Aos 20 anos, YouTube ampliou o diálogo das marcas com os consumidores
Patricia Muratori, diretora da plataforma para a América Latina, diz que os vídeos aproximam os usuários de um mundo que parecia distante, tanto financeira quanto fisicamente, e por isso são responsáveis por grande parte das decisões de compra

Sempre atrelados ao entretenimento, os vídeos do YouTube superam a audiência de qualquer outra plataforma, incluindo serviços tradicionais de TV, streaming e transmissões ao vivo. Com um público global, a plataforma registrou 491 milhões de usuários na Índia, 253 milhões nos Estados Unidos e 144 milhões no Brasil até fevereiro deste ano, quando completou 20 anos.
Dados da Nielsen mostram que o YouTube foi responsável por 11,1% do tempo de televisão via streaming nos Estados Unidos em dezembro de 2024, ultrapassando gigantes como Netflix (8,5%) e Prime Video (4%).
Em entrevista ao Diário do Comércio durante a quarta edição do Women Entrepreneur Forum (WeForum), em Belo Horizonte, Patricia Muratori, diretora do YouTube para a América Latina, destacou que a plataforma recebe mais de 500 horas de vídeos por minuto, foi responsável por gerar o equivalente a 140 mil empregos e contribuir para o PIB com mais de R$ 4,5 bilhões em 2022.
A forma mais óbvia de associar esses vídeos ao consumo são os conteúdos de reviews, em que pessoas físicas detalham a sua experiência com determinado produto. Um formato de avaliação que passou a se tornar trivial e importante para se conhecer um item novo sem sair de casa.
Há ainda outras variações, em que os usuários fazem comparativos de algumas marcas e modelos, ajudando consumidores indecisos, também o unboxing, que consiste em desembalar um produto recém-adquirido e analisar suas características de forma espontânea em frente às câmeras, a compra aspiracional, entre tantas outras modalidades de conteúdo.
O fato, segundo Patricia, é que tais vídeos aproximam quem os assiste de um mundo que muitas vezes pode parecer distante - seja financeira ou fisicamente. E esse sentimento, aliado à confiança criada por um influenciador, gera um roteiro perfeito para a jornada de consumo.
Os investimentos em publicidade confirmam esse comportamento, pois os números de 2024 são históricos: pela primeira vez, os valores direcionados para a internet superaram os da TV aberta. De cada R$ 100 investidos pelos anunciantes em compra de mídia no Brasil de janeiro a setembro de 2024, quase R$ 40 (mais precisamente, 39,5%) foram direcionados à mídia digital, enquanto a TV Aberta angariou 37,7% da distribuição de verbas publicitárias. Em terceiro lugar estão os investimentos em outras mídias, com 22,8%.
Os dados do relatório do Cenp-Meios, divulgado no início deste ano, mostram que o mercado brasileiro de mídia atingiu R$ 26,3 bilhões em investimentos publicitários no último ano - um crescimento de 12,17% sobre o registrado em 2023.
O sucesso do futebol na plataforma, por exemplo, consolida a mudança na maneira de transmitir o esporte. Neste, o campeonato estadual de São Paulo foi o que teve mais sucesso, segundo a executiva. Com a primeira partida da final entre Palmeiras e Corinthians, a CazéTV registrou 17,6 milhões de visualizações e segue rendendo visitas. Em 2025, a plataforma transmitiu pelo menos uma partida de todos os 27 torneios regionais disputados no país.
"O futebol tem disso, é ao vivo, mas continua rendendo. As pessoas assistem de novo, reveem lances desse vídeo, procuram reacts, emendam em análises, outros jogos. Fechamos o primeiro trimestre com números expressivos no esporte", disse.
A democratização da produção e do acesso instantâneo são o que, de fato, diferenciam o YouTube, na análise de Patrícia, e transformaram a maneira como as marcas se comunicam com seu público em "uma abordagem mais personalizada e dinâmica".
Nesse cenário, o YouTube, durante o Brandcast – evento voltado ao mercado publicitário –, anunciou uma parceria com a Liga Forte União (LFU) para transmitir 38 jogos do Brasileirão Série A, o principal campeonato de futebol do Brasil. O contrato, válido por três anos, permitirá que os benefícios sejam realizados pela CazéTV, canal de grande audiência quando o assunto é esporte.
Durante as Olimpíadas de Paris 2024, o canal atraiu mais de 43 milhões de usuários únicos no YouTube, sendo que a maior parte do tempo de exibição foi registrada em TVs conectadas, onde o YouTube tem registrado o maior crescimento em tempo de visualização. Em 2024, o tempo de exibição de conteúdo esportivo do YouTube na TV conectada cresceu mais de 30% em relação a 2023.
Atualmente, mais de 1 bilhão de horas de conteúdo da plataforma são assistidas em TVs todos os dias. No Brasil, mais de 75 milhões de pessoas assistem ao YouTube pela TV. As cotas de patrocínio para 2025, de acordo com Patrícia, já foram 100% comercializadas, com marcas como Casas Bahia, Claro, Hypera, McDonald’s, PagBank, Stellantis e Unilever entre os anunciantes. O que fortalece ainda mais a oferta de esportes ao vivo no YouTube.
Os games também estão entre os setores que mais crescem na plataforma. Um relatório da MIDiA Research aponta que os usuários passam, em média, 8,5 horas por semana assistindo a vídeos sobre games. Isso significa um tempo superior ao que passam jogando (7,4 horas semanais).
O engajamento dessa audiência, segundo Patrícia, é o que torna esses mercados tão promissores. E quanto mais gente assistindo, maior receita para todos os envolvidos, além de ativar outras maneiras de os canais ganharem dinheiro com clube de membros e superchats. Os números da plataforma mostram que quatro em cada dez criadores têm o YouTube como sua principal fonte de receita. No total, são dez tipos de monetização disponíveis.
Além de ficar com uma porcentagem dessas propriedades, o YouTube ainda pode ganhar com os usuários que assinarem o seu serviço premium. Entretanto, é preciso muito cuidado por parte do detentor de direitos para a inserção de publicidades - nenhum torcedor quer ter sua transmissão interrompida.
A inclusão de propagandas no meio de transmissões ao vivo pode ser controlada pelos canais, que conseguem decidir exatamente o momento da inserção durante o pré-jogo, intervalo e pós-jogo, criando a melhor experiência para a sua audiência, explica a executiva.
"Independentemente do formato, o objetivo é ter comunicação assertiva com o público e ser relevante no dia a dia dos usuários, seja em um vídeo de 15 segundos ou uma live de 10 horas. Queremos provocar o mundo digital com novidades, e as marcas valorizam isso”.
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IMAGEM: Google/divulgação