Chocolate com gostinho brasileiro pelo mundo
Os sócios da Nugali, fabricante de chocolates do interior de Santa Catarina, vendem para quatro países e projetam que as exportações atingirão 20% do faturamento nos próximos três anos
Os Emirados Árabes Unidos não possuem uma gastronomia exclusiva. No país dos xeiques bilionários, a culinária é influenciada por países próximos, como Arábia Saudita e Irã, localizado do outro lado do Golfo Pérsico.
Em restaurantes de Dubai, o cliente pode pedir um Kabsa, prato à base de arroz com amêndoas e passas de uva, acompanhando de pedaços de galinha cozinha temperada com cominho, cardamomo, açafrão e outras especiarias.
Há muitos doces como sobremesa. Tâmaras secas açucaradas, amêndoas cobertas com mel e uma linha de chocolates com açaí, banana e castanha-do-pará. É isso mesmo. Os sabores brasileiros encantam os árabes – graças à Nugali, fabricante brasileira de chocolates finos.
Fundada em 2005, em Pomerode, pequena cidade catarinense, a Nugali é especializada em produzir chocolates premium. O catálogo com mais de 40 produtos possui chocolates em barra, bombons recheados e dragées (frutas e nozes cobertas de chocolate).
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De acordo com Maitê Lang, que fundou a Nugali em sociedade com Ivan Blumenschein, os diferenciais da empresa são os ingredientes naturais, chocolate com alto teor de cacau e diversidade de produtos com gostinho brasileiro.
E a brasilidade é o principal atrativo da Nugali para os clientes internacionais. Além dos Emirados Árabes, a empresa exporta para Japão, Estados Unidos e Peru.
Uma das linhas de produtos criada especialmente para o mercado estrangeiro é a Cacau em Flor, composta por produtos a base de cacau típico do sul da Bahia e ingredientes como banana, açaí e outras frutas e castanhas tropicais.
Sem glúten, lactose, conservantes e corantes artificiais, o chocolate é apreciado pelo público com hábitos saudáveis. Na embalagem, a marca expressa seu posicionamento com a frase “Cacau de Aroma do Brasil”.
PLANEJAMENTO PARA EXPORTAÇÃO DUROU DOIS ANOS
A Nugali deu início ao planejamento para exportações em 2012. “A ideia era diversificar as receitas e não depender de um único mercado”, afirma Maitê.
O primeiro passou foi buscar informações na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina e na Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados.
As instituições forneceram informações para que a Nugali pudesse identificar e prospectar mercados promissores para a venda de chocolates. A empresa, então, criou um plano de negócios exclusivo para exportação e investiu em novos produtos.
A primeira venda aconteceu somente em 2014. O primeiro cliente foi um importador de Dubai, que Maitê conheceu em uma rodada de negócios em Santa Catarina. A empresa, então, teve que investir em adequações de embalagens, como redesenho de rótulos e traduções.
“Gastei 60% a mais do que esperava”, diz Maitê. Os custos extras foram desprendidos principalmente em envios de amostras de produtos e viagens internacionais.
Nos países árabes, por exemplo, Maitê teve que se adequar aos costumes locais na hora de negociar. Um homem pode se negar a cumprimentar uma mulher com aperto de mão. Ao mesmo tempo, um homem estrangeiro oferecer a mão para uma mulher local pode ser considerado uma ofensa grave.
A saga de viagens e negociações aconteceu a cada nova abertura de mercado. A Nugali participou de diversas feiras internacionais para prospectar clientes. Matiê costuma marcar presença na Fancy Food Show, evento realizado duas vezes ao ano nos Estados Unidos e considerado uma das principais portas de entrada de alimentos gourmet, regional, orgânico e natural ao mercado americano.
Entre janeiro e fevereiro de 2016, a Nugali participou pela terceira vez da Internationale Süsswaren Messe (Feira Internacional de Confeitaria), realizada em Colônia, na Alemanha.
OSCILAÇÃO NO CÂMBIO TROUXE MAIS LUCRO
Quando a Nugali começou a exportar, o dólar está bem abaixo da cotação atual – em outubro de 2014, a moeda era negociada por R$ 2,50. Nessa época, a empresa adequou os custos de produção visando a produtividade.
Houve otimização de lotes para planejar o nível de produção de acordo com a demanda, equilibrando a força de mão de obra e uso de equipamentos.
A empresa também implementou indicadores para medir desperdícios e perdas de matéria-prima, giro de estoque, falhas, retrabalho e tempo de produção.
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Devido a produção mais enxuta, a empresa obteve aumento de lucro. No último ano, a margem ficou ainda melhor, pois o produto está mais atrativo aos estrangeiros por causa do real desvalorizado.
Recentemente, a empresa iniciou um projeto de expansão para o mercado externo. Foi investido R$ 1 milhão em desenvolvimento de produto e adequação de linha. O projeto também comtempla uma nova unidade fabril. O montante deverá chegar a 10 mihões de reais nos próximos seis anos.
Até dezembro próximo a Nugali terá produzido, de acordo com a previsão, cerca de 150 toneladas de chocolate – aproximadamente 5% destinada para vendas externas. A expectativa é que as exportações sejam responsáveis por 11% do faturamento, não revelado pela companhia.
Até 2019, as exportações deverão representar 20% da receita. “Uma possível queda do dólar no futuro não inviabilizaria a nossa operação, apenas voltaríamos a margem de dois anos atrás”, diz Maitê.