Ainda os atentados em Paris
Do ponto de vista econômico, os efeitos parecem pequenos, diante da gravidade das consequências sociais e políticas do ocorrido em Paris
Leitora escreve e pergunta: os atentados terroristas na França poderão lançar o mundo em uma nova recessão? Antes de responder, leitora, preciso fazer uma digressão.
Os gregos denominavam gnose o conhecimento; a mera opinião era denominada pela palavra dóxa. Para ser franco, leitora, não tenho gnose do que vai ocorrer. Mas tenho dóxa a respeito.
Opinar não significa um jogo de cara ou coroa. Geralmente, formamos nossa opinião com base do conhecimento pregresso e acumulado ao longo de nossas vidas. Portanto, no dia-a-dia, a linha que separa entre os dois conceitos não é tão rígida.
Dito isso, sou de opinião de que não há uma relação de causa e efeito entre os atentados e o desempenho da economia mundial. Efeitos localizados, no entanto, serão observados, particularmente na França e também em outros lugares.
O efeito principal já ocorreu: as perdas de vidas. A elas se somam o choque, o horror e o medo do futuro.
Para a população francesa, o trauma decorrente do sentimento de insegurança provocado pela brutalidade dos atos gratuitos. Ainda estão na memória de todos os europeus os ataques terroristas de 2001 em Nova Iorque e 2005 em Londres.
Mas essas cidades, como provavelmente Paris, demonstraram grande resiliência aos ataques. Elas conseguiram recuperar-se de atos de terrorismo com uma velocidade e um vigor surpreendentes.
Embora Paris ainda estivesse se recuperando dos ataques ao Paris Hebdo, minha opinião é que os terroristas não vão “derrotar Paris”. Assim foi com Nova Iorque e Londres.
A segunda consequência será a restrição à liberdade de ir e vir na França. As fronteiras foram fechadas e, quando reabertas, a entrada e saída no país serão retardadas.
Foi isso que ocorreu no Estado Unidos após os atentados de 11 de setembro. Todos os passageiros e suas bagagens serão revistados e a simples vigilância constrangerá todos os que querem ou precisam visitar o país.
Do ponto de vista político e econômico, as questões mais imediatas são de natureza política e dizem respeito, primeiro, ao envolvimento militar francês no Médio Oriente e, segundo, aos impactos dos atos terroristas nas eleições regionais do próximo mês.
Do ponto de vista militar, a França lançou os primeiros ataques aéreos sobre jihadistas na Síria em setembro e está envolvida nos bombardeios aéreos sobre o grupo no Iraque há meses.
Mais recentemente, a força aérea francesa lançou diversos ataques com objetivo petrolíferos controlados pelo Estado Islâmico. Com isso se pretende cortar uma fonte importante de financiamento desse grupo terrorista.
Do ponto de vista político, as pesquisas de intenção de voto sugerem que Marine Le Pen, líder da Frente Nacional de extrema-direita, poderá ganhar na região do Nord-Pas-de-Calais; a que sua sobrinha, Marion Maréchal-Le Pen, poderá vencer na região da Provence, no Sul.
A Frente Nacional, que tem uma longa história de hostilidade em relação à imigração muçulmana e que tem advogado a restauração dos controlos de fronteira, pode beneficiar no rescaldo dos atentados.
É bom lembrar que os atentados em Paris ocorreram quando a Europa enfrenta uma crise de imigrantes.
Do ponto de vista econômico, os efeitos parecem pequenos, diante da gravidade das consequências sociais e políticas do ocorrido em Paris.
Sofrerão os que dependem, na França, da entrada de turistas no país. Sofrerá também o comércio, pelas mesmas razões. Possivelmente aumentarão as despesas militares, não somente na França, mas também nos países ocidentais envolvidos com o combate ao Estado Islâmico.
Isso ocorrerá certamente se ficar evidenciado os laços dos terroristas mortos com grupos terroristas operando no Iraque e na Síria.
Se é verdade que o aumento de despesas militares poderá causar aumentos de gastos dos governos, não necessariamente esse aumento terá efeitos econômicos adversos. Poderá até ter o resultado contrário, estimulando a economia.
De qualquer forma, são de segunda ordem de magnitude econômica e altamente improváveis as sequelas econômicos dos atentados, leitora. Fique descansada.
Se o mundo está crescendo abaixo das expectativas de muitos, já o faz há algum tempo, antes dos atentados terroristas em Paris.