As novas não são boas, e as boas não são novas
A maioria dos economistas acredita que teremos um longo período de estagnação pela frente. Dessa vez, uma verdadeira herança maldita?
O Banco Central divulgou em seu Relatório de Inflação suas projeções para as principais variáveis da economia. O quadro pintado por essas projeções não é animador.
Parece realista a projeção de que a inflação chegará a 9% em 2015. O valor está próximo da expectativa do mercado revelada pela pesquisa Focus, do Banco Central, situada em 8,97%. Já para 2016, o BC parece mais otimista que o mercado, projetando o primeiro 4,8% e o segundo, 5%. Não chega a ser uma diferença tão grande assim.
O que explicaria essa queda tão acentuada da inflação de um ano para o outro? Em parte, a ocorrência de uma inflação corretiva nos preços administrados ocorrida no primeiro trimestre.
Como se sabe, os preços dos combustíveis, energia elétrica e transporte coletivo foram represados em 2014 com o objetivo de apresentar aos eleitores um quadro econômico melhor que o real.
O preço desse congelamento parcial de preços está sendo pago agora. O problema é que a alta desses preços administrados, cuja necessária correção ocorreu de forma concentrada no tempo, espalhou a inflação para muitos outros preços na economia.
É possível que esse processo continue ainda ao longo de 2015, já que a existência de contratos que somente podem ser corrigidos a cada 360 dias. Exemplo típico são os contratos de aluguel que têm o IGP-M como indexador. Mas essas correções não se limitam aos aluguéis; outros preços continuarão a ser reajustados ao longo do ano.
A alta dos preços vem provocando a alta da taxa Selic do Banco Central. Há quatro semanas, o mercado esperava que ela chegasse a 13,75% em dezembro. No curto lapso de um mês, essa expectativa saltou para 14,25%. O BC é mais modesto em sua expectativa para a Selic no fim do ano: 13,75%.
Sejam 13,75% ou 14,25%, a taxa real de juros é impressionante em face de suas congêneres no restante do mundo: trata-se de uma expectativa de uma taxa de juros, descontada a inflação, de 4,3% na visão do BC ou de 4,8% na visão do mercado.
Com taxas de juros dessa magnitude, não deverá surpreender que o consumidor se retrairá na compra de bens duráveis, do aparelho de TV ao automóvel, passando pela máquina de lavar roupa.
Também o investimento continuará se retraindo. O mercado projeta uma queda na formação bruta de capital fixo de 7% esse ano, após uma queda de 4,4% no ano passado. Nos dois anos, o investimento se retrairá em quase 12%.
Não é de surpreender que, com o investimento em queda livre, padeça a produção industrial. Ela já havia decrescido 1,2% em 2014 e agora se estima nova queda, de 4%.
Refletindo essa queda no investimento e na atividade econômica em geral, as importações, que haviam decrescido 1% em 2014, deverão agora encolher mais de 10%. Comparemos no exterior menos máquinas e equipamentos e insumos para a indústria e o agronegócio.
Em paralelo à queda nas importações, o dano causado pela retração econômica não poupará as exportações. Estas já haviam se reduzido em 1% em 2014, e agora se projeta nova queda, 6,5%.
As causas desse provável desempenho são conhecidas. De um lado, a desaceleração da economia chinesa, compradora de 18% das exportações brasileiras. As exportações brasileiras para a China já caíram 28% no período compreendido entre janeiro e abril desse ano.
Da mesma forma, os problemas econômicos e políticos na vizinha Argentina, nosso terceiro mercado de destinação das exportações, já mostra retração de 16% nas vendas no mesmo período. Entre os 10 principais mercados de destinação de nossas exportações, não há um sequer com taxa positiva de crescimento.
Com exportações e importações em queda acentuada, mais pronunciada no caso das importações que das exportações, a balança comercial brasileira poderá apresentar um melhor resultado em 2015.
As projeções das principais consultorias econômicas são muito discrepantes com respeito tanto aos números de exportação como de importação. Em decorrência, há projeções para o saldo da balança comercial para todos os gostos, variando de um déficit de US$4,4 bilhões a um superávit de US$ 8,1 bilhões.
Por fim, é de ressaltar que há menos variabilidade nas projeções das principais consultorias com relação à taxa de câmbio em dezembro de 2015, situadas entre R$ 2,75/US$ a R$ 3,20/US$.
Por tudo o que foi descrito anteriormente, não há como deixar de concluir que as novas não são boas e as boas não são novas.
Pela mesma razão, a maioria dos economistas profissionais acredita que teremos um longo período de estagnação pela frente. Dessa vez, uma verdadeira herança maldita?