Por que o mercado de energia solar deve esquentar
No país do sol, o setor ganha musculatura para competir pela matriz energética. O Índice Comerc Solar quer ajudar os empreendedores a escolher as melhores cidades para investir
Desde março, o Bondinho do Pão de Açúcar passou a ser movido por energia solar. A notícia tem mais um caráter simbólico, já que o cartão postal do Rio de Janeiro tem um consumo muito baixo, o correspondente ao gasto de energia de dez famílias.
Não é o caso da Cidade Maravilhosa. Dono de altíssima incidência solar, o Rio encabeçou o ranking das capitais brasileiras com a melhor relação custo/benefício para investimentos em energia fotovoltaica para projetos de alta tensão. Em projetos de baixa tensão, a cidade ficou em terceiro lugar.
Desenvolvido pela Comerc Energia, maior gestora de energia do país, o índice solar oferece um panorama do potencial das principais cidades brasileiras. Levando os quatro requisitos em consideração, as cidades mais atraentes hoje para investir são:
* Projetos de alta tensão (destinados a grandes empreendimentos): Rio, Cuiabá, Campinas e Porto Alegre
* Projetos de baixa tensão (para atender residências, pequenos negócios e condomínios): Belém, Fortaleza, Rio de Janeiro e Recife.
CONTRADIÇÕES DO PARAÍSO DO SOL
Para a formulação do índice, a empresa levou em conta os fatores que mais influenciam o potencial de investimento e a expansão da energia solar no Brasil, além da irradiação: preço da energia elétrica na distribuidora local; o ICMS cobrado no estado; e a taxa de câmbio.
Contabilizando esses dados, o índice calcula em quantos anos se terá o retorno do investimento. Para comparar: enquanto um investimento feito no Rio levaria sete anos para ter retorno financeiro, em São Paulo, uma das capitais lanterninhas do ranking, seriam necessários 12 anos.
Como se vê, os custos continuam altos e permanecem como o maior entrave para a disseminação desse tipo de energia renovável no país.
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Enquanto o Brasil se situa como o país com o maior potencial de aproveitamento de energia solar, fica próximo de zero quando se compara a capacidade instalada. Perde feio para uma Alemanha muito mais deficitária de insolação e já com grande uso dessa energia.
Mas atenção: com a criação do índice, a Comerc sinaliza um novo momento. A empresa, e também o setor, prevê que estamos no começo de um “boom” no Brasil, assim como já se percebe no mundo. Um mercado quase intocado de abre para os empreendedores.
SINAIS DE AVANÇO NO BRASIL
Especialistas indicam o avanço da geração de energia centralizada e distribuída como um dos fatores para o aquecimento do mercado. De 2014 para 2015, a geração de energia solar no Brasil cresceu quase quatro vezes, de acordo com o Balanço Energético Nacional, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Outros fatos confirmam o movimento:
* Dados de geração distribuída mostram que, entre 2013 e julho de 2016, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) fez 3.864 registros de micro e mini geração no país.
* No final de 2015, a geração solar totalizava 59 GWh. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), há hoje no país 110 projetos de usinas fotovoltaicas em construção, que somarão, até 2019, 2.977,17 MW.
* A EPE tem cadastrados 419 projetos solares fotovoltaicos, equivalentes a 13.388 MW, para o segundo leilão de energia de reserva, previsto para dezembro deste ano.
CAUSAS DA EXPANSÃO
A nova posição que o Brasil se prepara para ocupar no ranking mundial de energia solar, com a ampliação de sua matriz energética, pôde ser constatada na recente 5º Intersolar South America, evento que reuniu a cadeia produtiva do setor em São Paulo. O número teve um aumento de 60% em relação a 2015, atraindo expositores de 12 países.
Tanto interesse foi motivado por fatores ocorridos nos últimos anos. Houve o aumento pesado nas tarifas, resultado da desorganização causada no setor elétrico pela queda de braço entre as empresas e o governo federal, no primeiro mandato de Dilma Roussef.
Por outro lado, a energia solar foi favorecida pelo barateamento da tecnologia e pelos novos marcos regulatórios. Um deles, a resolução normativa No. 482 de 2012, liberou o controle pessoal da energia para residências e comércio com o uso de pequenos geradores, sejam painéis solares ou microturbinas eólicas.
Imagine o susto das operadoras de energia elétrica ao ver diminuída a dependência dos consumidores ante seu quase monopólio. Barateamento na certa.
Essas oportunidades no Brasil foram percebidas por um grande número de protagonistas do mercado, que começam a chegar por aqui. E pode ter influência no fortalecimento da indústria local de componentes.
O setor trabalha com o dado de que, em 2050, 18% dos domicílios brasileiros contarão com geração fotovoltaica. Este tipo de energia representará 13% de toda a demanda elétrica residencial do país.
O PODER DO SOL NO MUNDO
A energia solar será uma das formas mais baratas de produzir eletricidade em muitos países a partir de 2020. Seus custos deverão cair em 60% até 2040, quando, em muitos países, a geração da energia solar custará menos de US$ 50 MWh.
Embora distante no tempo, este valor parece um sonho para muitos países e até o Brasil. Em 2016, o custo da energia no país caiu bastante em razão da crise econômica, beirando os R$ 240/MWh, cerca de US$ 75. No entanto, em 2015, a energia brasileira chegou a ser uma das mais caras do mundo, custando quase R$ 500 por MWh.
Globalmente, houve um crescimento de 20% em 2015 em instalações solares fotovoltaicas. Sob a liderança de China, Japão e Estados Unidos, o segmento emprega 8,1 milhões de pessoas no mundo, segundo o balanço anual da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena).
OLHAR VISIONÁRIO
Outra maneira de medir o potencial de crescimento do setor consiste em acompanhar os investimentos dos megainvestidores. No início do ano, Elon Musk, o fundador da Tesla, ampliou sua participação na empresa Solar City, a líder do mercado americano, tornando a companhia de carros elétricos a única dona.
De uma hora para a outra, o visionário empreendedor sul-africano se tornou sinônimo de energia solar.
Pouco antes, ele havia lançado um equipamento que se tornou febre entre os descolados, a Powerwall, uma bateria para o mercado residencial, que armazena a energia captada por painéis solares. A bateria tem uso duplo, servindo para abastecer a casa e o carro elétrico.
Há quatro diferenciais na peça, presentes em quase todas as criações de Musk - a diminuição de custo (em média US$ 3 mil), a extensão do prazo de garantia (para 10 anos), a patente aberta e o design
Quando se poderia imaginar que um objeto sem graça pudesse ganhar status de peça de design? O equipamento em forma de um armário, ofertado em várias opções de cores, pode ser pendurado na parede, como uma peça de decoração. Houve uma longa fila de candidatos a comprar o primeiro lote e calcula-se que a empresa tenha embolsado quase US$ 1 bilhão.
Se continuar assim, preveem os analistas, ele pode fazer com a energia solar o que Steve Jobs fez com os computadores – transformar em objeto de desejo. O sonho de qualquer indústria de consumo.
IMAGEM: ThinkStock