Mais um ponto
Para o Brasil, a Venezuela não é apenas um vizinho. Ela é um problema que pode trazer problemas ainda maiores
Não está claro para nós brasileiros como a crise da Venezuela afeta o Brasil.
Do ponto de vista da opinião pública, o calote venezuelano está contabilizado na rubrica da corrupção petista, a entrada de refugiados ainda parece um problema distante e o bolivarianismo quixotesco é mais um combustor do bate-boca nas redes sociais.
Já o governo exibe uma constrangedora hesitação face à bomba que está armada em nossa fronteira norte. O rastilho está acesso e a nossa diplomacia espera que ele se apague por milagre.
Parece que todo mundo se recusa a sentir o cheiro da pólvora.
No entanto, basta relacionar os países que apoiaram a eleição farsesca de Maduro para concluir que a Guerra Fria, aquela que não foi tão “Fria”, voltou, jogada com sofisticadas peças políticas, econômicas e psicológicas.
E, como na sua versão original, com a América do Sul em seu mapa.
A exemplo do que aconteceu em outros conflitos, em particular na Segunda Guerra Mundial, durante a qual o Brasil desempenhou um papel de suma relevância para evitar que a guerra chegasse à América do Sul.
Hoje, em mais um momento de crise, as agendas dos dois grandes atores históricos do Hemisfério Ocidental, Brasil e Estados Unidos, têm que confluir em uma solução substantiva para a região.
Ambos cometeram erros grosseiros em relação à Venezuela.
Os Estados Unidos erraram ao apoiar o golpe em 2002 que só serviu para fortalecer Chavez. O Brasil errou ao apoiar e financiar Chavez, fortalecendo-o ainda mais.
Os Estados Unidos continuam a errar priorizando a solução de força. O Brasil insiste no erro de não exercer o softpower que dispõe para influir no fim do regime de Maduro.
O que Estados Unidos e Brasil devem fazer urgentemente é deixar bem claro o que é a Venezuela, tanto para um quanto para o outro.
Para os Estados Unidos ela não pode ser apenas uma casa no tabuleiro mundial. A crise venezuelana pode bater às portas das casas norte-americanas, como mais um catalisador da questão migratória.
Isso sem falar no que russos e chineses podem fazer com ela.
Quiçá, uma Síria tropical de outras origens, pelos motivos de sempre: poder.
Uma situação que o Brasil tem que levar a sério, não só no tocante à sua relação com os Estados Unidos, mas principalmente no que diz respeito à sua própria segurança.
Para o Brasil, a Venezuela não é apenas um vizinho. Ela é um problema que pode trazer problemas ainda maiores.
Os cálculos de poder mundial passam longe de Brasília, mas é em Brasília que se delibera o verdadeiro interesse nacional.
Se não é, deveria ser.
Mais um ponto a ser ampla e profundamente debatido nessa eleição de 2018.
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