Brasil joga no lixo R$ 3 trilhões em alimentos

Estudo revela que país desperdiça 40 toneladas de comida todos os dias

Agência Brasil
01/Jul/2016
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Brasil joga no lixo R$ 3 trilhões em alimentos

No Brasil, diariamente, são desperdiçados 40 mil toneladas de alimentos, segundo Viviane Romeiro, coordenadora de Mudanças Climáticas do  World Resources Institute (WRI) Brasil, uma instituição de pesquisa internacional. 

Isso coloca o Brasil no ranking entre os dez países que mais perdem e desperdiçam alimentos no mundo, afirma. Viviane participou do Sustainable Food Summit da América Latina, evento global sobre o tema promovido pela Rede Save Food Brasil nesta quinta-feira (30) em São Paulo.

“Estamos falando da cadeia de perda e de desperdício. Perda que tem a ver com a colheita, a pós-colheita, com a distribuição e o desperdício que já vem no final da cadeia, que é no varejo, no supermercado e com o hábito do consumidor”, disse a coordenadora.

Essa perda e o desperdício têm diversas implicações. Uma delas é com relação à segurança alimentar: hoje, segundo Viviane, há aproximadamente 7 bilhões de pessoas (no mundo), e a estimativa é que, em 2050, seremos 9 bilhões. 

“Enquanto isso, aproximadamente 1 bilhão de pessoas não tem acesso adequado e sofre com desnutrição e falta de alimento adequado.”

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Allan Boujanic, representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil, disse que cerca de 30% de tudo o que é produzido no mundo é desperdiçado e perdido antes de chegar à mesa do consumidor. 

Isso provoca, segundo a FAO, um prejuízo econômico estimado em US$ 940 bilhões por ano, o que corresponde a cerca de R$ 3 trilhões.

Outras implicações, segundo Viviane, dizem respeito aos aspectos econômico e ambiental, pois envolve uma questão social e de segurança alimentar, de impacto econômico, mas também de impactos ambientais, afirmou. 

“E aí destacamos essencialmente a perda da biodiversidade, impactos nessa biodiversidade, no uso do solo, na questão da água, escassez da água, e também a questão do clima, das emissões de carbono.”

Sobre a questão ambiental, Viviane disse que, se essa perda mundial com os alimentos fosse um país, ela seria o terceiro maior do mundo por emissão de gás de efeito estufa, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

REDE 

Com o objetivo de buscar alternativas para reduzir a perda e o desperdício de alimentos no país, foi criada a rede Save Food Brasil, que tem apoio da FAO, da WRI e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre outros. 

De acordo com Allan Boujanic, essa e outras campanhas da FAO para combater o desperdício de alimentos têm como principal mensagem a mudança de atitude, já que, segundo ele, é preciso que as pessoas sejam mais eficientes no uso dos alimentos, além de mais cientes de que o desperdício é uma realidade e produz muitos efeitos colaterais. 

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“É necessário um forte engajamento da sociedade civil, dos produtores e dos governos para fixar metas concretas de redução do desperdício e das perdas de alimentos não só no Brasil, mas em todo o mundo”, disse.

Alcione Silva, membro do corpo diretivo da Rede Save Food Brasil, disse que o organismo foi criado pela ONU no ano passado em diversos países. O objetivo, segundo ela é, num primeiro momento, trazer todos os atores, instituições, empresas e simpatizantes que trabalhem o tema de perdas e desperdícios no Brasil. 

“Conforme essa rede for crescendo, se tornará forte o suficiente para poder atuar em políticas públicas e inovações, trazendo soluções para esse tema de desperdício no Brasil.”

De acordo com Alcione, o desperdício e a perda de alimentos no Brasil é muito grande, mas o país pode contribuir com bons exemplos na mudança mundial desse cenário. 

Ela citou iniciativas como o Disco Xepa, de distribuição de sopas feitas com sobras de alimentos, a produção de tecnologia pela Embrapa, o Comida Invisível, que pretende fazer um food truck para conscientizar crianças e escolas sobre o reaproveitamento de sobras na cozinha, e o Fruta Imperfeita, que comercializa alimentos considerados “imperfeitos”, tais como uma batata ou cenouras tortas.

O desperdício e a perda de alimentos, segundo ela, é uma preocupação em todo o mundo porque tem um grande impacto social, econômico e ambiental.

 “A gente precisa de 50% a mais de demanda de oferta de alimentos até 2050 para alimentar essas 9 bilhões de pessoas (estimativa de população para o ano). Deveria ser até uma preocupação muito maior por parte de todos os atores”, disse.

MARCO REGULATÓRIO

Para Viviane Romeiro, uma das ações que poderia ajudar a reduzir o desperdício e a perda de alimentos no país seria a adoção de um marco regulatório sobre o tema. 

Hoje, segundo ela, há vários projetos de lei, mas que não foram aprovados ou promulgados. “É superimportante que tenhamos um marco regulatório específico e que proporcione segurança jurídica para que as empresas realizem suas doações de forma adequada e para que haja incentivos e subsídios para a redução da perda e desperdício alimentar.”.

Para a coordenadora de Mudanças Climáticas do WRI Brasil, inventariar a perda e o desperdício de alimentos é um primeiro passo importante que as empresas e que os países devem fazer. Depois, seria ideal estabelecer metas de redução e estratégias para que ocorram.

Para Alcione, da Save Food Brasil, a grande dificuldade diz respeito à cadeia logística, já que tanto a cadeia de distribuição quanto a de armazenamento e o consumidor final tem uma grande perda de alimentos por falta de infraestrutura. 

“Nossas centrais de abastecimento não tem uma infraestrutura adequada. Faltam cadeias e câmaras frias, e falta conscientização na parte de manipulação e embalagens”, disse. “O Brasil tem um grande problema de infraestrutura hoje e de logística nessa área. Diria que esse é o problema mais grave que a gente tem no desperdício de alimentos”, concluiu. 

FOTO: Thinkstock

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