Como empreendedores podem agir em tempos de incerteza econômica
Em evento da Endeavor, executivos e empresários discutem histórias de sucesso

Imagine um encontro entre alguns dos maiores empresários do país, que ao longo de um dia palestram e trocam ideia com empreendedores à frente de empresas de alto impacto, com grande potencial de crescimento e geração de empregos. Assim é o CEO Summit, organizado pela Endeavor, entidade de fomento ao empreendedorismo
A edição 2015 do evento teve como convidados Jorge Gerdau (Gerdau), Claudia Sender (TAM), Bernardo Ouro Preto (St. Marche e Eataly), Constantino Jr. (Gol), Flávio Rocha (Riachuelo), Guilherme Leal (Natura), Julia Hartz e Kevin Hartz (Eventbrite), entre outros.
O encontro também teve uma programação voltada para orientações aos empreendedores, como grupos de discussão sobre gestão de equipes, finanças, internacionalização, e-commerce e brading.
Saiba o que pensam e como atuam Claudia Sender, presidente da Tam, e Bernardo Ouro Preto, fundador da St. Marchê.
FLEXIBILIDADE PARA SUPERAR TURBULÊNCIAS
Em momentos de incerteza, o recomendado é diversificar os negócios. Essa foi a orientação de Claudia Sender, presidente da Tam. “Não pode manter todos os ovos na mesma cesta”, disse Claudia. “É fundamental ter flexibilidade e resilência.”
A executiva comentou que a empresa está focando bastante no mercado internacional – atuando principalmente na América Latina, onde possui operações em sete países.
A estratégia tem como objetivo não depender apenas do mercado do nacional. A executiva comentou que o setor de aviação comercial vive de ciclos de planejamento longos, mas com alta volatilidade na operação em curto prazo.
“Estamos entre os setores que mais estão expostos as variáveis macroeconômicas”, disse Claudia. Atualmente, cerca de 60% dos custos da Tam são em dólares, o que faz a desvalorização do real ter grande impacto nas despesas da empresa.
Nesse momento, temos que garantir que o básico esteja arrumado”, afirma Claudia. “Temos que ter dinheiro no caixa para não deixar de atender os passageiros, mesmo com uma menor demanda.”
Outra recomendação da executiva foi manter os investimentos em inovação e na satisfação dos clientes. Não adianta ficar só na retranca. “O investimento é essencial para que os clientes continuem valorizando a empresa”, diz a executiva. “Pode haver menos gente voando, mas eles irão voar conosco.”

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INOVAÇÃO PARA VENCER NUM SETOR TRADICIONAL
Bernardo Ouro Preto e Vitor Leal decidiram pedir demissão de seus empregados para empreender, mas não sabiam no que poderiam investir. “Pedir demissão foi uma maneira de sair do comodismo de salário fixo e bônus”, afirma Ouro Preto.
A aposta da dupla foi num setor conhecido por ter muitos concorrentes e pouca margem: o varejo de alimentos.
A escolha se deu principalmente por ser um mercado muito grande e, ao mesmo tempo, fragmentando. Por volta dos anos 2000, o mercado de varejo de alimento era o segundo maior do Brasil – perdendo apenas para o de construção civil.
Os sócios buscaram identificar como as classes alta e médias paulista consumiam no varejo. Eles constataram que 32% compravam em grandes mercados, como Carrefour e Extra. Aproximadamente 34%, compravam em supermercados, como o Pão de Açucar. Os 34% restantes consumiam em mercados de bairro. “Decidimos focar nesse segmento”, afirma Ouro Preto.
Era o início da rede St. Marchê. Treze anos após a fundação, a empresa possui 20 lojas em áreas nobres de São Paulo e empregada mais de 3 mil funcionários.

Quais são os segredos da trajetória de sucesso da St. Marchê? A primeira resposta do empreendedor é "sorte". Mas não foi só isso.
No início, a empresa teve prejuízo. Quando compraram o empório que viria a ser a primeira unidade da St. Marchê, o faturamento do estabelecimento era de R$ 6 milhões. No primeiro ano, as receitas chegaram a R$ 6,1 milhões – num ano que a inflação foi de mais de 12%.
“Nessa fase, estavamos preocupados em entender como funcionava o negócio, pois não tínhamos experiência nenhuma na área”, afirma Ouro Preto.
Eles também optaram por não contratar nenhum executivo de mercado, pois alguém de fora provavelmente iria ditar as regras e implantar um modelo similar aos dos concorrentes – e ser igual era o que os sócios menos queriam para a empresa.
Nas palavras do empreendedor, ser diferente é o ponto forte da rede. Os pisos da loja são de madeira, o setor de padaria ocupa 15% da área de vendas do estabelecimento, as gôndolas ficam nos fundos e a área de perecíveis à frente – o contrário do que ocorre nas redes tradicionais.
Recentemente, os sócios lançaram a unidade brasileira do restaurante italiano Eataly. “A expansão faz parte do conceito de inovação em produtos, experiência e arquitetura”, afirma Ouro Preto.