Ajustes fiscais e polarização: os desafios do próximo presidente
Terceira via inexistente e um Congresso ainda mais dividido devem dificultar a correção de rumos na economia e na política, segundo os integrantes do Comitê de Avaliação de Conjuntura da ACSP
O próximo presidente do Brasil deve enfrentar situações adversas, como um Congresso polarizado e a necessidade de realizar R$ 250 bilhões em ajustes fiscais, gerando impactos profundos na política e na economia.
Esse é o ambiente pós Eleições 2022 visualizado por empresários e economistas que participaram da reunião do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) na última quinta-feira (26).
Com o cenário eleitoral definido e polarizado pelos dois principais candidatos, o grupo de "rejeitados" acaba funcionando como barreira para o surgimento de uma terceira via competitiva - mesmo que muitos estejam torcendo por ela, disse um representante dos bancos de desenvolvimento presente à reunião.
A pedido da ACSP, os nomes dos empresários e economistas participantes dessa reunião não são divulgados.
Em resumo, qualquer que seja o resultado, o perdedor terá muitos votos, fazendo a sociedade continuar extremamente dividida, gerando o efeito colateral nefasto de aumentar uma divisão que será refletida no Congresso - e que pouco ou nada deverá colaborar para efetuar correções de rumo necessárias.
Mesmo com aumento nas projeções de crescimento do PIB de 0,5% para 1,5% em 2022, e da taxa de desemprego menor em um ponto percentual, a escalada da inflação e o avanço da taxa Selic para conter os preços continuam a preocupar.
"Já ficou claro que o BC não tentará debelar totalmente a inflação neste ano, vai espalhar as altas taxas no próximo", afirmou. "Seja quem for o representante eleito, deverá enfrentar condições para lá de adversas."
A previsão de um "ataque" de juros pelo Fed (Banco Central norte-americano) para conter a inflação, a China que, pela primeira vez em 30 anos não cumprirá suas metas de crescimento, e a Europa sem soluções visíveis no horizonte para o conflito Rússia-Ucrânia, são outras questões que devem espirrar no futuro mandatário.
"Quem iniciar em 2023 encontrará ajustes fiscais na casa de R$ 250 bilhões, um desafio bastante significativo para o eleito", disse. "Como o Congresso vai reagir, e como o resto do mundo estará é que deve ditar o que será possível fazer".
Mesmo incertas, as decisões do próximo presidente obviamente devem gerar impactos. O especialista reforçou que, a despeito de questões geopolíticas, o Brasil consegue ser um canteiro de obras e investimentos maior que a China - o que poderia impulsionar o mercado em geral, gerando divisas e empregos.
Ele destaca que, se o atual presidente for reeleito, não usará fundos do BNDES, mas do mercado de capitais e da iniciativa privada para ocupar essa necessidade. Já o ex-presidente Lula vê a questão "com outra intensidade."
"Somos nós contra fatos e desafios que virão por aí, mas vamos em frente."
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