Corrigir os erros, é só querermos
Em 2015, a correção dos saldos do FGTS, de propriedade dos trabalhadores, será de 3% no ano. A inflação do ano encontra-se em torno de 9%. Isso quer dizer que o patrimônio do trabalhador está sendo garfado em 6% somente esse ano
É revoltante a direção em que a discussão da correção do FGTS dos trabalhadores está tomando, especialmente com a decisão do governo de dar créditos subsidiados a diversos setores industriais que atravessam dificuldades em decorrência do programa de ajustamento em vigor.
Um pouco de matemática, com o perdão do leitor, é necessário. Pelas regras atuais, o saldo dos depósitos do FGTS é corrigido por uma taxa de juros de 3% ao ano.
No Congresso Nacional, discute-se uma proposta de correção os saldos do FGTS dos trabalhadores pela remuneração das cadernetas de poupança, a partir de 2019. O que pretende o Congresso Nacional? Trazer mais gente para protestar nas ruas contra o governo como um todo, o Congresso aí incluído? Ou será que acham que somos todos otários e não sabemos fazer conta?
Vamos a elas. Em 2015, a correção dos saldos do FGTS, de propriedade dos trabalhadores, será de 3% no ano. A inflação do ano encontra-se em torno de 9% nos últimos 12 meses. Isso quer dizer que o patrimônio do trabalhador está sendo garfado em 6% somente esse ano.
Se o leitor trabalhador tem um saldo no FGTS de R$ 10.000,00, seu poder de compra terá sido reduzido em R$ 600,00, somente esse ano. Algo similar ocorrerá em 2016, 2017 e 2018.
O que ocorrerá em 2019? De acordo com o projeto de lei, a partir de 2019, a correção se dará pela mesma remuneração das cadernetas de poupança. Será isso um refresco para os detentores do FGTS?
Desculpe, leitor, para alertá-lo para a realidade. Em sã consciência, o leitor acha que sairá ganhando? Vamos a outros números para mostrar que infelizmente estamos sendo garfados de maneira vil.
O Tesouro Nacional está vendendo seus títulos com uma rentabilidade nominal e 14,5% ao ano. Os principais compradores desses títulos são os bancos e os fundos, de pensão e outros.
Cá entre nós, não é estranho que o Tesouro Nacional pague 14,5% ao ano -equivalente mais de 5% a0 ano acima da inflação – e paguem aos legítimos proprietários das contas de FGTS inflação, menos 5%?
Onde está o Partido dos Trabalhadores, que não se manifesta contra tamanha inequidade contra os trabalhadores? E a oposição? O que fará o Congresso Nacional diante de tamanho desatino? Ninguém representa os trabalhadores brasileiros perante o governo?
Essa tunga precisa ter um paradeiro. Se ninguém se dispuser defender os trabalhadores, será surpresa se forem às ruas protestar contra esse esbulho?
O governo como um todo, através de Legislativo, do Executivo e do Judiciário – que se cala diante do esbulho – são parte desse assalto à poupança dos trabalhadores. É preciso que as forças vivas da nação se oponham a esse novo assalto.
No interregno, caminhamos para uma situação de crescentes dificuldades no cenário econômico. Previsões, que alguns consideram otimistas, apontam para taxas de crescimento negativas do PIB em 2015 e 2016.
Alguns veem a economia em recessão até meados de 2017.
Todos os cenários mostram a inflação acima da meta, pelo menos até 2017. Todos também mostram que a dívida pública, como proporção do PIB, continuará crescendo pelo menos até 2017. No cenário mais otimista, atingirá 71% do PIB em 2017.
Não há qualquer indicação que o saldo das contas públicas -, que realmente interessa, o déficit nominal que engloba todas as receitas e despesas do setor público consolidado -, cairá de nos próximos três anos.
Em suma: estaremos fadados a um novo período de crescimento nulo no que resta do mandato da senhora presidente, com a inflação alta e alto desemprego?
Quando se esperava da senhora presidente que respondesse ao clamor das ruas com reformas que repusessem a economia em seu leito de crescimento sustentado, a política econômica retorna à retórica fracassada dos subsídios da matriz econômica que nos colocou no atual imbróglio. Não se aprendeu nada com o fracasso dessa estratégia?
Às vezes nos sentimos desanimados com o andar da carruagem. Mas o Brasil é maior que os erros de seus governantes e já vimos esses erros no passado. Eles retardam nosso crescimento, mas, nas urnas, corrigimos esses erros: 2016 e 2018 estão aí à frente. É só querermos.