Separando joio do trigo
Radicais de esquerda e de direita procuram saídas que contrariam o projeto nacional de democracia e paz
Sempre há quem queira se beneficiar, por motivos diversos, de situações mal resolvidas, que deixem espaço para ações nem sempre claras. Tem acontecido isso no Brasil atual, onde, o que se convencionou chamar de “esquerda” e “direita”, minorias sempre radicais buscam criar confusão na cabeça das pessoas de bem, em defesa de teses nem sempre verdadeiras.
Exemplo de manipulação da “esquerda”, por seus grupos de menor senso: em tudo proclama a existência de complôs, de golpes, de tentativas de desestabilização, de imprensa comprada e por aí afora, quando o que sem vem a público é contrário aos seus interesses.
Exemplo de manipulação da “direita”, por seus grupos mais radicais: confunde a liberdade democrática com a pregação de volta de governo militar, ou afastamento da presidente da República, pelo simples prazer de tumultuar, uma vez que existe legislação para casos de impedimento, e o regime democrático não pode conviver com intervenções, sejam de que ideologia forem.
Essa situação praticamente anômala surgiu da divisão ocorrida no país, numa faixa estreita de separação, onde a presidente reeleita obteve 54 milhões de votos, e o candidato de oposição, 51 milhões, em números redondos.
A questão, para quem a analisa sem má-fé, é meridianamente clara: os 54 milhões de votos de Dilma foram da parcela da população que se sente favorecida, protegida, amparada, escorada, pelo estilo de governar do PT. Claro que há outros motivos em proporção menor. Já os 51 milhões de votos dados a Aécio Neves representaram os brasileiros que discordam do estilo de gestão petista e que se uniram ao candidato tucano para tentar acabar com a forma impositiva de governar dos petistas. Claro que aqui também há outros motivos para o voto dado a Aécio.
Agora, querer, de um lado ou de outro, buscar nesse quadro justificativa para ações radicais, sejam de esquerda ou de direita, é mero aproveitamento barato do estado até emocional que a recente campanha eleitoral provocou no país.
Limitando o comentário aos votos dados a cada candidato, é lícito supor que os 54 milhões de brasileiros que votaram em Dilma não são favoráveis a uma ditadura de esquerda, nem à censura à imprensa, como prega o PT, assim como é lício supor que os 51 milhões que votaram em Aécio não são favoráveis à intervenção militar e só querem punição nos casos de corrupção para os culpados. Se alcançar o Planalto, que se punam, mas não sem comprovação.
É preciso, portanto, que haja bom senso de ambos os lados, de quem, por um motivo seu, apoiou a reeleição de Dilma, e quem também, por razões suas, apoiou Aécio, para não criar o conflito onde este não existe e dar relevo a uma situação radical que não permeia o pensamento dos brasileiros.
Separar o joio do trigo nesta altura da vida nacional é imperativo.
A avassaladora onda de corrupção que sangra o petismo não pode servir de motivo para exacerbar ânimos distintos do desejo da maioria, de um governo democrático, num país em paz.
Assim como também o surgimento, aqui e acolá, de vozes mais estridentes, pregando a volta dos militares, não podem ser entendidas como vontade da nação, nem conspiração em andamento formulada pelas elites, terceiro turno, ou bobagens semelhantes.
Somente com ponderação, bom senso, mas com firmeza, pode-se buscar restabelecer uma espécie de unidade entre os brasileiros, em torno de ideais comuns de desenvolvimento. Para a falta de bom senso de setores radicais petistas que, inclusive, criaram essa separação, essa reconfiguração ideológica anacrônica, de direita e esquerda, é tão lamentável quanto o aproveitamento da mesma divisão para se lançar a aventuras que fujam à legalidade, à liberdade, à vida em paz de um país sem ânimo belicoso. Ao menos até aqui.
Cada setor deve isolar seus radicais para estes não contaminarem com seus discursos e práticas ultrapassados, fora da realidade brasileira, e para que as pessoas de bem e de boa-fé, inclusive no meio político, onde as deve haver, possam trabalhar, para que as instituições funcionem normalmente.