A leniência do governo brasileiro com a ditadura cubana, reiterada pela patética manifestação sobre a morte do ditador é difícil de compreender, embora venha de longe
A maioria dos brasileiros não sabe, mas após a vitória na Europa, o Brasil criou uma medalha para agraciar os militares e civis que foram feridos pelo inimigo durante a Campanha da Força Expedicionária Brasileira da Itália (1944-1945).
Este foi o mais recente capítulo da História Militar do Brasil, a disciplina histórica que trata das operações bélicas executadas por forças militares a serviço de uma entidade política.
Coisa de um tempo mais simples, nem por isso menos trágico, em que a guerra era algo declarado e assumido como tal, como foi a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) combatida contra uma das grandes pragas do século XX, o nazi-fascismo.
Nela, muitos brasileiros morreram, atingidos pelos traiçoeiros torpedeamentos e pelos projéteis alemães nos campos de batalha.
A erradicação da outra praga, o comunismo, custou a Guerra Fria (1947-1991), combatida em todos os recantos do mundo e que promoveu subversão, terrorismo, guerrilha e, por vezes, guerras envolvendo aparatos militares completos, à custa de muito sangue. De brasileiros também, vítimas de atentados, sequestros e guerrilhas urbanas e rurais.
Vencer o comunismo, no entanto, exigiu muito mais do que um conflito bélico, como fora a Segunda Guerra.
A Guerra Fria foi, acima de tudo, uma luta por corações e mentes contra o mal que se espraiou de diversas formas por todo o mundo.
Religião de intelectuais, o comunismo poluiu o século XX. Seus adeptos recrutados no meio acadêmico, artístico e cultural, estavam dispostos a tudo pelo triunfo da causa (Raymond Aron, “O Ópio do Intelectuais”).
E o seu centro de poder, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, depois de se desmoralizar com a revelação da selvageria estalinista, desesperada, como uma cópia pobre dos Estados Unidos, foi tentar se renovar em Cuba (Tony Judt, “Pensando o Século XX”).
Cuba foi o beco sem saída do socialismo científico. No entanto, antes que a sua falência econômica revelasse o fracasso do comunismo, ela foi o pivô da maior crise da Guerra Fria, em 1962, provocada pela instalação de mísseis soviéticos na ilha apontados para os Estados Unidos, e espalhou violência política pelas Américas com a resolução da Organização de Solidariedade Latino-Americana, em Cuba, em agosto de 1967, em prol da luta armada no continente.
E ainda há quem argumente que a luta armada no Brasil era pela democracia e contra o regime militar. E se JK fosse eleito presidente em 1965 - uma contrafactualidade de nossa História recente – dentro da lógica da Guerra Fria, não haveria luta armada no Brasil? Haja má fé intelectual!
O sangue do Brasil, derramado na defesa da liberdade, da democracia e da sua soberania, foi reconhecido na guerra travada contra o fascismo, mas não tem sido lembrado, como merece, na luta que o comunismo impôs ao País.
A tietagem de Fidel Castro pela imprensa é sórdida, mas é compreensível pela resiliente devoção de intelectuais sem causa mas sempre delirantes.
Mas a leniência do governo brasileiro com a ditadura cubana, reiterada pela patética manifestação sobre a morte do ditador é difícil de compreender, embora venha de longe.
Uma coisa foi a normalização, depois da Guerra Fria, das relações diplomáticas com países do bloco socialista, muito particularmente Cuba, situada neste Hemisfério.
Outra, muito diferente, foi o convite para Fidel participar seguidamente da posse de presidentes brasileiros.
Deixando ao largo a ideologia, por um mínimo de respeito ao Brasil, sem falar na questão moral, a afronta que a presença de Fidel Castro no País representou, ainda mais como convidado oficial do governo brasileiro em cerimônias oficiais, devia ter sido evitada.
Esqueceu-se, miseravelmente, que ele tinha nas mãos sangue do Brasil.
*FOTO: André Dusek|Estadão Conteúdo
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