Um lampejo no fim do túnel
A desvalorização cambial já começa a ter efeito sobre as contas externas brasileiras.
Não se trata ainda de uma luz fulgurante no fim do túnel, talvez seja apenas um lampejo: a desvalorização cambial já começa a ter efeito sobre as contas externas brasileiras. Por enquanto ainda é pequeno o efeito, mas a tendência é de tornar-se mais importante daqui para frente.
O dólar ultrapassou o valor de R$ 2,50 e está forçando o Banco Central a intervir no mercado de câmbio; a autoridade monetária começa a temer os efeitos da alta da moeda americana sobre a inflação.
Deixemos de lado por um momento a inflação e nos concentremos nas demais implicações da desvalorização cambial. Alguns das consequências são quase que imediatas e contribuem para a melhoria do balanço de pagamentos.
A primeira delas se dá sobre as importações. Uma coisa é pagar R$ 2,00 por dólar para importar um produto; outra é pagar R$ 3,50. As estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior já refletem esses resultados.
Comparado o período que se estende de janeiro a julho desse ano com o mesmo período do ano passado, a queda nas importações é de 19,5%. Na comparação de julho de 2015 com julho de 2014 a queda é ainda maior, de quase 25%.
A segunda consequência importante dá-se sobre o saldo líquido da conta de turismo internacional. Com a desvalorização, o Brasil torna-se relativamente barato para os estrangeiros e caro para os brasileiros que pretendem viajar ao exterior. Isso já é perceptível aqui mesmo com a enorme presença de turistas estrangeiros, embora estejamos no inverno, e a alta estação para esses turistas seja o verão.
Finalmente, há também um efeito similar ao que se dá no turismo com relação aos investimentos estrangeiros. Comprar ativos no Brasil ficou mais barato depois que o real desvalorizou mais de 30% esse ano. O oposto ocorre com os brasileiros que pretendem investir no exterior. Sem falar nas vantagens para o investimento estrangeiro em moeda: somada à desvalorização cambial, praticamos novamente uma das três maiores taxas de juros do mundo. Sopa no mel para fundos estrangeiros no mercado brasileiro.
A reação do lado das exportações ainda é tímida. No agregado, que inclui manufaturados e produtos primários, os números não são brilhantes. O valor total das exportações em julho de 2015 estão quase 20% abaixo do mesmo mês do ano anterior, e o mesmo se passa na comparação dos primeiros sete meses do ano (-15,5%).
Parte importante da explicação dessa tímida reação reside na evolução dos preços das commodities no mercado internacional. Quando se analisa os números das exportações levando em conta somente os volumes exportados, é visível o crescimento, mesmo das exportações totais. Sobre igual período do ano anterior, esse volume reduziu-se em 12% no quarto trimestre de 2014, cresceu 5,2% no primeiro trimestre desse ano e 9,4% no segundo. Uma evolução saudável.
O desempenho é ainda melhor no caso das exportações de manufaturados. Na mesma base de comparação, os números foram, respectivamente, 26% negativo no quarto trimestre de 2014, 4% negativo no primeiro trimestre de 2015 e 4,5% positivo no segundo trimestre.
Isso ocorre no momento em que a produção industrial está em queda (8% na comparação entre o primeiro trimestre desse ano com o primeiro trimestre de 2014 e 8,7% na comparação dos segundos trimestres). Ao contrário, o volume exportado de manufaturados cresceu 4,5% entre os dois primeiros semestres.
Que conclusões podemos tirar de todos esses números? Primeiro, que as importações estão desabando, tanto pelo efeito da alta do câmbio – tanto de bens de consumo como de insumos para a indústria – e da retração da atividade econômica interna. Nesse caso, o maior reflexo se dá nas importações de matérias primas, que decresceram quase 14% no segundo trimestre desse ano.
Segundo, que a retomada do crescimento das exportações de produtos manufaturados é a principal notícia em um ano em que o PIB está em queda livre.
Finalmente, que a par de positiva essa reação das exportações, elas, sozinhas, não têm fôlego para ser a salvação da lavoura da produção e do emprego industriais. O que quer dizer que ainda teremos por algum tempo os efeitos negativos sobre a atividade econômica do programa de ajuste em vigor.
De tudo isso cabe também observar que, se é para fazer como sempre faz o partido no poder, ao atribuir ao governo anterior todas as suas mazelas, desta vez está certo: a senhora presidente está colhendo o que plantou com a nova matriz econômica que pôs em prática em sua gestão anterior.