ACSP: 127 anos em defesa da livre iniciativa e do empreendedorismo
Fundada em 7 de dezembro de 1894, a centenária Associação Comercial de São Paulo tem os olhos voltados para o futuro ao investir em serviços modernos e na capacitação de profissionais do varejo
Nesta terça-feira, 7 de dezembro, uma das mais relevantes entidades do Brasil, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), completa 127 anos de fundação.
Historicamente reconhecida pela importância de sua atuação e objetivos, a ACSP promove, desde então, a assistência social, cultural, a representação política, a defesa de interesses da classe empresarial, a filantropia e muitas outras ações voltadas ao desenvolvimento econômico e ao empreendedorismo. Entretanto, desde quando foi criada, em dezembro de 1894, a organização vai além dessas premissas.
No Brasil, as Associações Comerciais são entidades locais nascidas da base empresarial para atender às necessidades dos empresários e empreendedores, congregá-los na defesa de seus interesses e prestar serviços que facilitem a realização dos negócios. Com este propósito e baseado no princípio da livre iniciativa e da defesa do desenvolvimento local e nacional, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) foi fundada pelo Coronel Antonio Proost Rodovalho e outros 300 empresários paulistas.
Sem contar com qualquer recurso de origem governamental ou compulsório, a ACSP possui total independência nos seus posicionamentos e ações. Outra característica que a destaca desde a sua fundação é o fator multissetorial, já que se congregam em seus quadros empresários e empresárias de todos setores, além de profissionais liberais ligados às atividades econômicas, constituindo-se em um verdadeiro fórum empresarial.
Por sua atuação institucional, a ACSP já foi considerada uma Escola de Civismo, pois teve participação ativa em relevantes episódios da história da Cidade de São Paulo, do Estado e do Brasil.
Em 1918, por exemplo, a entidade foi a mediadora do fim da grande greve operária, que resultou em importantes avanços na legislação trabalhista daquele tempo. No ano seguinte, marcado pela terrível “gripe espanhola”, equipou o Hospital da Policlínica e colocou seus médicos à disposição da população.
Poucos anos depois, em 1924, São Paulo foi ocupada por militares rebeldes, que contestavam o governo central, além de ter sido abandonada pelo governador e assolada por saques no comércio e incêndios. A ACSP, então, em conjunto com o prefeito Firmiano de Morais Pinto, organizou uma força tarefa com a Polícia e o Corpo de Bombeiros para garantir a segurança do comércio e da população.
No decorrer dessa ocupação, a entidade de classe mediou a retirada dos rebeldes para evitar o bombardeio da cidade, que acabou ocorrendo. O Presidente da entidade na época, José Carlos Macedo Soares, foi acusado de colaboracionista, sendo preso e exilado, embora tenha sido procurado apenas para preservar a cidade e sua população. No exílio, escreveu o livro Justiça, no qual relata sua atuação histórica na cidade no fim da década de 1910 e começo da década de 1920. Estes acontecimentos também foram explicitados, com detalhes, no livro do jornalista Paulo Duarte intitulado “Agora Nós''. A publicação narra todos os episódios da chamada Revolução de 1924.
Já em 1932, a ACSP teve também participação ativa no Movimento Constitucionalista, tanto na mobilização da classe empresarial e da população quanto durante o período do conflito. A entidade foi a responsável por desenvolver a logística das tropas paulistas.
A Associação Comercial de São Paulo coordenou, ainda, a Campanha do Ouro para São Paulo, criada para arrecadar recursos que sustentassem a campanha militar que mobilizou a população independentemente das classes sociais, com a doação de joias e objetos pessoais e familiares. Após o fim do conflito, em outubro daquele ano, notou-se que a maior parte dos recursos arrecadados não havia sido utilizada. Por isso, foram doados à Santa Casa, que construiu um novo pavilhão e o edifício Ouro para o Bem de São Paulo, no Centro da cidade.
O presidente da ACSP daquele período, Carlos de Souza Nazareth, assumiu a responsabilidade pela participação dos empresários na Revolução. Consequentemente, também foi preso e exilado. Na partida para o exílio, escreveu carta a seus companheiros de diretoria dizendo “estar tranquilo” e pedindo que os conclamados da Associação Comercial continuassem a lutar em defesa dos ideais democráticos e liberais.
A Constituição pela qual São Paulo lutou em 32 foi aprovada no ano seguinte, mas teve curta duração, com o então Presidente da República, Getúlio Vargas, assumindo o poder absoluto em 1937 e instituindo o Estado Novo, outorgando suas leis e detendo o poder sobre os estados brasileiros.
Nos anos seguintes, a entidade continuou participando ativamente da vida política, econômica e social do país, defendendo seus princípios e valores, sem descurar das questões municipais e estaduais e da prestação de serviços. De seus quadros diretivos saíram para a vida pública ao longo do período, deputados, senadores, ministros, governadores e personalidades que ocuparam importantes cargos na vida pública da cidade de São Paulo, do estado de São Paulo e do Brasil.
Além da defesa do empreendedorismo e da economia de mercado como instrumentos de desenvolvimento econômico e social, a ACSP defende duas bandeiras específicas que considera muito relevantes para o crescimento da economia: o comércio exterior e a pequena e média empresa. Nesse sentido, realizou, em 1956, a Primeira Conferência Brasileira de Comércio Exterior, que se constituiu um marco para a discussão da política brasileira para o setor, com teses que ainda hoje são válidas. Uma delas é sobre a defesa da abertura da economia e a liberdade cambial. Participou de todas as conferências, realizadas em outros estados, organizando a nona e última em 1977, aberta pelo Presidente da República.
A ACSP promoveu, também, o Primeiro Congresso Brasileiro das Pequenas e Médias Empresas, inserindo o tema nas preocupações permanentes da entidade. Na ocasião, reuniram-se mais de mil pessoas no Auditório do Anhembi e contou com a participação dos ministros da área econômica e de especialistas.
O Quarto Congresso foi promovido pela entidade no Auditório do Senado Federal, quando foi aprovado pelo Estatuto da Pequena e Média Empresa, origem das medidas de tratamento diferenciado para as empresas de menor porte.
A ACSP organizou também, respectivamente em 1989 e 1998, a 16ª e a 24ª edições do ISBC International Small Business Congress, eventos de negócios realizados na América Latina.
Desde então, a entidade tem participado de todas as discussões sobre legislação de apoio aos empreendimentos de menor porte, tendo uma importante participação para a aprovação da criação do Microempreendedor Individual (MEI) e da Empresa Simples de Crédito (ESC).
Em relação à defesa de seus associados, a entidade, ainda em 1928, se manifestou junto às autoridades contra os ambulantes (na época conhecidos como “andorinhas”), que faziam concorrência desleal ao comércio organizado causando sérios prejuízos aos empresários e à receita fiscal.
É importante ressaltar que a ACSP sempre teve intensa colaboração com os poderes Executivo e Legislativo, contribuindo para o aprimoramento das leis e normas que regem as atividades econômicas, e continua na luta contra a burocracia e a tributação excessivas.
SCPC E A EXPANSÃO DAS VENDAS A PRAZO
Para facilitar o desempenho das empresas, a Associação, desde o início de suas atividades, propiciou a seus associados informações do mercado e das empresas, visando dar mais segurança à realização dos negócios.
O Relatório da Diretoria de 1924 já chamava a atenção para a necessidade de se prestar serviços às empresas, resumindo que era preciso atrair os empresários por seus interesses para poder defender seus ideais. Nesse sentido, criou um boletim informativo sobre a inadimplência, que se desdobrou depois no Departamento de Informações Comerciais e no embrião deste Diário do Comércio, que publicava os apontamentos e os protestos da Praça de São Paulo.
As vendas a prazo do varejo eram também muito limitadas pela ausência de um sistema de informações que garantisse segurança às transações. Por isso, organizou-se, em 1956, o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), iniciativa pioneira no País. O SCPC permitiu a massificação do crediário e, com isso, a notável expansão das vendas a prazo. O banco de dados fornecia informações dos consumidores inadimplentes e era um importante fator de constrangimento à inadimplência.
A forte expansão das vendas a prazo levou à informatização do banco de dados, o que possibilitou, também, maior sofisticação das informações oferecidas às empresas e aumento da segurança.
Com o ingresso do sistema financeiro nas vendas a crédito foi necessário interligar os bancos de dados das pessoas físicas, o que levou, por iniciativa e coordenação da ACSP, à criação da RENIC: uma rede que contava com cerca de 2000 “SPCs” de todo Brasil.
Com a expectativa da aprovação do Cadastro Positivo e o ingresso de empresas internacionais no mercado de informações, constatou-se a necessidade de dar maior autonomia operacional e realizar investimentos expressivos no banco de dados.
SCPC SE TRANSFORMA EM UMA GRANDE EMPRESA
Após o estudo de diversas alternativas por parte de um grupo de diretores e conselheiros, coordenado por Alfredo Cotait Neto e sob a presidência de Alencar Burti, se propôs a transformação do SCPC em empresa, dando origem à Boa Vista Serviços, agora transformada em empresa de capital aberto. A ACSP continua sendo sua maior acionista.
A abertura do capital da Boa Vista Serviços deve ser um caso único de criação de prestação de serviços feita por uma entidade a seus associados que se transformou em um Unicórnio (definição de startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) e deve servir de exemplo de que a modernidade e a tradição não são conflitantes. Ao contrário, a unidade em torno de princípios e valores, garantidos pela tradição, serve de balizamento para a modernização, sem prejuízos dos objetivos.
Portanto, a história dos 127 anos da ACSP revela que ela sempre foi contemporânea em seu tempo, mas com os olhos voltados para o futuro. A reorganização administrativa, a modernização das instalações e a consolidação das finanças permitiu e segue permitindo que a entidade se prepare para as transformações que estão ocorrendo em função da rápida evolução da tecnologia de informática e da comunicação, criando um cenário de desafios e oportunidades para a atividade empresarial.
Continuando com sua atuação institucional, que é o cerne de sua função, a ACSP oferece a seus associados, e aos empresários em geral – especialmente aos de menor porte –, novos e modernos serviços que lhes permitam enfrentar com sucesso esse desafio.
Um deles é a Faculdade de Comércio (FAC-SP), que visa oferecer, entre outras coisas, a base para competir nesse novo mercado ainda em transformação. Complementarmente, são oferecidas plataformas para que as empresas menores possam concorrer com as grandes, além de crédito acessível a juros abaixo do mercado para suas necessidades, por meio do ACCredito.
“Os valores e os princípios que nortearam a criação da ACSP, em 1894, e que foram mantidos por seus sucessores por mais de um século, continuam sendo a base para a continuidade da trajetória da entidade pelos próximos anos. E que esperamos ser de muito trabalho e desenvolvimento. No nosso mandato, é isso que defendemos. Um empreendedorismo forte e pujante, sempre”, afirma o presidente da ACSP, Alfredo Cotait Neto.
COMEMORAÇÃO
Para celebrar os 127 anos, a entidade foi realizada uma solenidade especial na Sessão Plenária da ACSP. Em seguida, foi realizada uma missa no Pateo do Collegio, em alusão ao aniversário da Associação. O evento contou com a participação do coral Schola Cantorum, do Pateo Collegio.
IMAGENS: Arquivo ACSP