A inflação pode ser vista como uma espécie de “imposto regressivo”, que “taxa” proporcionalmente mais aqueles que têm menor renda, ampliando a desigualdade entre a população
| Economista da ACSP e professor da FIA/USP e FIPE/USP; Doutor em Economia pela FEA/USP; Pós-Doutorando pela UCLA; ex-Consultor do Banco Mundial
“Inflação é a única forma de taxação que pode ser imposta sem legislação”
(Milton Friedman)
É fato sabido que a inflação penaliza relativamente mais as famílias de baixa renda, pois estas gastam grande parte de sua renda em itens básicos, tais como alimentação e habitação, e, portanto, ao “carregar” mais dinheiro em espécie, sentiriam com mais intensidade os aumentos de preços.
Seu menor acesso ao mercado de crédito e aos produtos financeiros também contribuiria para que elas sofram em maior medida a perda de poder aquisitivo, pelo fato de possuírem menor quantidade de ativos financeiros, que tendem a apresentar melhores mecanismos de correção monetária que os salários e transferências, base de sua renda.
Em outras palavras, a inflação pode ser vista como uma espécie de “imposto regressivo”, que “taxa” proporcionalmente mais aqueles que têm menor renda, ampliando a desigualdade de sua distribuição entre a população.
A redução das desigualdades sociais ocorrida após o Plano Real não somente se explica pela implementação de programas sociais e valorização do salário mínimo, mas, em grande medida pela redução do custo de vida.
Assim, estudo do economista Fábio Ferreira da Silva, demonstrou que, entre 1995 e 2008, no período, portanto, “Pós-Real” a inflação brasileira foi “pró-pobre”, no sentido de que o aumento dos preços dos bens e serviços de maior peso no orçamento dos mais pobres foi relativamente menor do que aqueles mais relevantes para as famílias mais abastadas.
A partir de 2009, no entanto, a inflação passou a ser “pró-rico”, pois houve maior crescimento dos itens relacionados a alimentação e habitação, que de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que mede a alta do custo de vida para famílias que recebem até 2,5 salários mínimos, correspondem a quase 70% de sua cesta básica.
Apesar da desaceleração dos aumentos de preços, registrada desde o começo do ano, causada pela forte recessão econômica e pela redução da taxa de câmbio, a inflação continua sendo “pró-rico”, pois os preços dos alimentos seguiram apresentando forte elevação, devido principalmente aos choques climáticos e à elevação dos preços internacionais, que também contribui para diminuir a oferta interna.
Assim, mesmo com a redução das tarifas elétricas, que impactam fortemente o custo da habitação, a inflação que afeta as famílias de menor renda continua superior à alta de preços geral.
A tendência para os próximos meses é de continuidade no arrefecimento dos aumentos de preços, o que também terminaria por reduzir a perda de poder aquisitivo dos mais necessitados, cuja situação melhoraria ainda mais se houver espaço para a redução dos juros básicos.
Publicidade
Publicidade
Receba as últimas notícias do Diário do Comércio diretamente no seu e-mail
Publicidade