55 anos de economia brasileira

Na maior parte dos problemas enfrentados pelos empresários, pelos trabalhadores e por toda sociedade, se destaca a responsabilidade do Estado -Executivo, Legislativo e Judiciário -que, infelizmente, até agora não se ajustou

Marcel Solimeo
13/Set/2018
Economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo
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55 anos de economia brasileira

 

Completei na última terça-feira (11/09), 55 anos como economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o que muito me honra. A principal razão para justificar tão longa permanência é a minha identidade com os princípios e valores defendidos pela entidade, além da deferência com que sempre fui tratado por presidentes, diretores, conselheiros, e companheiros de trabalho.

A posição que ocupo na associação me permite, e até me obriga, a acompanhar a evolução da economia, as medidas governamentais e todos os fatos que possam influenciar a atividade empresarial.

Posso afirmar que nessas mais de cinco décadas foram poucos os períodos em os empresários brasileiros puderam desempenhar suas atividades sem maiores percalços provenientes das ações governamentais, da conjuntura externa, ou de fenômenos naturais, que afetaram a vida do país.

Do “milagre econômico” à recessão, do “bônus externo” das “commodities” ao completo desajuste fiscal e à recessão, o empresário precisava se ajustar para sobreviver.

A visão de curto prazo dos governantes não permitia ao investidor planejar no longo prazo. Raramente se pensou em políticas de longo prazo que pudessem assegurar o desenvolvimento econômico e social do país, e quando isso aconteceu, o caminho escolhido foi de colocar o Estado como motor do crescimento, levando ao aumento da estatização e da ineficiência.

Para se ter uma ideia da instabilidade institucional do Brasil a partir de 1964: tivemos 3 Constituições, 8 planos econômicos, oito moedas, moratória da dívida externa, confisco de poupança, dois impeachments de presidentes, inúmeras emendas constitucionais, o mensalão, a operação Lava-Jato, e nos preparamos para uma eleição marcada por grande incerteza e extrema polarização.

O preço pago pela sociedade com os desajustes e desequilíbrios institucionais e econômicos desse período foi extremamente elevado com a perda de talentos empresariais, o fechamento de milhares de empresas, a destruição de empregos e de renda, o atraso tecnológico e a defasagem educacional.

Diversos estudos têm demonstrado que o arcabouço institucional, a estabilidade das regras, o respeito aos contratos e a liberdade de empreender são condições necessárias, embora não suficientes para que um país possa desenvolver-se aproveitando plenamente suas potencialidades.

Apesar de não ter contado com um “ambiente institucional” favorável, o Brasil se urbanizou, se interiorizou e se modernizou, principalmente pelo aumento de sua população, que passou de 78 milhões para 220 milhões de habitantes e permitiu a incorporação na força de trabalho urbana de um imenso contingente de jovens que se deslocaram do interior para as cidades e contribuíram para o aumento da produtividade do país. Também o setor agrícola saiu da monocultura da cana e depois do café, para se tornar um dos principais produtores mundiais de alimentos.

Apesar disso, o crescimento, no entanto, foi muito menor do que poderia ter atingido, e foi acompanhado pelo acúmulo de graves defasagens na infraestrutura, no sistema educacional, na tecnologia e no grau de liberdade empresarial, que comprometeram, e ainda comprometem, o pleno aproveitamento das condições que o país possui.  

Quando se faz o retrospecto da economia brasileira dos últimos 55 anos, constata-se que na maior parte dos problemas enfrentados pelos empresários, pelos trabalhadores e por toda sociedade, se destaca a responsabilidade do Estado - Executivo, Legislativo e Judiciário -que, infelizmente, até agora não se ajustou.

Um Estado menor e mais eficiente é condição necessária  para que o setor privado possa conduzir o país ao patamar de desenvolvimento que sua potencialidade permite almejar. Se a livre iniciativa tiver condições favoráveis para trabalhar, o Brasil poderá oferecer à sua população as oportunidades de realização pessoal e um padrão de vida superior ao existente atualmente.

A eleição deste ano representa uma esperança de que se possa começar a equacionar os problemas e, gradativamente, enfrentá-los. Vai depender muito das escolhas dos eleitores não apenas dos candidatos para os cargos executivos, mas, também, para o Legislativo.

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