Lições da crise
A descoberta dos desmandos do governo do PT, que atendem também pelo eufemismo de alopradices, criaram uma crise política junto com a crise econômica que vinha sendo gestada desde 2010
A senhora presidente fez uma repentina descoberta dos "equívocos" da política econômica de seu primeiro mandato. E voltou a apontar o mau cenário econômico como responsável por pelo menos uma parte do mau desempenho da economia.
Não há dúvidas na cabeça de ninguém de que os ventos que sopram da China e, por extensão, da economia mundial mudaram de direção. Quando sopravam de maneira favorável produziram os bons resultados colhidos no primeiro governo Lula. Sem eles, não teria havido um único ano de bom desempenho econômico em todo o período dos governos do PT.
Os ventos agora mudaram. Na verdade, já vinham mudando faz tempo, e os claros sinais da mudança de direção foram ignorados na condução da política econômica nos últimos cinco anos.
Diante da eleição que se avizinhava, expandiu-se celeremente o gasto público. A expansão do crédito tornou-se também descontrolada. Ignorou-se solenemente que há limites à capacidade de fazer crescer a economia por meio de crédito mais farto e barato e despesa pública aquecida. Faltou a confiança empresarial para que investimentos produtivos sejam realizados e promovam o crescimento real da economia.
Detectado que esse esforço não só havia sido em vão como havia exacerbado a herança maldita que havia deixado para si mesma, a senhora presidente repete o que havia dado errado em sua gestão anterior. Voltou a jorrar o crédito subsidiado a setores econômicos selecionados, como se a má experiência anterior de nada tenha servido para orientar a política atual.
O pior é que, tendo iniciado um programa de ajuste, merecedor de todos os encômios, agora promove uma contradição com a difícil decisão anterior. Porque ajuste e expansão do crédito subsidiado não combinam.
Da mesma forma, retornou também a retórica dos "choques externos". É certo que desta vez os efeitos dos ventos que sopram da China serão piores que os que atingiram a economia brasileira no primeiro mandato da senhora presidente. Mas não se deve culpar novamente o mundo por uma combinação deletéria de fatores desestabilizadores da economia que foram produzidos aqui mesmo.
Não tenhamos ilusões. A descoberta dos desmandos do governo do PT, que atendem também pelo eufemismo de alopradices, criaram uma crise política junto com a crise econômica que vinha sendo gestada desde 2010.
Trata-se de situação única em nossa história republicana. Já tivemos diversas crises políticas sérias no passado, nenhuma delas acoplada a uma crise econômica. Da mesma forma, passamos por situações de grave crise econômica, como ocorreu no final do governo do presidente José Sarney, sem que chegássemos sequer próximo de uma crise institucional.
O que teria a crise política a ver com a crise grega ou com a queda da bolsa de Xangai? O que poderia ter a desaceleração. Do crescimento na China com a decisão de contornar por "pedaladas" a Lei de Responsabilidade Fiscal e expandir de forma desmesurada o gasto público?
A crise externa já vem afetando todas as economias exportadoras de commodities. Padecem o Brasil pela queda dos preços do minério de ferro e da soja, entre outros, mas também as desenvolvidas Austrália e Nova Zelândia, grandes exportadores que são de alimentos.
Padecem mais ainda as economias que dependem muito das exportações de um único produto primário, especialmente se esse produto é o petróleo. A bonança dos preços acima dos 100 dólares por barril evaporou. Tudo indica que essas economias vão conviver por um longo período com preços em torno ou abaixo de 40 dólares.
Esse é o caso dos países do Golfo e da Arábia Saudita, mas torna-se crítico para Venezuela e Nigéria. Para esses países as consequências dos preços baixos se refletirão no acirramento de problemas sociais, que se tornarão agudos no futuro próximo.
Para nós, a atual fase do ciclo da economia mundial fecha a única saída para a sustentação do crescimento pelas exportações. Sem crescimento e na perspectiva de perdermos o grau de investimento, estaremos a caminho de um prolongado período recessivo. Para o qual em nada de positivo contribuirá o iminente início do ciclo de elevação das taxas de juros nos Estados Unidos.
Há alguma lição a tirar de tudo isso? Claro, há várias, duas das quais essenciais. Primeiro, em seguida a um sincero e amplo reconhecimento dos erros cometidos, um comprometimento irrestrito com o programa de ajuste. Segundo, reconhecer que as crises têm origem interna e só marginalmente ampliadas pelo cenário internacional adverso. Será somente o começo, mas na direção correta.