Nos anos 30, quando países capitalistas e periféricos tiveram sua economia abalada pela Grande Depressão, a URSS – fora da integração mundial pelo comércio e isolada numa economia autárquica – implementava seus Planos Quinquenais. Buscava alcançar estágios mais avançados da industrialização e expandir a agricultura.
A Rússia imperial já era um país que se industrializava e o planejamento centralizado deu grande impulso à indústria pesada.
O planejamento soviético tornou-se notável no momento em que as economias capitalistas industriais estavam mergulhadas na maior crise econômica e de desemprego da História.
O nazi-fascismo também flertou com o planejamento para atender à idolatria pelo Estado forte, casada com a obsessão alemã pela “ordem” num mundo conturbado pela Depressão. Na Itália, o flerte atendeu à necessidade de superar sua sempre presente vocação anárquica.
O esforço de guerra propiciou forte recuperação econômica das economias capitalistas. O mesmo ocorreu na economia soviética.
Mas o pragmatismo no planejamento das ações de governo, associado à mobilização popular neste esforço, tornou patente a pujança da recuperação americana.
No pós-guerra, as debilitadas economias da Europa ocidental contaram com o apoio do Plano Marshall para sua reconstrução, mas sentiram-se atraídas pelo planejamento centralizado. A França, com forte presença estatal e tradição burocrática, foi a matriz inspiradora para o planejamento no Brasil.
O mundo do pós-guerra teve longo período de prosperidade contínua, com as economias capitalistas navegando na corrente do comércio mundial, integração econômica, declínio dos nacionalismos e na incrível diversificação da indústria.
O planejamento foi adquirindo uma característica diferente: a de priorizar objetivos estratégicos, especializações produtivas e inserção nas cadeias de produção e comércio mundiais. Não se tratava mais de perseguir metas quantitativas, proteger a indústria e dar “grandes saltos”.
O nome do jogo passou a ser competitividade, capacidade de gerar conhecimento, tecnologia e inovação. O planejamento centralizado não era mais compatível com a flexibilidade exigida pela dinâmica da economia. Prova disso foi a derrocada da URSS e de seus satélites.
Países presos ao planejamento como algo impositivo e autoritário – desprezando a evolução do mercado e os anseios da sociedade – ficaram para trás.
Mas o que dizer da China? Embora centralizado, o planejamento chinês percorreu o caminho inverso ao soviético, que sepultou a Nova Política Econômica dos anos 20 em favor do centralismo totalitário do stalinismo.
Após a Revolução Cultural e o fechamento da economia, a China optou pela inserção ativa na globalização e atrelou-se ao capitalismo avançado. Reuniu o melhor dos mundos (para os dirigentes comunistas, claro): regime político totalitário, de pensamento único, com regime econômico flexível e de pensamento múltiplo. Uma “elite esclarecida” governa mais conectada ao mundo que a soviética.
A milenar tradição despótica encontrou-se com um mundo em transformação tecnológica, econômica e de estilos de vida, sem que (por enquanto) o poder se coloque em risco.
O conceito de planejamento hoje é, portanto, radicalmente diferente. Prevalece a necessidade de visualizar cenários, formular estratégias e prospectar oportunidades.
O foco é formular, saber coordenar e dar consistência a políticas, objetivos e ações, assim como buscar novas especializações e inserções no mundo.
Uma visão forçosamente multidisciplinar e dinâmica deve estar presente em qualquer nível de planejamento, do macroeconômico ao urbano.
No Brasil, o agronegócio e poucos ramos da indústria têm forte presença global e caminham por si. Para o resto, o planejamento não é pragmático como meio de formular estratégias de presença global e maior inserção nos fluxos mundiais de produção e comércio.
Estamos ainda longe de evoluir para formas mais modernas e menos burocráticas de planejamento.