Enquanto isso, em Beijing....
Governo chinês conquista novo espaço diplomático com reunião da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico)
Depois de ocupar o segundo posto de maior economia do mundo, a China agora se volta de forma crescente a afirmar-se política e diplomaticamente. Um bom exemplo disso foi o seu desempenho na recente reunião da Apec – sigla em inglês para a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, realizada em Beijing.
Para início de conversa, Beijing não poupou recursos para o sucesso do encontro. Estima-se que o total de gastos com os preparativos da reunião foi de seis bilhões de dólares. O tráfego foi limitado na capital, e fábricas fechadas para que desaparecesse, durante a reunião, a densa camada de poluição que cobre a cidade.
Mais importante, a agenda da reunião foi determinada pelo presidente Xi Jinping, enfatizando a cooperação com os demais países, em termos chineses. Essa agenda foi de maior sucesso com a Rússia, quer pelo maior alinhamento geopolítico dos dois países, quer pelo fato de que Moscou se encontra no momento em desvantagem face a Beijing – decorrente das sanções do Ocidente ao país. Por outro lado, os chineses se ressentem das críticas norte-americanas à sua política, em particular o que entendem ser o objetivo de contenção do país em sua abertura política ao exterior.
A visita também rendeu dividendos ao presidente Putin. Entre os diversos acordos comerciais firmados na visita, ressalta a construção de um novo gasoduto entre a Rússia e a China. Juntamente com um acordo firmado anteriormente entre o governo chinês e a empresa russa Gazprom, os dois gasodutos tornarão a China o maior consumidor do gás da Rússia – tornando, assim, a China o maior parceiro comercial de Moscou.
No emaranhado de símbolos da geopolítica internacional, os acordos firmados entre Vladimir Putin e Xi Jinping mostraram ao presidente Obama – presente no encontro – que a China não é parte da política de contenção da Rússia, centrada nos Estados Unidos e seus aliados na Europa Ocidental.
Como já disse alguém, não há almoço grátis. Para os russos, ter a China como principal parceiro na compra de seu gás tem como contrapartida preços mais convidativos para o parceiro chinês.
Tudo isso, sem comprometer os interesses dos investidores americanos e europeus na indústria chinesa. Mais importante, o acordo bilateral China-Estados Unidos na área de informática permitirá a expansão dos investimentos das empresas americanas desse setor em solo chinês.
Finalmente, e de quebra, os Estados Unidos e a China firmaram um acordo histórico para cortar as emissões de gases de efeito estufa a um nível menor de 26% a 28% relativamente a 2005 até o ano 2025. Por sua vez, o presidente Xi Jinping anunciou metas de emissão de CO2, cujo pico deverá ocorrer por volta de 2030 ou, se possível, em data anterior. Finalmente, anunciou também a meta de aumento da proporção de combustíveis de origem não fóssil para cerca de 20% até 2030.
O acordo e as metas são importantes porque China e Estados Unidos, juntos, são responsáveis por mais de um terço das emissões de gases de efeito estufa. Culminando meses de negociações, desenha-se assim um papel crítico para a cooperação entre a China e os Estados Unidos na questão das mudanças climáticas.
Do encontro de Xi Jinping com o primeiro ministro Shinzo Abe, do Japão, resultou a manifestação clara de que ambos não pretendem escalar o recente conflito em torno das ilhas Senkaku, como as denominam os japoneses, ou Diaoyu, como as chamam os chineses. Trata-se de um conflito a respeito de soberania, já que as ilhas são desabitadas e não oferecem maior interesse do ponto de vista estratégico.
A despeito de divergirem com relação às causas do conflito em torno das ilhas, ambas as partes optaram por manter um clima de “business as usual” – de evitar marolas – com relação aos demais temas do relacionamento bilateral, especialmente com respeito à estreita relação econômica entre os dois países. Novamente, um sucesso para Xi, dada a importância que o Japão tem para a economia chinesa.
Finalmente, o anúncio de uma área de livre comércio da região da Ásia-Pacífico corresponde à resposta chinesa à parceira transpacífico, a mega área de livre comércio liderada pelos Estados Unidos com o apoio do Japão. Corretamente, a China interpreta essa iniciativa como uma tentativa de contenção de suas aspirações na arena internacional. Talvez a nova área de livre comércio não produza efeitos, nem a curto, nem no médio prazo.
Mas os chineses não raciocinam com horizontes tão curtos. O futuro dirá se estão certos ou não. Pelo conjunto da obra, por outro lado, a reunião em Beijing produziu apenas pontos para Xi Jinping.