Salvar a Venezuela
A figurante chavista, que não por acaso é a “presidenta” da Comisión de la Verdad, Justicia y Paz, conseguiu dar uma declaração ainda mais maluca do que a de persona non grata do embaixador brasileiro: volta Dilma!
Cansados e irritados com o desfile de iniquidades que domina o noticiário nacional, os brasileiros não se deram conta do grave acontecimento que atingiu o País na tarde de sábado, 23 de dezembro: a expulsão de seu embaixador em Caracas pelo regime de Nicolas Maduro.
Grave, sim. Coisa de outro mundo, de outra era, que não nos acontecia há século e meio, mas que serve para mostrar a que ponto chegou a ditadura venezuelana: à barbárie.
Não foi uma decisão do governo da Venezuela tomada no contexto de um conflito internacional por recursos naturais, fronteiras ou defesa da soberania, ou seja, por motivos que justificam a tomada dessa medida extrema por um Estado nacional.
Expulsar um embaixador é um agravo, ou desagravo, dependendo de quem tenha sido a iniciativa. É fechar a porta à negociação, ao bom senso e à moderação.
É colocar-se naquela zona opaca e perigosa para todos, exatamente aquela preferida pelos celerados da História.
A decisão venezuelana, que surpreendeu a todos, inclusive o Itamaraty, foi anunciada por Delcy Rodriguez, ex-chanceler e agora presidente da Assembleia Nacional Constituinte, uma representação de fachada através da qual Maduro raptou a democracia na Venezuela.
Foi um ato de propaganda ideológica de um regime brutal que deveria estar sendo condenando internacionalmente, mas que conta com o surpreendente silêncio de instituições e personalidades mundiais.
E que conta também, aí sem surpresa alguma, com a mudez da grande imprensa brasileira que oPTou por ignorar o assunto.
Afinal de contas, a figurante chavista, que não por acaso é a “presidenta” da Comisión de la Verdad, Justicia y Paz, conseguiu dar uma declaração ainda mais maluca do que a de persona non grata do embaixador brasileiro: volta Dilma!
O ato não foi isolado, mas decorrente de outros, gravíssimos para a Venezuela, contra os quais o governo brasileiro se posicionou: a supressão das prefeituras de Alto Apure e Caracas, que estavam em mãos oposicionistas, e a expulsão dos partidos políticos que boicotaram as últimas eleições.
Os chavistas expulsaram também o encarregado de negócios do Canadá, aquele vizinho do norte muito visível quando faz pirraça a Trump, mas é esquecido quando incomoda a esquerda.
Como se vê, ficou difícil para a imprensa do maistream fechar o pacote. É melhor repetir o duplipensar orweliano desse 1984 nos trópicos, deixando aos sites das patrulhas petista e psoleira a tarefa de vender aos incautos a receita boçal de como acabar com um país.
Com esses atos iníquos, o regime de Maduro, depois de cometer uma série de violências e abusos contra seu próprio povo, definitivamente lançou a Venezuela na barbárie.
Observadores privilegiados testemunham com preocupação a postura diplomática adotada hoje pela Venezuela, inclusive nos foros multilaterais, caracterizada pela linguagem agressiva da confrontação, do ataque e do quanto pior melhor.
É a negação pela Venezuela do diálogo, do entendimento e da busca de pontos em comum. É a opção de Maduro pelo isolamento que conspira contra a estabilidade regional.
E se a nota de solidariedade da chancelaria da Argentina ao corpo diplomático brasileiro dá a dimensão da gravidade do acontecimento, por outro lado, ela assinala a vitória do diálogo, do entendimento e da busca de pontos em comum na construção de um sistema interamericano comprometido com a paz, com a segurança e com o desenvolvimento regionais, distintamente do modelo de inspiração castrista que Cuba e seus prepostos tentaram impor à América do Sul, e que hoje se mostra falido, acima de tudo, do ponto de vista moral.
O Brasil e seus vizinhos são os maiores interessados em conter o desastre venezuelano. Da verdadeira solidariedade regional, deve emergir a resposta a esse desafio, antes que outros venham dá-la segundo seus próprios interesses.
FOTO: Roberto Stuckert Filho/Fotos Públicas/48a.Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, realizada em Brasília, em julho de 2015
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