A história por trás do nome 'Diário do Comércio'
Nascemos em 1924 como Boletim Confidencial, rebatizado como Boletim Diário em 1929, nome que usamos até 1º de julho 1949, a partir de quando a publicação ganhou a identidade atual
“Depois de relatar os motivos que aconselhavam aquela alteração, e de apresentar diversas sugestões para a nova denominação dêsse (sic) órgão informativo, propôs o sr. Izidro Pedro dos Santos Costa que, no dia seguinte ao da comemoração do 25º aniversário de sua fundação, o Boletim já passasse a circular com novo nome. Debatido longamente o assunto, foi por fim aprovada, por unanimidade, a escolha do título ‘Diário do Comércio’ para a publicação...”.
Foi assim, de forma objetiva, que a ata de reunião da diretoria da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), ocorrida em 31 de maio de 1949, registrou para a posteridade o momento em que se oficializou o nome que substituiria Boletim Diário e batizaria este jornal até os dias de hoje.
Mas uma busca mais minuciosa nos arquivos da associação comercial mostra que o processo de escolha do nome Diário do Comércio não foi simples, envolvendo debates que se estenderam por meses entre os superintendentes do jornal Izidro Pedro e Alexandre Hornstein, que defendiam a mudança de nome, e a maioria dos demais dirigentes da ACSP, que se mostravam mais cautelosos.
O registro mais antigo que revela a intenção de rebatizar a publicação data de novembro de 1948, cerca de sete meses antes da mudança ocorrer de fato. Ata de reunião ocorrida nesta data registra que havia chegado ao sr. Joaquim de Campos Salles, então vice-presidente da associação comercial, demandas para mudança de nome do jornal.
“O sr. Joaquim de Campos Salles referiu-se ao Boletim Diário, que vem sofrendo diversas modificações e que atualmente tem tiragem bastante considerável... declarou que já lhe havia sido sugerida a mudança de designação daquele órgão, que a seu ver merece um nome mais sugestivo e que exprima o que realmente é...”.
A publicação tinha mais de 3 mil assinantes naquele momento, algo notável para um pequeno boletim restrito à cidade de São Paulo, e que até poucos meses antes era rodado em mimeógrafo. A impressão tipográfica do boletim iniciou em 5 de abril de 1948, só então ele ganhou mais páginas e seções especializadas e teve a tiragem ampliada.
A ata de novembro de 1948 revela que entre as sugestões para o novo nome da publicação que chegaram ao vice-presidente Campo Salles, duas tiveram maior aceitação entre os dirigentes da ACSP: “Diário de Informações da Associação Comercial e da Federação do Comércio” foi uma delas. A outra, “Diário de Informações Comerciais da Associação Comercial e da Federação do Comércio”.
A escolha entre os nomes ficou dividida, então Salles colocou as propostas em votação. A manutenção do nome Boletim Diário acabou saindo vencedora.
“Como as opiniões estivessem (sic) muito divididas, o assunto foi submetido a votos ficando deliberado, por uma maioria de 15 contra 7, que se conservasse a designação de Boletim Diário”.
Os debates seguiram por meses, até que se chegou ao nome Diário do Comércio em 31 de maio de 1949, conforme relato reproduzido na abertura deste texto.
Alguns dos motivos que justificaram a escolha de um novo nome aparecem em relatório das ações da ACSP no biênio 1948 – 1949, divulgado em 15 de fevereiro de 1950.
O relatório descreve o crescimento da publicação naquele período, especialmente após passar a ter a impressão tipográfica em abril de 1948. Naquele ano o jornal obteve receita superior às despesas, o que foi considerado um incentivo à sua expansão, uma vez que a associação comercial considerava a publicação um serviço ao associado, não uma fonte de renda.
“Sua expansão foi muito auspiciosa, realizando em pouco tempo expressivo movimento financeiro, com uma receita de Cr$ 1.474.050,00 e uma despeza (sic) de Cr$ 1.410.510,00. Deve observar-se que, sendo um serviço destinado ao associado e não tendo como objetivo transformar-se em fonte de renda, o movimento financeiro apresentou um saldo favorável à sua expansão”.
Havia então a necessidade de se conectar melhor a um público mais amplo. Tanto que, juntamente com o novo nome, a publicação foi completamente reformulada, seguindo o seguinte plano estratégico:
Publicação, em média, de cinco a seis artigos diários e originais; ampliação de dados estatísticos; desenvolvimento da seção Orientação Legal; divulgação das contas do mercado externo; divulgação das cotações das Bolsas Oficiais; divulgação de notícias em primeira mão, e não mais reproduzidas da imprensa; publicação de balanços, entre outras ações.
O novo e rebatizado jornal da ACSP foi apresentado aos leitores em 2 de julho de 1949, dia seguinte ao aniversário de 25 anos da publicação, conforme havia recomendado Izidro Pedro, que passaria a ser Diretor Comercial do Diário do Comércio. Ao seu lado, na administração do jornal, estavam o superintendente Martim Afonso Xavier da Silva e Antonio Gontijo de Carvalho, diretor do jornal.
Na capa daquela edição histórica, um editorial com o título “O roteiro a seguir” trazia alguns compromissos assumidos pela direção do diário: “A orientação do Diário do Comércio será impessoal, educativa, doutrinária. Veiculará e propagará ideias. Estará a serviço, é óbvio, dos interesses das classes produtoras...”
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IMAGENS: Biblioteca ACSP/tratamento gráfico de Gabriela Soares