Desafios e esperanças para 2015
A prioridade é conter os gastos públicos e restabelecer a confiança dos agentes econômicos na contabilidade governamental
Depois de um 2014 muito difícil, com baixo crescimento e inflação elevada, desarranjo das contas públicas, deterioração do setor externo, distorções das tarifas dos serviços, instabilidade cambial, e escândalos político-policiais, o Brasil inicia em primeiro de janeiro, um novo período de governo. Embora a presidente Dilma tenha sido reeleita, não poderá continuar com a mesma política econômica de seu primeiro mandato, porque as distorções provocadas na economia vão exigir ajustes e correções para que o país possa superar seus problemas urgentes e se preparar para a retomada do crescimento. A indicação da equipe econômica, com perfil totalmente contrário à anterior parece sinalizar a intenção de atacar os problemas herdados do governo anterior.
Os desafios a serem enfrentados são muitos e bastante complexos, agravados em muitos casos pela deterioração do cenário externo. O mais importante desses desafios é o de conter os gastos públicos, e restabelecer a confiança dos agentes econômicos na contabilidade governamental, mediante um programa crível e transparente, mesmo que gradativo, do controle das finanças públicas. Sem o restabelecimento da confiança não se conseguirá avançar nos demais ajustes e na retomada dos investimentos, e o país correrá o risco de uma grave recessão. Além do mais, sem a ajuda da política fiscal, a tarefa de controlar a inflação exigirá maior rigor do Banco Central com as taxas de juros, o que agravará o quadro já previsto de baixo crescimento da economia. O desafio de ajustar o setor externo será mais difícil devido à queda dos preços das “commodities”, que são os principais produtos exportados pelo Brasil, o que exigirá a desvalorização do Real apesar de seu impacto sobre a inflação. Mesmo com todos os esforços e com as políticas fiscal e monetária na direção correta, a “ inflação corretiva” de preços e tarifas resultará em patamar ainda bastante elevado, mas facilitará a queda da taxa inflacionária em um segundo momento.
O processo de ajuste não será indolor, resultando em baixo crescimento da economia, com seus inevitáveis reflexos negativos sobre o emprego e a renda. Para o comércio varejista as perspectivas para 2015 são de desempenho bastante modesto, com maior cautela do consumidor para se endividar, devido aos juros já elevados e, provavelmente, em alta. Na hipótese mais otimista, um crescimento em torno de 2,0% sobre o movimento deste ano, não se podendo descartar a possibilidade de nível de vendas do comércio se mantenha estabilizado em relação ao patamar atual ou, mesmo, em caso de desemprego, registre comportamento negativo. Algumas regiões e setores, no entanto, poderão continuar a apresentar crescimento, embora mais lento do que o de 2014.
A esperança que devemos manter em relação à 2015, é a de que, além dos ajustes e correções necessários, o governo aproveite o ano para destravar a economia, reduzindo a burocracia e o intervencionismo, simplificando a tributação, criando condições para o setor privado investir na infraestrutura, aprimorando o ensino, e dando maior segurança ao direito de propriedade, principalmente na área rural.
Com isso, os agentes econômicos, apesar do cenário de uma ano difícil, terão horizonte para investir, pois, especialmente na infraestrutura, o que mais importa são as perspectivas de médio e longo prazos Os desafios são muito grandes, mas devemos manter a esperança, combinada contudo com a necessária vigilância, para que os ajustes do setor público não se façam às custas dos contribuintes.
Frente ao cenário esperado para 2015, os empresários deverão ser “ pessimista na análise e otimistas nas ações”, não se deixando dominar pelo medo das dificuldades, lembrando sempre que elas oferecem também oportunidades.
Feliz Ano Novo.