Conheça as novidades em automação que estão chegando ao varejo
Mobilidade e gestão na nuvem são as grandes tendências de automação comercial para este ano, como o Sistema Hiper Frente de Caixa Mobile (acima). Novidades para o pequeno varejo estarão na Autocom 2015, que abre na próxima terça-feira
Que o brasileiro é ultraconectado e fã de tecnologia, todo mundo já sabe. Mas essa afinidade toda não é só para o uso pessoal. Segundo o recém publicado estudo "Views Around the Globe", da gigante Microsoft, 83% dos brasileiros acreditam que a tecnologia pessoal ajudou também a melhorar a inovação no campo dos negócios.
Atualmente, o país é visto como um dos mais otimistas em relação ao impacto positivo da tecnologia nas empresas. No varejo, a multicanalidade e a integração entre varejo físico e virtual já vão se tornando realidade.
Não se espante se, ao chegar a uma loja da Apple fora do Brasil, você se ver sozinho podendo experimentar e brincar com todos os aparelhos da loja.
Na hora de pagar, não haverá filas nem caixa – um simpático e descolado vendedor vai aparecer com um iPhone na mão, com um leitor de cartão de crédito acoplado ao aparelho. A nota fiscal seguirá diretamente para seu e-mail e o produto estará imediatamente na sua mão.
Não precisará ir longe para ter certeza de que essa realidade está no futuro próximo do comércio brasileiro. Na recém-inaugurada loja física da Dafiti, na Oscar Freire, rua nobre do comércio paulistano, até a vitrine vira um tablet.
Você escolhe as peças que quer provar e elas são levadas diretamente ao provador por um vendedor, ou melhor, curador de moda. Nem precisa se incomodar em carregar as sacolas – suas compras chegarão em casa. No mesmo dia, se morar na Grande São Paulo.
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Engana-se quem pensa que essas modernidades todas só servem para encher os olhos de uma geração altamente conectada – e cansada da mesmice do varejo tradicional. Para quem trabalha do lado de cá do balcão, essas ferramentas ajudam a aumentar as vendas e fidelizar os clientes.
O eixo das novidades está na mobilidade e na computação em nuvem, segundo Eduardo Valentim, vice-presidente de marketing da Associação Brasileira de Automação Comercial (Afrac): "Juntas, essas tecnologias prometem capturar vendas por impulso ao processar transações em qualquer lugar da loja, reduzir a espera em filas, possibilitar o autoatendimento e aumentar receitas”.
Uma das ferramentas práticas que desembarca no Brasil cria a possibilidade de visibilidade do estoque. O consumidor, pelo celular, consegue saber se o produto que ele deseja está disponível na loja física. Para comércios pequenos, onde loja física e virtual são geridas conjuntamente, trata-se de uma tremenda mão na roda.
“Nos Estados Unidos, essas funcionalidades são comuns há pelo menos cinco anos. Mas pela atual facilidade legal de emitir a nota fiscal eletrônica por aqui, esse movimento começa a aumentar”, diz Wilson Cruz, coordenador do Centro de Inovação Tecnológica da GS1 Brasil (gestora do padrão global de identificação de produtos, como o código de barras e EPC/RFID).
VENDER A QUALQUER HORA, DE QUALQUER LUGAR
Na frente de atendimento, a Hiper, desenvolvedora de softwares de Santa Catarina, ao sul do Brasil, trabalha o chamado Sistema Hiper Frente de Caixa Mobile. Com um investimento de R$ 500 mil reais e a mão de obra especializadíssima do Vale do Silício, a empresa desenvolveu um aplicativo para plataforma Android – o mesmo dos smartphones – que viabiliza a compra a partir de um tablet.
O atendimento ao cliente pode, com isso, ser feito em qualquer ponto da loja – o que facilita, e muito, a compra por impulso. O caixa não é mais necessário sequer para emissão do cupom fiscal. “É possível emitir o cupom eletrônico para uma impressora portátil ou apenas enviá-lo para o celular do cliente”, diz Tiago Vailati, presidentec da Hiper.
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Para quem fica do lado de cá do balcão, o sistema ajuda na gestão –ao fim do dia, o aplicativo já computou o movimento do dia anterior. A Hiper mira no pequeno e médio varejo e, com esse produto, pretende quase triplicar a carteira de clientes nesse ano. Segundo Vailati, a expectativa é chegar a 10 mil estabelecimentos comerciais com a solução.
Esse também é o público da Bematech, que tem apresentado o Bemacash. Desenvolvido em parceria com a Rede, empresa de meios eletrônicos de pagamento, a plataforma, também um PDV Móvel, conta com sistema para realização de pagamentos e ferramentas de automação comercial operando na nuvem, além do sistema de emissão de cupom eletrônico.
Eros Jantsch, vice-presidente da Bematech, diz que em termos de custo o modelo se encaixa mais no bolso do pequeno varejo, já que fica na faixa de R$ 2,3 mil, com mensalidade de R$ 319 (isso inclui software, meios de pagamento e adaptação ao sistema do CF-e). Além das pequenas lojas, a mobilidade do Bemacash também se aplica a food-trucks e quiosques em eventos.
IMPRESSÃO COM WI-FI E BLUETOOTH
Para atender à necessidade de impressão dos cupons fiscais eletrônicos, a japonesa Epson lança produtos voltados à mobilidade como as mini-impressoras sem fio Mobilink. Em versões bluetooth e wi-fi, elas permitem imprimir a partir de qualquer dispositivo móvel. A ideia é morder 20% de participação no mercado de automação comercial no Brasil.
Segundo Dulce Macedo, gerente de produtos da linha de automação comercial da Epson, todas essas máquinas atendem desde o pequeno comerciante até grandes redes de varejo.
A grande vantagem, garante, é a redução de custos, já que o investimento em hardware é baixo. “Outros benefícios são a agilidade para tomada de decisões para obter os dados, disponíveis na internet”, diz. Em um ano em que a redução de custos se torna imprescindível, vale a pena visitar a Autocom, com abertura na próxima terça-feira em São Paulo
VÃO VINGAR?
A melhora do desempenho dos pontos de venda e o convívio harmônico com o comércio eletrônico são as promessas das novidades em soluções para o varejo ano após ano. No entanto, mesmo com vantagens e reduções de custo, ainda pairam dúvidas sobre a adaptabilidade dos lojistas – e sobre a adequação a determinados tipos de negócio.
É o caso do RFID, uma espécie de etiqueta que permite a identificação de produtos por sinais de rádio dentro da loja. Com o RFID, por exemplo, os operadores de caixa seriam desnecessários para pagamentos com cartão, dando toda o suporte ao autoatendimento.
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A tecnologia, vendida como grande solução para supermercados – já que não seria nem preciso tirar os produtos do carrinho para pagar, pois “os sensores detectariam tudo” – só conseguiu espaço em lojas de vestuário, onde a diversificação de produtos não é tão grande. Como no Brás, o polo de confecção por atacado da capital paulista, onde o RFID é uma ferramenta comum a diversas lojas.
“Na época houve correria para aplicar a tecnologia, que ia resolver todos os problemas do mundo”, diz Wilson Cruz, da GS1 Brasil. Hoje, porém, os passos são mais lentos e curtos. "É preciso envolver todos os parceiros da cadeia desde o início. É um processo de maturidade da tecnologia que serve para todos os tipos de inovações no setor”, afirma Cruz.
Para Eduardo Valentim, da Afrac, novidades de alta tecnologia servem para ajudar os pequenos a gerenciar melhor os seus negócios – já que as gigantes já têm suas próprias soluções.
Para que as lojas menores tenham acesso e adotem as ferramentas, é fundamental que o preço seja acessível – o que não acontece com tecnologias customizadas ou cheias de particularidades. Elas precisam ser padronizadas e básicas.
Mais que isso, há um processo de adaptação do mercado, dos usuários e dos clientes. “Vai depender mais da visão e estratégia do que do investimento em si para adotá-las”, afirma.