Um mineiro no Vale do Silício
Reinaldo Normand, empreendedor brasileiro atualmente radicado na Califórnia, conta sua experiência como empresário no Brasil, Estados Unidos, México e China
Em 2035, os filmes de Hollywood serão estrelados por atores criados por computador que substituirão os famosos astros de carne e osso. Os smartphones serão tão finos quanto uma folha de papel. A maioria dos produtos terá chips que irão automatizar tarefas. As pessoas passarão grande parte tempo dentro de ambientes de realidade virtual. Teremos a primeira colônia em Marte.
Esse não é o roteiro de ficção, mas a visão do empreendedor Reinaldo Normand em seu livro Innovation ². O e-book – disponível para download – relata 15 tendências tecnológicas que estão mudando o mundo e como elas serão utilizadas daqui a 20 anos.
Normand tem uma perspectiva privilegiada do que pode acontecer no futuro. Ele vive no lugar onde tudo acontece primeiro: Vale do Silício, na Califórnia. O local é considerado o berço das novas tecnologias, do empreendedorismo e das startups. Além de abrigar empresas, como Google, Facebook, Apple, Intel, eBay, entre outras.
“Enquanto hoje outras cidades discutem a legalização do Uber, aqui os serviços da empresa já eram comuns em 2011”, afirma Normand. “No Vale do Silício, as pessoas têm a cabeça mais aberta para testar novos produtos e serviços”
EMPREENDEDORISMO PELO MUNDO
Antes de viver na cidade mais empreendedora do mundo, Normand nasceu e cresceu em Belo Horizonte.
Formado em Administração de Sistemas de Informação, ele trocou Minas por São Paulo. Depois dessa primeira experiência longe de casa, caiu no mundo: morou e empreendeu no México, Estados Unidos e China.
Nesse meio tempo, fundou seis empresas, entre elas a 2Mundos, que cria jogos sociais, e a Zeebo, que lançou um console sem fio que serve de plataforma de educação para países emergente.
Nem todos os empreendimentos deram certo -dois deles fracassaram. “Aprendi que para você construir algo interessante, às vezes, é preciso falhar”, diz Normand.
De cada lugar em que morou nos últimos anos, o empreendedor observou ambientes mais ou menos favoráveis para empreendedorismo.
De acordo com Normand, no Brasil, existem diversos empecilhos para quem quer empreender. Um dos pontos que prejudicam é a falta de oportunidades para quem não faz parte da elite. “É muito difícil alguém vir do nada e conseguir vencer no país. Somos uma sociedade que privilegia o status e o relacionamento, em vez do mérito”, afirma.
Outro problema fundamental é a burocracia. Desde abrir uma conta no banco até contratar funcionários exige uma série de documentos e procedimentos que impedem que novos negócios surjam com facilidade.
Mas empresário também vê pontos positivos para quem consegue transpor essas barreiras. O país tem a vantagem de ser mercado muito imaturo. “Nos Estados Unidos, quase tudo já foi feito. O Brasil ainda precisa de muita coisa e muitos empreendedores podem aproveitar essas lacunas para crescer”.
Mas o principal entrave, na visão de Normand, ainda é a mentalidade.
“No Brasil, quando as pessoas dizem que algo é impossível todos se conformam”, diz. “No Vale do Silício, quando alguém diz que algo é impossível, todos pensam em novas soluções e novos jeitos de resolver o problema”.
Além disso, os brasileiros precisam criar o hábito de dividir informações, conhecimento e contatos.
O México, ainda de acordo com o empreendedor, possui um cenário bem parecido com o Brasil: um país subdesenvolvido com muitas oportunidades e um grande mercado consumidor.
Nos Estados Unidos, mais especificamente no Vale do Silício, o cenário é completamente diferente. “Aqui se concentram as pessoas mais capacitadas e as melhores oportunidades de acesso a capital, mas a competição é gigantesca”, afirma. “De cada cem startups apenas cinco conseguem prosperar.”
De acordo com o empreendedor, as pessoas têm uma visão muito romantizada do Vale do Silício. Muita gente chega à cidade achando que basta ter uma boa ideia para dar certo. Mas não é bem assim. “A chance de dar errado no Vale do Silício é enorme”, diz Normand. “Você pode ser a pessoa mais inteligente do seu país, mas chegando aqui você vai se sentir burro.”
Outro país que tem se destacado no desenvolvimento de uma cultura empreendedora é a China, mais especificamente as regiões de Pequim e Xanguai.
É um mercado gigantesco que está investindo em educação e tecnologia. Os empreendedores chineses estão dispostos a tudo para crescer -basta observar empresas como o Alibaba. “A China é, sem dúvida, o país que mais evolui em termos de empreendedorismo nos últimos anos”, afirma Normand.
O problema, de acordo com o empresário, ainda é a situação política do país: há um protecionismo excessivo as empresas nacionais e o governo interfere frequentemente no mercado.
NOVAS TECNOLOGIAS
Por viver em ambientes tão diversos e propícios para o surgimento de novas tecnologias, Reinaldo Normand se dedicou a conhecer e estudar profundamente o assunto. Ele decidiu escrever o livro Innovation² para ajudar a difundir todo o conhecimento que acumulou nesses anos.
“Percebi que Vale do Silício é uma bolha e que quase ninguém fica sabendo sobre avanços que estão sendo feitos aqui e que irão mudar a vida de todos”, afirma Normand.
O empreendedor acredita que, assim como o poder já esteve na mão dos magnatas de Wall Street, atualmente são empresas de tecnologia que são a bola da vez.
Hoje, os desenvolvimentos dos smartphones já afetam a vida de milhões de pessoas no mundo. Daqui a alguns anos, a inteligência artificial será responsável por grandes transformações.
Um exemplo são os carros autônomos que já circulam pelas ruas da Califórnia. “Esses veículos entrarão no mercado em 4 ou 5 anos e irão mudar todo o mercado de seguros, os sistemas de saúde e a configuração das cidades”, diz Normand.
Outras tecnologias como a internet das coisas, a nanotecnologia e a robótica também transformarão o cotidiano das pessoas e o mundo dos negócios. “Um conselho que eu dou para todos os empreendedores é aprendam a programar”, afirma Normand. “A tecnologia vai estar em tudo e será fundamental saber pelos menos básico.”
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