Posição Facesp/ACSP: Preparar para o futuro
Mais uma vez, a história se repete. As atenções estão concentradas no ajuste fiscal. E as tímidas medidas de modernização- como a terceirização– arrastam-se num debate absolutamente distorcido
Nas últimas décadas, o Brasil passou por diversas crises, tanto provenientes do exterior como geradas internamente. Isso fez com que as atenções do governo, do Congresso e, mesmo, da sociedade, tenham se concentrado na solução dos problemas de curto prazo, sem medidas de maior profundidade. Limitou-se, assim, ao dia a dia e a providências específicas.
Com isso, persistem problema e situações: instituições que não atendem às necessidades da economia moderna e estrangulamento na infraestrutura, o que afeta negativamente as possibilidades do desenvolvimento brasileiro.
Infelizmente, mais uma vez, a história se repete. As atenções estão concentradas no ajuste fiscal. E as tímidas medidas de modernização - como a terceirização – arrastam-se num debate absolutamente distorcido, correndo-se o risco de a situação atual piorar.
Revendo as posições FACESP/ACSP do passado, encontramos o texto publicado no Diário do Comércio de 21/06/2001, que parece ter sido escrito para o momento presente. Diziam, então, as entidades:
“Questões importantes e urgentes vêm sendo postergadas, ou simplesmente abandonadas, por uma conjugação de visão imediatista e falta de projeto nacional, do que resulta a inserção do País no mundo globalizado como um agente passivo, sujeito aos impactos negativos da globalização, sem poder usufruir dos seus aspectos positivos.
Essa falta faz com que assuntos fundamentais para o presente e para o futuro, como a participação na Alca, por exemplo, sejam discutidos como se estivesse em jogo a criação de um entreposto comercial e não a construção de uma nação, que tem responsabilidades não apenas com seu povo, mas com o continente em que está inserida.
Elaborar um projeto de nação, resgatar o orgulho nacional, restaurar valores básicos da nacionalidade, reacen¬der a esperança no futuro e a confiança no presente são desafios que devem envolver todos os segmentos da sociedade em uma tarefa gigantesca, mas possível e necessária, que deve visar às próximas gerações.
Esse projeto deve envolver as reformas – política, tributária, da Previdência, do Judiciário, das relações trabalhistas – indispensáveis à modernização das instituições, para torná-las compatíveis com a realidade de uma economia aberta, inserida na globalização dos mercados. A redução da burocracia e o estímulo à iniciativa e à criatividade dos empresários devem ser complementados por um grande esforço de aprimoramento do sistema educacional e da formação da mão-de-obra, preparando o trabalhador brasileiro para a competição em mundo sem barreiras e em mudanças aceleradas.
O desenvolvimento e a incorporação de tecnologia em setores que permitam aumentar o valor adicionado das exportações e a redução das importações devem fazer parte de uma estratégia mais ampla de inserção ativa do País no cenário internacional, que lhe permita usufruir dos benefícios da globalização e não apenas oferecer seu amplo mercado interno para investimentos e produtos estrangeiros, sem contrapartidas compensatórias.
As negociações nos foros internacionais precisam ser consideradas como um assunto de interesse de toda a população, devendo envolver os diversos segmentos da sociedade e ser inse¬ridas no contexto de um projeto nacional, e não apenas considerada assunto de comércio, de competência exclusiva da burocracia governamental.
É urgente a realização de investimentos na infraestrutura, que se encontra fortemente deteriorada, para a redução do custo Brasil e para impedir que surjam novos pontos de estrangulamento da economia, como ocorre atualmente com a energia. Por fim, o restabelecimento da ordem, com a garantia da segurança pes¬soal e patrimonial, é condição fundamental para que o setor privado possa trabalhar para o desenvolvimento econômico e a coletividade, em conjunto com o governo, reduzir a miséria e a desigualdade social.
Tudo isso, porém, não pode resultar de ações isoladas e desarticuladas, mas de um grande projeto nacional, fruto do consenso e da mobilização da sociedade, e que os poderes constituídos aprendam com a livre iniciativa a cortar na própria carne seus custos e não a valer-se da elevação de impostos, que levam quase todos os segmentos sociais à marginalidade e à exclusão. Fundamental se torna, pois, que as reformas estruturais prometidas sejam efetivamente implementadas”.
A FACESP e a ACSP reiteram as posições apresentadas em 2001, com a expectativa de que o maior protagonismo do Congresso, as manifestações da população e a atuação do governo sejam canalizados para um grande esforço coletivo para elaboração de um projeto de futuro que, depois do ajuste, restabeleça a esperança e a confiança na capacidade do povo brasileiro de conduzir o país a um ciclo de desenvolvimento político, econômico e social sustentável.