O ex que não foi
É enganoso acreditar que, em que pesem acusações de imensa gravidade, Lula foi o melhor presidente do país
Cabe ao público realmente informado julgar a pesquisa que indica Luís Inácio Lula da Silva como o melhor presidente que o Brasil já teve, divulgada em uma notícia sobre a percepção dos brasileiros a respeito das suspeitas sobre as vantagens que ele teria auferido de empreiteiras no caso do sítio e do tríplex.
Exemplo de como usar dados aparentemente válidos para justificar um absurdo, a notícia deixou de lado os cuidados com público e objeto, e principalmente, as cautelas com conclusões tiradas de simplificações, para passar algo à opinião pública cujos verdadeiros objetivos e as intenções são difíceis de ocultar.
No que diz respeito à História, nestes momentos de crise, é melhor se orientar por aquela frase de Winston Churchill: “quanto mais você olhar para trás, melhor você verá à frente”. E aqui no Brasil não precisamos ir tão atrás para entendermos o que nos acontece. Basta lembrar o resultado das eleições de março de 1930, quando o candidato da situação Júlio Prestes venceu nacionalmente a eleição, não obstante ter recebido zero (isso mesmo, 0) votos no Rio Grande do Sul governado por Getúlio Vargas, que se levantaria em armas pouco depois.
Por um lado ou por outro, aquela República foi rejeitada pela sociedade que, depois da Revolução, criaria uma justiça eleitoral, exatamente como a que hoje espera que ela funcione para coibir a corrupção como instrumento de poder, não importa quantas amantes sejam trazidas à baila.
Isto sim, a rejeição da corrupção eleitoral e administrativa, é que deveria instruir pesquisas decentes que levassem a conclusões úteis e prospectivas prudentes, do tipo, o que está aí não se sustenta. E, quem sabe, melhor: o que devemos fazer para isso não se repetir.
Costuma-se vincular a percentagem surpreendente de brasileiros que acredita ter sido Lula o melhor presidente que o País já teve (37%) ao contingente de beneficiados pelos programas sociais do PT. Pode ser.
Para confirmar isso, seria necessária outra pesquisa, mas para constatar que isso está errado não é preciso pesquisa nenhuma, só de fatos e acontecimentos apreciados honestamente.
Presidentes são melhores ou piores, quanto mais se afasta o olhar da História, na medida em que suas decisões deixam posteridades mais ou menos felizes aos povos que governaram.
Por qualquer ângulo, isso não pode se aplicar aos governos do PT, cedo marcados pela corrupção, como os dois mandatos de Lula, e como tal estigmatizados na gestão de Dilma Rousseff, cujos programas nestes treze anos foram objeto de profundas críticas quanto à sua insustentabilidade e, logo se veria, criminosa irresponsabilidade.
Getúlio Vargas não passou à História pelo “mar de lama” que atingiu o Catete, mas como o presidente que criou o BNDE e a Petrobras. Nem Juscelino Kubistchek, que deixou apenas um apartamento a dona Sara, é lembrado pelos brasileiros por ter contribuído para uma grande crise financeira, mas sim como o presidente que deu início à industrialização do País e construiu Brasília.
Castello Branco, não fosse o patrulhamento ideológico, seria reconhecido como o presidente responsável, dentre outras coisas, pela criação do FGTS e do Banco Central. Por sinal, BNDE e Petrobrás que o PT desvirtuou; industrialização que o PT implodiu; e FGTS e Banco Central que o PT quer controlar para seus fins.
O PT inverteu o lema de JK com uma conta esquisita: sessenta anos em treze, para trás.
E Lula? O que foi então? Depois de arruinada a nova classe média que enganou, nem “pai dos pobres” ele foi, pois para tanto teríamos que nos transformar em uma Argentina que não se livrou até hoje do peronismo, cuja grande façanha foi empobrecê-la.
Questionado, ele diz que não foi o responsável pelo mensalão; que não foi o grande traficante de influência das grandes empreiteiras; que não foi dono de sítio em Atibaia ou de tríplex no Guarujá. Essas e outras questões colocadas a Lula só deixam evidente o que ele não foi: um bom presidente para o Brasil.
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