O que fez o Brasil
O bicentenário da Independência pode vir a ser a recuperação da ideia de futuro para o Brasil
À medida que se aproxima o bicentenário da Independência, aumenta entre os brasileiros a expectativa de que não se repita o desastre das comemorações dos 500 anos do Descobrimento.
Omissões e intenções conduziram àquele fracasso, tanto de autoridades públicas que não cumpriram seu papel, como de grupos interessados na visibilidade que a comemoração poderia trazer às suas agendas.
Um desastre até certo ponto anunciado por décadas de descaso e manipulação da História do Brasil.
E temperado com uma boa dose de esnobismo que prioriza o olhar estrangeiro em detrimento do pensamento nacional sobre a construção multidimensional do País.
Abandonamos Varnhagen, Euclides da Cunha, Delgado de Carvalho, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Pedro Calmon, Meira Mattos, Therezinha de Castro e Roberto Campos.
E assumimos teses tão exógenas quanto exóticas sobre nós mesmos, como a do encontro melancólico de culturas em nossas origens (Claude Lévi-Strauss) ou a de não fazermos parte do Ocidente (Samuel Huntington), até chegarmos ao ponto de fazer do acrônimo criado por um banco de investimentos um projeto geopolítico reunindo países tão distantes quanto diferentes, em seus interesses e propósitos, como Brasil, Rússia, Índia e China.
Como prosaicamente se diz, quem não se explica é explicado. Pelos outros.
E como tal é usado. Pelos outros.
Abandonamos o sincretismo étnico-cultural de nossa formação e evolução histórica pelo segregacionismo racial transmutado nas ações afirmativas das cotas.
Abandonamos a visão de desenvolvimento integral de nossa sociedade pelo rentismo consumista e perdulário dos nossos recursos e inteligências.
Abandonamos o sonho de sermos uma economia cada vez mais baseada no conhecimento científico-tecnológico para nos conformarmos ao papel de exportador de commodities.
O bicentenário da Independência pode vir a ser a recuperação da ideia de futuro para o Brasil.
Mas teremos em 2022 o que escolhermos em 2018.
Mais do que um nome, uma ideia.
Orientada pelo interesse comum, em defesa da liberdade e em busca na prosperidade, os valores e compromissos que verdadeiramente fizeram o Brasil.
IMAGEM: Reprodução/Tela Colhedores de Café (1935) de Cândido Portinari
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