O fiel da governabilidade
Ao reiterar a confiança em Joaquim Levy, a sra. presidente deu um passo importante para criar um clima de confiança na economia
Leitor, intrigado, escreve e pergunta por que a agência de avaliação de risco Standard & Poors decidiu não rebaixar a nota de crédito do Brasil.
Recorde, nesse contexto, que recentemente outra agência de classificação de risco, a Moody's, baixou nossa classificação. Para essa última agência, o Brasil está agora a apenas a um degrau de perder o grau de investimento, tão duramente conquistado com o ajuste da economia pós-Plano Real.
Não é preciso, leitor, pesquisar muito: a resposta está no próprio relatório da Standard & Poors. Nele, a agência informa que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem credibilidade ná condução do necessário ajuste fiscal.
Diz mais, que, a manutenção da nota de risco do país depende da sua manutenção à frente do ministério da Fazenda. E que goze de apoio suficiente da senhora presidente e de seu partido para executar o seu trabalho.
Posso estar errado na interpretação das palavras da senhora presidente em defesa do ministro da Fazenda. Levy vinha sido alvo de intrigas que procuravam jogá-lo contra a primeira mandatária.
Ao sair em defesa do ministro, a presidente Dilma pode ter tomado uma das mais importantes decisões desse início de segundo mandato.
Se essa interpretação estiver correta, a senhora presidente afirmou de maneira categórica sua autoridade e sua determinação de levar adiante o ajuste da economia, doa a quem doer.
A base sindical de seu partido já vinha protestando, ainda sem maior estardalhaço, contra as medidas voltadas para o mau uso de instrumentos da legislação trabalhista. Provavelmente agora irão às ruas protestar.
Por motivos de natureza eleitoral, seu partido também se opõe ao ajuste fiscal.
As eleições municipais estão a caminho, e o partido já terá problemas de sobra para explicar aos eleitores como foi possível o escândalo e Petrobras e como não tem nada a ver com ele.
No entanto, por miopia, muitos não veem que ajustar a economia é o único caminho possível para poder mostrar resultados positivos lá na frente e salvar o partido do encolhimento.
Certamente levará tempo; certamente o PT perderá muito de seu apoio à medida que novos dados forem acrescentados aos já conhecidos; e é possível que novas manifestações de seus eleitores desiludidos encham as ruas.
É possível que alguém argumente que a senhora presidente esteja agora apenas pensando no seu legado e na sua biografia, já que não mais poderá candidatar-se em uma nova eleição em 2018.
Se assim for, qual o problema? Não é desejável que todos os presidentes pensem em seu legado desde o primeiro dia em que assumem o governo e fiquem de olho em sua biografia?
Não teria sido melhor se a senhora presidente não se tivesse deixado levar por maus conselheiros que lhe prometeram grandes resultados com uma política econômica totalmente equivocada? O ministro Joaquim Levy recebeu uma herança pesada com os erros da política econômica da administração anterior. Pela primeira vez em muitos e muitos anos obtivemos um saldo primário negativo. Sua meta de um saldo primário de 1.2% do PIB foi acrescida de 0,6 ponto percentual decorrente do déficit de 2014.
A geração de um superávit fiscal não decorre de uma preocupação acadêmica ou estética. É saldo primário positivo que assegura que a relação entre a dívida pública e o PIB não cresça de forma exponencial, tornando o país insolvente.
Um cálculo simples mostra que o saldo primário precisaria atingir pelo menos dois a três por cento do PIB para que a relação entre o endividamento e o PIB se mantivesse constante. A meta para 2015 está abaixo desse patamar para evitar-se efeitos negativos ainda maiores sobre o crescimento e o emprego.
O problema torna-se ainda mais fácil de lidar com a economia estagnada. Se a economia tivesse mantido o padrão de crescimento do período 1998-2010, o superávit primário necessário para garantir a solvência da economia brasileira seria menor.
Diante dos pífios resultados do crescimento econômico recente, especialmente em 2014, esse esforço torna-se maior.
É salutar sentir que a senhora presidente dá mostras de perceber a gravidade do problema com que convivemos na economia. É salutar verificar que ela sai em campo par defender seu ministro da Fazenda, de sua escolha pessoal e indicado para executar a política atual.
O que se deseja é que a presidente mantenha a atitude revelada essa semana. As críticas vão se avolumar, e o fiel da governabilidade é a própria senhora presidente.