O que falta para a bicicleta ser um meio de transporte em SP?
Representantes do comércio, habitação, ciclistas e da CET discutem alternativas de inclusão em debate com o Secovi-SP
Há sete anos, a sociedade discute como inserir a bicicleta no sistema de tráfego de São Paulo. Projetos, estudos, ações e críticas mostram que a capital ainda tem muito a evoluir em relação a esse meio de transporte sustentável.
De baixo custo e capaz de ampliar o acesso da população a diversos pontos da cidade, as bicicletas devem ser tratadas, sobretudo, como um elemento de interação, descoberta, e de reocupação do espaço público, de acordo com Thiago Benicchio, gerente de transportes ativos do ITDP Brasil (Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento).
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Nesta terça-feira (21/06), Benicchio apresentou sugestões para o fortalecimento das poli?ticas relacionadas a? mobilidade por meio das bicicletas, em localidades com comércio de rua, escolas, corredores de ônibus, pedestres e aproximadamente 8 milhões de veículos, durante um debate promovido pelo Secovi-SP (Sindicato da Habitação).
Com uma infraestrutura urbana muito precária, quando comparada às cidades de Amsterdã, na Holanda, e Copenhague, na Dinamarca, São Paulo passou três décadas formulando projetos, e leis que somente há alguns anos passaram a ter mais atenção por parte da sociedade civil, iniciativa privada, e o poder público.
“O projeto é consistente e faz sentido. No entanto, o tempo desse histórico é muito dilatado. E hoje, vivemos o começo de experimentações sobre o uso de bicicletas”, diz Benicchio.
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Com o objetivo de mapear a qualidade da malha cicloviária da capital, o ITDP promoveu um trabalho de campo em 220 quilômetros de ciclofaixas na capital. Além de sinalização, intersecções, e larguras das faixas, itens como segurança, linearidade, conforto e atratividade foram considerados para a elaboração de um relatório final.
De acordo com o estudo, algumas falhas pontuais da rede se devem à dimensão das intervenções propostas em um curto período de tempo e podem ser facilmente corrigidas. Outras têm como restrição o orçamento para obras mais complexas.
Há também a resistência de alguns setores em relação à redistribuição do espaço viário. Antonio Carlos Pela, vice-presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), e coordenador do CPU (Conselho de Política Urbana) da entidade, critica a falta de planejamento para a implantação das faixas, e aponta o comércio como um dos setores mais prejudicados pela novidade.
Pela criticou também a escolha da região central, já com grande oferta de transporte público, ter sido uma das primeiras a receberem as ciclofaixas. “Acredito que esse não seja o modelo mais adequado. Nesses moldes, o comerciante acorda, e tem uma novidade na porta”, diz.
Claudio Bernardes, presidente do conselho consultivo do Secovi-SP, também aponta que faltou planejamento. De acordo com Bernardes, é importante que o papel das ciclofaixas fiquem bem definidos em cada bairro para que o mercado imobiliário as incorpore como parte do projeto de cada empreendimento, assim como ônibus e automóveis."Não dá para resolver a mobilidade de São Paulo somente com ciclofaixas".
Para Ronaldo Tonobohn, superintende de planejamento e projetos da CET (Companhia de Engenharia do Tráfego), São Paulo segue o bom exemplo de grandes metrópoles. Sobre a velocidade do processo de implantação das ciclofaixas, ele destaca que os anos de 2014 e 2015 foram importantes para a constituição de traçados mínimos para a cidade.
Atualmente, São Paulo possui 415 quilômetros de ciclovia, 1,3 mil vagas para bicicletas em terminais de ônibus, 100 vagas no Largo da Batata, 8 mil paraciclos até o fim deste ano, uma ciclo passarela, 11 pontes e 10 viadutos com adequação para ciclistas.
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*FOTO: Estadão Conteúdo/Alf Ribeiro