Um Nobel para as origens da pobreza
Em "The Great Escape", publicado em 2013, Angus Deaton, vencedor do Nobel de Economia, mapeia as origens da desigualdade e suas consequências abrangendo 250 anos de história econômica
Em boa hora o Prêmio de Ciência Econômica em Memória de Alfred Nobel de 2015 foi concedido essa semana a Angus Deaton. A comunidade acadêmica recebeu com satisfação a concessão da honraria.
O motivo é simples: Deaton desenvolveu ao longo de sua vida acadêmica estudos sobre a pobreza e bem-estar de populações em várias partes do mundo, abrindo caminho para melhor entender as causas do fenômeno e orientar políticas públicas para fazer face a ele.
Nascido na Escócia e cidadão inglês e norte-americano, doutor pela Universidade de Cambridge, Angus Deaton é professor e pesquisador da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
Suas pesquisas se concentraram na análise de padrões de saúde em países ricos e pobres e na mensuração da pobreza na Índia em várias partes do mundo.
Seu livro, "The Great Escape", publicado em 2013 mapeia as origens da desigualdade e suas consequências abrangendo 250 anos de história econômica.
Em reconhecimento da importância dos estudos de Deaton, a Academia Sueca afirmou que para formular a política econômica que promova o bem-estar e reduza a pobreza, é preciso primeiro entender as escolhas de consumo individuais.
Mais do que ninguém, Angus Deaton tem reforçado esse entendimento. "Ao vincular as escolhas individuais detalhados e resultados agregados, sua pesquisa tem ajudado a transformar os campos de microeconomia, macroeconomia e economia do desenvolvimento”, afirmou a Academia no documento em que anunciou a concessão do prêmio.
As pesquisas de Deaton permitiram uma melhor compreensão dos padrões de gastos dos consumidores e do que as pessoas fazem para caber o seu consumo nos seus rendimentos.
Seu foco mais recente em pesquisas com dados de orçamentos familiares, individuais e detalhados, mudou a orientação da economia do desenvolvimento, agora mais solidamente ancorada em um enfoque empírico lastreado por um grande conjunto de dados.
Os estudos de Deaton aprofundaram nosso conhecimento a respeito da mensuração da pobreza e um melhor uso das estatísticas disponíveis.
Com base neles podemos hoje melhor entender se a pobreza está aumentando ou se reduzindo; e caso esse último resultado esteja ocorrendo, saber o quanto de redução ocorreu na pobreza.
São informações extremamente importantes para direcionar políticas públicas voltadas para aliviar os males da pobreza e da miséria.
Da mesma forma, seus estudos da demanda por alimentos nas camadas pobres da população também contribuíram para melhor formatar programas de atenção à desnutrição.
As informações obtidas nas pesquisas sobre padrões de demanda por alimentos pelos pobres são essenciais para avaliar os possíveis ganhos de melhoria na nutrição de medidas de política fiscal voltadas para a redução da carga tributária incidente sobre os bens consumidos pelos mais pobres.
Por tudo isso, a premiação desse ano volta-se para estudos de imediatas aplicações práticas através de sua orientação sobre políticas públicas.
Nos últimos cinco anos o prêmio foi concedido a Jean Tirole por seus estudos sobre poder de mercado e regulação (2014); Eugene F. Fama, Lars Peter Hansen e Robert J. Shiller, por sua análise empírica dos preços dos ativos financeiros (2013); Alvin E. Roth e Lloyd S. Shapley, por seus estudos dos mercados (2012); Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims, por suas pesquisas empíricas pioneiras sobre causa e efeito em macroeconomia (2011); e Peter A. Diamond, Dale T. Mortensen e Christopher A. Pissarides, por sua análise de mercados imperfeitos (2010).
Para ser preciso, o prêmio Nobel de Economia nem tem essa denominação nem foi concedido pela Academia Sueca. O nome oficial é Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel – algo como Prêmio do Banco Central da Suécia em Memória de Alfred Nobel, o inventor da dinamite e falecido em 1896.
Anteriormente, o prêmio foi concedido a economistas como Milton Friedman, Friedrich von Hayek e Paul Krugman, entre muitos outros, concedidos desde 1969.
Seria de todo oportuno que os estudos do professor Deaton fossem estudados pelos formuladores das políticas sociais de nosso governo. Quem sabe, programas como o Bolsa Família poderiam ser avaliados e aperfeiçoados à luz do conhecimento obtido pelo ganhador do prêmio Nobel.