A tribo a ignorar
A liberdade deve ser defendida de seus muitos inimigos no Brasil, amorais e imorais, mas ainda poderosos e resilientes, principalmente na tribo mais numerosa da classe política brasileira
Romper o círculo vicioso de escândalos e polêmicas do cotidiano nacional ajudaria os brasileiros a enfrentar os desafios da luta contra a corrupção e da próxima eleição que irá definir muito mais do que o presidente da República.
Uma oportunidade para tanto se ofereceu com a entrevista do escritor peruano e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2010 Mario Vargas Llosa à revista The Economist sobre seu novo livro “La Llamada de la Tribu”.
Por ela se percebe a grande dificuldade contemporânea em explicar o liberalismo: a falta de liberais com práticas e convicções liberais.
E do mal que aflige o liberalismo: a proliferação de falsos liberais, aqui e no mundo.
Liberalismo é a História das liberdades. Da liberdade contra a opressão, da liberdade de participação política, da liberdade de consciência e da liberdade de auto-realização, uma luta que vem de tempos imemoriais até os nossos dias.
Uma história tão simples quão grandiosa, escrita por cada povo ao longo de sua evolução, onde nada está determinado, com avanços e recuos. Uma história sem fim julgada unicamente pela consecução do seu fim: a liberdade.
Liberdade sem adjetivações, por certo. Não há liberdade onde se a adjetiva, seja lá com que termo: política, econômica, etc.
No dizer de David Hume, a única liberdade que existe, a que se opõe à coação.
Por que a liberdade é constituída no Estado democrático de direito, que somos todos nós, e que não prescinde do consenso ativo de seus cidadãos, nas palavras de Bobbio, já mencionadas neste espaço.
Liberdade que deve ser defendida de seus muitos inimigos no Brasil, amorais e imorais, mas ainda poderosos e resilientes, ocultos em muitas formas, principalmente na tribo mais numerosa da classe política brasileira, a dos falsos liberais que, no dizer de Roberto Campos, falam em liberdade política mas engendram intervenções econômicas em qualquer das vertentes que já nos levaram ao desastre mais de uma vez: a assistencialista, a nacionalista, a protecionista e a corporativista.
Em meio à gritaria do momento nacional, dessa tribo é que não temos mais nada a ouvir.
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