistas era que o fim das medidas restritivas estimulasse o consumo reprimido pela pandemia, mas esse movimento foi freado rapidamente pela escalada da inflação e dos juros.

Nesse contexto, o Índice de Confiança do Consumidor Brasileiro, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), oscilou apenas 3 pontos para cima de janeiro, quando registrava 88 pontos, até maio, quanto bateu os 91 pontos. Destaca-se que, pela metodologia da ACSP, resultados abaixo dos 100 pontos denotam pessimismo do consumidor.

Em uma análise mais ampla, a última vez que o indicador esteve no patamar otimista foi em janeiro de 2020, portanto, há quase dois anos e meio.

O que o estudo da ACSP também revela é que não há um comportamento homogêneo entre os consumidores. Os de menor renda são os que estão mais retraídos. Entre as classes D e E, o Índice de Confiança está bem abaixo da média, em 59 pontos, após queda de dois pontos em relação a abril.

São os mais pobres que mais sentem o impacto da inflação. Isso porque a alta dos preços, mesmo estando disseminada em 78% dos produtos e serviços, concentra as maiores elevações em itens essenciais, como alimentos, gás de cozinha e energia, que têm peso maior no orçamento da baixa renda.

De maneira global, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já acumula 4,29% no ano, até abril, e tudo indica que deve superar os 10% ao final de 2022. Em 12 meses, a inflação bate os 12,13%. 

De volta ao levantamento da ACSP, quando se olha para os consumidores de maior renda, a trajetória da confiança se mantém acima da média. Em maio, o Índice de Confiança das classes A e B chegou aos 101 pontos, dois a mais que em abril, passando para a região do otimismo pela primeira vez desde o início da pandemia.

Esse comportamento é semelhante na classe C, que também está otimista, ao registrar 102 pontos em maio, um a mais que em abril.

Segundo Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP, “o aumento da mobilidade social explicaria grande parte da melhora da confiança da classe AB.”

No caso da classe C, segundo o economista, “as injeções de recursos oriundos do saque do FGTS, da antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas, do Auxílio Brasil, além da ampliação do crédito consignado, estariam por trás do aumento da confiança.”

PROBLEMAS FINANCEIROS

Para a maioria dos entrevistados da pesquisa da ACSP, independentemente da classe social, as finanças pessoais estão ruins: 46% deram essa resposta, enquanto 32% afirmaram que a situação financeira está boa. Esses percentuais praticamente não variaram desde o início do ano.  

Já em relação à segurança no emprego, os dados são mais positivos, com 36% dos entrevistados garantindo que estão mais confiantes na manutenção do emprego do que há seis meses, enquanto 29% afirmaram estarem menos confiantes.

O desemprego está em queda, o que ajuda a aumentar a segurança no trabalho. Por outro lado, as oportunidades estão aparecendo no mercado informal ou sem carteira assinada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a informalidade atinge 40,1% da população ocupada no país. Uma outra fatia importante, de 26,5% dos ocupados, trabalham por conta própria.

Nessa realidade do mercado de trabalho, embora as oportunidades estejam aparecendo, remuneram mal. Daí a sensação capturada pela pesquisa da ACSP de que as finanças estão ruins para a maioria dos brasileiros.

IMPACTO NO CONSUMO

Nesse quadro, que revela queda no poder de compra por conta da inflação, juros elevados e da precarização do mercado de trabalho, o consumo de itens de maior valor agregado acaba sendo adiado.

Pelo levantamento da ACSP, 38% dos entrevistados disseram estar pouco confiantes para comprar um carro ou uma casa neste momento, enquanto 32% afirmaram estar confiantes para realizar tais aquisições.

No caso de eletrodomésticos, com fogão ou geladeira, há um empate, com 36% dispostos a realizar essas compras, e outros 36% que preferem postergar esses gastos.

Os dados do Índice de Confiança do Consumidor Brasileiro são levantados pela PiniOn para a ACSP. Para chegar a eles, foram entrevistadas 1.732 pessoas espalhadas pelas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

IMAGEM: Paulo Pampolin/DC

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